O Deus das Moscas (1954) de William Golding

by - março 24, 2018

O Deus das Moscas
★★☆☆☆
Sinopse:
Um avião despenha-se numa ilha deserta, e os únicos sobreviventes são um grupo de rapazes. Inicialmente, desfrutando da liberdade total e festejando a ausência de adultos, unem forças, cooperando na procura de alimentos, na construção de abrigos e na manutenção de sinais de fogo. Porém, à medida que o frágil sentido de ordem dos jovens começa a fraquejar, também os seus medos começam a tomar sinistras e primitivas formas. De repente, o mundo dos jogos, dos trabalhos de casa e dos livros de aventuras perde-se no tempo. Agora, os rapazes confrontam-se com uma realidade muito mais urgente - a sobrevivência - e com o aparecimento de um ser terrível que lhes assombra os sonhos.


Opinião [contém spoilers]:
Publicado em 1954 e vencedor do Prémio Nobel em 1983, O Deus das Moscas é considerada a melhor obra de William Golding mas, não foi livro do qual tivesse gostado particularmente.


Narra a história de um grupo de rapazes cujo avião em que seguiam se despenha numa ilha situada no Pacífico. Se alguma vez chegará ajuda ? Não têm como saber ...

" - Como é que ele sabe que nós estamos aqui ? 
Porque, pensava Rafael, porque, porque ... O estoiro vindo da restinga distanciava-se cada vez mais.
- Hão-de dizer-lhe no aeroporto.
O Bucha abanou a cabeça, pôs os óculos brilhantes e olhou para Rafael a seus pés.
- Quem? Não ouviste o que o piloto disse acerca da bomba atómica? Estão todos mortos."


O Deus das Moscas
Lord of the Flies (1963)

Temos assim como ponto de partida uma ilha deserta onde não há "gente crescida" um grupo de rapazes com idades compreendidas entre os seis e os doze anos que terá de encontrar forma de sobreviver. 

Este livro é entendido por muitos como sendo um conto alegórico acerca do conflito entre a civilização e a selvajaria, tendo como objectivo demonstrar como o ser humano pode tão facilmente passar de um estado ao outro, se tal se proporcionar, e é precisamente isso que acontece no livro.

O Deus das Moscas começa apenas com duas personagens: Ralph, "um rapazinho espigadote, doze anos e alguns meses" e Piggy, "um estranho, um forasteiro, não só pelo sotaque, que não importava, senão ainda pela gordura, a asma, os óculos e uma certa desinclinação para o trabalho manual", aos quais se vão juntando outros, entre os quais Jack Merridew, "alto, magro e ossudo, e tinha o cabelo ruivo sob o boné preto". 

Rapidamente emergem os primeiros conflitos entre aquelas que se tornarão as personagens centrais, Ralph e Jack Merridew, na medida em que cada um deles tem uma visão distinta sobre as prioridades. Enquanto que o primeiro considera que o mais importante será manter aceso "um fogo para dar sinal", para  o segundo isso é "uma irrelevância" dado que o que realmente importa é obter carne e, para tal, devem dar prioridade às caçadas. Começamos aqui a ter os primeiros indícios daquilo que, na minha opinião, constitui a força motriz da acção que é o medir de forças entre estas duas personagens: " - Que é melhor: ter um regulamento e chegar a acordo, ou andar a caçar e a matar?"


O Deus das Moscas
Ralph e Jack Merridew
Lord of the Flies (1990)

E é isto. 
Uns querem manter a fogueira acesa para o caso de aparecer um barco.
Os outros querem andar a correr pela floresta a caçar porcos.
Fogueira. Porcos. Fogueira. Porcos.
E ninguém se entende. 
E ninguém percebe que têm de comer e manter a fogueira acesa.
Mas, bom, estamos a falar de crianças entre os seis e os doze anos.


Aquilo que me parece que choca algumas pessoas, pelo menos com base em alguns comentários que li, é a escalada de violência e crueldade que se vai desenvolvendo ao longo do livro. Se as personagens fossem adultas, já se esperavam ataques à facção inimiga e tentativas de subjugar o inimigo pelo meio da força mas ... estamos a falar de crianças e as crianças são inocentes e sem malícia, não é ? Não neste livro e acredito que, quando foi publicado tenha causado (como acontece hoje em dia com a maioria das coisas) "indignação" mas, actualmente, somos de tal forma bombardeados diariamente com casos de violência que o impacto nunca poderia ser o mesmo. 

Por outro lado, o conceito de que somos todos selvagens por baixo desta fachada de sobriedade e civismo, também já não é novidade. Lá está: talvez quando foi publicado tenha sido surgido como um conceito inovador mas hoje em dia, como já estamos mais familiarizados com a ideia (veja-se por exemplo, o Stanford Prison Experiment, o Ensaio Sobre a Cegueira, o The Divide ou The Belko Experiment) o impacto que tem não é o mesmo que em 1954.


Naturalmente que, dependendo da abordagem que façamos do livro, ele pode ser mais ou menos interessante. Se o virmos como um livro sobre um grupo de crianças numa ilha, pouco há a dizer. Podemos no entanto tentar uma outra abordagem, e encará-lo como o conflito entre diferentes formas de liderança (democrático versus autoritário) e em como o civismo e respeito pelo outro pode tão facilmente desaparecer se as condições foram as adequadas...


Pessoalmente foi um livro que não me convenceu, sobretudo porque não consegui desenvolver uma ligação com nenhuma das personagens, e isso para mim, é um dos aspectos fundamentais quando leio um livro. Não deixa, ainda assim de ser um livro que explora a natureza humana numa perspectiva interessante.


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