Murder in Amityville (1979) de Hans Holzer

by - maio 13, 2020

★★☆☆☆
Sinopse:
« The story of the Lutz family was told in the book and the movie "The Amityville Horror". They fled from their home on Ocean Avenue one night in terror, convinced the house was possessed by unseakably evil forces.

The Lutzes escaled with their lives. The previous tenants of the house did not.

In November 1974, the DeFeo family was living in the house on Ocean Avenue. One night, Ronald DeFeo Jr., the eldest of the five DeFeo children, saw a hand draped in black reach out to him and head a voice. The voice said, 'Kill'.

Ronald took a riffle and cold-bloodedly murdered the six members of his family.

Was Ronald DeFeo, Jr. possessed?
Why were none of the victims awakened by the first shots?
Were the shots silenced by some unseen force?

FINALLY!
MURDER IN AMITYVILLE!
THE WHOLE HORRIFYING STORY! »

Fonte: Holzer, Hanz. Murder in Amityville. London, Futura Publishers (1981)

Opinião:
Murder in Amityville (1979) faz parte do lote de livros que comprei na minha primeira visita à Bookshop Bivar em Arroios. Não era um livro do qual eu fosse à procura mas, lá estava ele na sala dos livros em desconto, com uma capa apelativa e com a promessa de revelar a verdadeira história do que se passou em Amityville. Quem é que consegue resistir a uma promessa dessas?


Mas as expectativas saíram falhadas e, se há coisa que o livro não faz, é explicar o que se passou. Aliás, quando comecei a ler fiquei na dúvida se seria uma obra de terror e estava à espera da altura em que começariam a aparecer os espíritos maléficos. A realidade foi bem pior do que isso...

Mas, antes de avançarmos, há alguns aspectos que é importante esclarecer: a história de Amityville, quem é Hanz Holzer e de que forma é que os dois se cruzam.

  

A história do que se passou no número 112 da Ocean Avenue foi imortalizada no livro The Amityville Horror: A True Story (1977), que por sua vez deu origem a duas adaptações, uma em 1979 e outra em 2005. Em ambas, a história é essencialmente a mesma: uma família muda-se para uma casa onde foi cometido um massacre e, pouco depois, começam a ser atormentados por forças demoníacas. 

A parte do massacre é verdadeira e teve lugar na noite de 13 de Novembro de 1974, em Amityville. Seis membros da família DeFeo foram mortos em casa, com uma espingarda Marlin 336c de calibre 0.35. Entre as vítimas estavam Ronald (43 anos) e Louise (42 anos), e os quatro filhos do casal: Dawn (18 anos), Alison (13 anos), Marc (12 anos) e John (9 anos). Todos foram mortos enquanto dormiam, e o filho mais velho, Ronald DeFeo Jr. (ou "Butch", como gostava de ser tratado) com então 23 anos, acusado das mortes e condenado, em 21 de Novembro de 1975, a seis penas consecutivas de 25 anos.

A família DeFeo (John, Alison, Marc, Dawn e Ronald)

Cerca de um ano após a condenação de Ronald DeFeo, a casa foi vendida a George e Kathleen Lutz que se mudaram para lá com os seus três filhos. Ao fim de 28 dias abandonaram a casa deixando tudo para trás. O motivo? Estavam a ser vítimas de forças demoníacas que, acreditavam ser a causa de uma série de eventos sobrenaturais como odores estranhos pela casa, o aparecimento de uma substância gelatinosa nos tapetes, o aparecimento de um rosto demoníaco com olhos vermelhos... Essencialmente, tudo aquilo que já conhecemos dos filmes.

