The Echo Chamber (2021) de John Boyne
Sinopse: Que maravilha é um telemóvel. Cem gramas de metal, vidro e plástico, transformados um objeto elegante, brilhante e precioso. Ao mesmo tempo, uma porta de entrada para outros mundos - e uma arma traiçoeira nas mãos dos incautos, dos inconscientes, dos ineptos.
A família Cleverley vive uma vida dourada, pouco percebendo quão precário é o seu privilégio, a apenas um tweet de distância do desastre. George, o patriarca, é um robusto entrevistador da televisão, um "tesouro nacional" (as suas palavras), a sua esposa Beverley, um célebre romancista (embora não tão célebre como ela gostaria), e os seus filhos, Nelson, Elizabeth, Aquiles, vários graus de catástrofe à espera de acontecer.
Juntos irão numa viagem de descoberta através da selva Hogarthian da vida moderna, onde as presunções do passado não contam para nada e reputações cuidadosamente curadas podem ser destruídas num instante. Pelo caminho aprenderão quão volátil, quão indignado, quão imperdoável o mundo pode ser quando se sai do caminho proscrito.
Impulsionada pelo humor característico de John Boyne e pela observação afiada, A Câmara Ecológica é um abrigo satírico, uma espiral vertiginosa de ação e consequência, posicionada algures entre a farsa, o absurdo e o esquecimento. Errar é talvez ser humano, mas para se errar realmente só é preciso um telefone.
Parece que este John Boyne é um tipo muito conhecido mas, francamente, nunca tinha ouvido falar nele e, se não fosse oleitorconstante, provavelmente este livro ter-me-ia passado completamente ao lado. Andava eu a fazer uma ronda pelos stories, quando vi uma publicação dele onde descrevia The Echo Chamber como « uma sátira social sobre o cancel culture ». Ora estando eu farta até ao âmago do meu ser de todas estas pseudo-tretas dos ativistas de sofá que acham que ativismo é mudar a foto de perfil do facebook, soube logo que este era um daqueles livros que não podia deixar de ler. E digo-vos uma coisa: 0 arrependimento.
Como sabem, gosto muito de distopias. Já por uma ou outra vez a leitura me levou para cenários onde se exploram os efeitos nefastos da tecnologia nas nossas vidas. Mas sempre numa perspetiva em que a tecnologia quase que subjuga a vontade humana. Em The Echo Chamber é mais ou menos explorado o mesmo problema mas, numa outra vertente: de que modo é que a estupidez humana, aliada a esta poderosa ferramenta que é o telemóvel, está a deteriorar a forma como vivemos e, aos poucos, a tornar muita gente numa espécie de esponja que absorve tudo o que lê sem nunca questionar nada, e sem ter o mínimo espírito crítico. Dou como exemplo o facto de existir a Flat Earth Society. Andavam os nossos antepassados a achar que por esta altura teríamos carros voadores e afinal há quem ande a discutir se a terra é ou não redonda.
Sabemos que nos últimos anos têm surgido uma série de movimentos sociais e há quem se identifique com todos eles e seus opostos, dependendo do que causar mais engagement. Umas afirmações marcantes aqui, umas fotos acolá, e todos se acham os maiores SJW de que há memória, mesmo que às vezes defendam comportamentos que são o oposto da ideologia que também defendem. Lá está: engolem tudo o que lhes metem pela frente. E se alguém tenta usar da razão, arrisca-se a ser logo classificado de homofóbico, racista, xenófobo, machista e por aí fora.
0 comments