Lorraine e Ed Warren

Vários intrujões - quero dizer, vários "investigadores do paranormal" - foram chamados à casa em Fevereiro de 1976. Entre eles, o já então famoso casal Warren, pioneiro na exploração do reino do sobrenatural e fundador da New England Society for Psychic Research. Claro que todos eles confirmaram a existência de uma presença demoníaca, tendo ainda havido quem defendesse que a casa estava construída em cima de um antigo cemitério índio, ou que o terreno tinha sido amaldiçoado por uma bruxa que fugiu de Salem. Nenhuma destes investigadores conseguiu no entanto fornecer quaisquer evidências que sustentassem as suas afirmações.

Mas isto ainda fica mais interessante... 

Em 1971 foi publicado « O Exorcista » que vendeu qualquer coisa como 13 milhões de cópias. Dois anos depois, em 1973, o livro foi adaptado para o cinema e, mais uma vez, um sucesso. Podemos então concluir que nessa altura o tema da possessão demoníaca estava bastante na moda, ou pelo menos na mente de muita gente. 

Em 1974, apenas um ano depois da estreia do filme O ExorcistaButch DeFeo mata toda a família com a caçadeira. Durante o julgamento, o seu advogado, William Weber, tentou alegar insanidade e o próprio DeFeo disse ter ouvido vozes e que, na noite do massacre, estava a ser controlado por algum tipo de força exterior. Em 1975 DeFeo é condenado e a casa vendida aos Lutz que contam uma série de histórias de assombrações... Coincidência? 



Mais tarde, seria o próprio Weber quem viria a revelar que a história relatada pelos Lutz tinha sido inventada pelos três, depois de umas quantas garrafas de vinho. Nessa altura, o advogado de defesa de DeFeo tinha vários contratos em aberto com escritores interessados em relatar a história do seu cliente quando foi contactado pelos Lutz. A história que estes contavam e que foi sendo enriquecida com detalhes criativos parecia ter potencial e apresentava uma grande vantagem: permitir-lhe-ia usar a possessão como uma via para conseguir um novo julgamento para o seu cliente, durante o qual esperava vir a provar que matara a família por estar possuído por uma força demoníaca.


A família Lutz

Parece no entanto que os Lutz não ficaram satisfeitos com o negócio proposto por Weber, sobretudo porque apenas receberiam cerca de 15% dos lucros que resultassem do livro. Assim, optaram por pegar na sua história e ir ter com Jay Anson cujo livro « The Amytiville Horror » (1977) se tornou imediatamente um best-seller, e deu origem a uma adaptação que se tornou num sucesso de bilheteira, arrecadando mais de 80 milhões de dólares. Os Lutz, esses, partiram numa digressão mundial a fim de promover a veracidade dos eventos do livro e assim ganhar ainda mais dinheiro com a sua trágica história.

Não deixa de ser curioso o facto de os Lutz nunca terem chegado a pagar a hipoteca da casa, alegadamente por terem saído de lá tão cedo... Portanto, a única coisa que é preciso é ter um excelente timing, sangue frio suficiente para se mudar para uma casa onde ocorreu um massacre, aguentar-se durante o tempo necessário para se poder alegar ser algo de forças demoníacas mas não o tempo suficiente para se entrar em incumprimento por não pagar a hipoteca e... voilá



Mas apesar da parceria com os Lutz não ter corrido bem, o advogado de defesa de DeFeo não desiste da ideia da possessão e é aqui que entra Hans Holzer, autor do livro que é alvo desta review. Holzer era... uma fraude (parece que a maior tragédia em Amityville era a rapidez com que os intrujões se multiplicavam) que se auto-intitulava como professor de psicologia paranormal, caçador de fantasmas e um acérrimo defensor da vida depois da morte.

Em 1977, Holzer visitou o número 112 da Ocean Avenue com uma medium que terá entrado em transe e falado com o espírito de um chefe índio, responsável pela possessão de DeFeo. O chefe índio, que a medium descreve apenas como tendo muitas penas na cabeça, diz ter sido sepultado por baixo da casa e que o seu crânio teria sido roubado há muitos anos atrás por um rapaz que depois o usou para brincar. E o que é o chefe índio faz? Possui DeFeo e leva-o a matar toda a família! Sim, faz todo o sentido. E ainda faz mais sentido quando as evidências demonstram não existir, nem nunca ter existido qualquer cemitério índio por baixo da casa, nem sequer nas imediações de Amityville.


Ronald DeFeo Jr.

A 27 de Junho de 1979 Hans Holzer teve ainda a oportunidade de entrevistar DeFeo, que nessa altura se encontrava já a cumprir a sua sentença. O que resultou dessa entrevista foi uma tentativa despudorada de manipular completamente as respostas, de modo a obter o resultado pretendido...



« DeFeo: I'll be honest with you. I never heard any voices. The voices I heard and told you about in the house - the screaming and stuff.
Hanz Holzer: Did you ever hear a voice telling you to do certain things?
DeFeo: Me? No.
Hanz Holzer: Nobody told you to kill. No one ever told you anything like that. Because that is in the -
DeFeo: I know, it's in the testimony.
Hanz Holzer: Why is it in the testimony?
DeFeo: Because I tried to convince the psychiatrist that I was insane.
Hanz Holzer: You're not insane?
DeFeo: I don't feel I am.
Hanz Holzer: Why did you fell that talking about a voice...
DeFeo: I had to convince the pshychiatrist I was crazy before  could go before the court and convince a jury.
Hanz Holzer: But saying that you heard voices does't prove insanity.
DeFeo: No, it isn't, but I felt it was »

E depois desta conversa toda, o que é que Holzer lhe pergunta? Se ele sentia que, na noite dos homicídios estava a agir sob a influência de uma força invisível! Depois do DeFeo acabar de lhe dizer que a história das vozes tinha sido inventada para alegar insanidade, ele volta ao ataque com a eventual possessão demoíaca. Como é que é sequer possível que investigadores do paranormal fossem sequer autorizados a entrevistar detidos? Como é que um advogado podia considerar alegar que o cliente estava possuído


Agora que já conhecemos a história e já conhecemos o autor, vamos ao livro! Murder in Amityville (1979) não é mais do que o fruto da investigação de Hans Holzer que, segundo o próprio, se manteve durante muito tempo na prateleira devido a um « sensational new book written by a gentleman until then known primarily for documentaries who had never written a book before », referindo-se claramente ao livro de Jay Anson.

O livro é essencialmente composto por transcrições dos depoimentos feitos durante o julgamento, ao longo dos quais o autor vai incluindo informação adicional, fruto da investigação que levou a cabo e que, segundo ele, prova de forma irrefutável que a casa onde ocorreu o massacre estaria assombrada. Parece que, para Holzer, o simples facto de ele próprio considerar que determinado evento é verdadeiro faz dele uma prova irrefutável...

Se Murder in Amityville (1979) se apresentasse como um livro de ficção, provavelmente não seria tão crítica. O problema aqui é que o autor quer que o livro seja visto como um trabalho sério de investigação, sem fornecer no entanto qualquer evidência científica para nenhuma das afirmações apresentadas e se há coisa que me tira do sério são trapaceiros.

Mas também há dois aspectos positivos nisto tudo. O primeiro é que aprendi imenso acerca do que se passou em Amityville porque, quando comecei a ler o livro, não estava a perceber se era ficção ou não e tive de ir investigar. O segundo lado positivo é que ler Murder in Amityville (1979) é quase como viajar para trás do tempo e voltar à época em que a parapsicologia era levada a sério, com investigadores do paranormal a participarem em investigações como se fossem investigadores a sério. Hilariante!

Assim sendo, diria que o Murder in Amityville (1979) é um trabalho de investigação mas onde o conceito de investigação está algo distorcido. Se tiverem curiosidade em explorar um pouco mais acerca dos crimes ocorridos em Amityville e ler alguns depoimentos, é um livro que pode ser de algum interesse. Mas, se aquilo que procuram é algum terror, passem ao próximo!


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