22/11/63 (2011) de Stephen King

by - maio 25, 2018


Comprar 22/11/63 Stephen King
★★★★☆
Sinopse:
Dallas, 22/11/63: Três tiros são disparados.
O presidente John F. Kennedy está morto. 

Quando o seu amigo lhe propõe que atravesse um túnel do tempo para regressar ao passado com uma missão especial, Jake fica completamente arrebatado. A ideia é impedir que Oswald mate o presidente Kennedy. Jake regressa a uma América apaixonante e começa uma nova vida no tempo de Elvis, dos grandes automóveis e gente a fumar.

O curso da História está prestes a mudar...


Opinião: 
22/11/63 conta-nos a história de Jake Epping, um professor de Inglês da Lisbon High School que irá fazer uma viagem até 1958, e lá permanecer até 1963 com o objectivo de impedir o assassinato de John F. Kennedy.

Tudo começa no final do último dia de aulas. Jake Epping está sentado na sala dos professores a ler uma pilha de trabalhos antes de dar o ano lectivo por encerrado quando recebe uma chamada de Al Templeton, o proprietário e gerente do Al's Dinner, uma casa de hamburguers onde todos os professores se recusam a ir, apesar dos preços serem bastante baixos...

"Bom, claro que não é realmente de gato, diriam as pessoas, ou provavelmente não é de gato, mas se custa um dólar e dezanove, não pode ser de vaca."
22/11/63

Ao lá chegar, Jake Epping depara-se com um Al gravemente doente, de faces flácidas e pálidas.

22/11/63 Stephen King

"A parte impossível era que, nas vinte e duas horas transcorridas desde a última vez que o vira, Al Templeton parecia ter perdido pelo menos quinze quilos. Talvez vinte, o que representaria um quarto do seu anterior peso corporal. Ninguém perde quinze ou vinte quilos em menos de um dia, ninguém."
22/11/63


O que Al tinha para lhe propor era, como o próprio dizia,"o último pedido de um moribundo" e consistia em Jake regressar a 1963 para impedir o assassinato de John F. Kennedy e, teoricamente, a série de eventos que nunca teriam ocorrido caso ele não tivesse morrido, entre os quais os assassinatos de Robert F. Kennedy e de Martin Luther King.

Para tal, bastaria que entrasse no que Al chamava de "rabbit hole", situado nada mais, nada menos, do que na despensa do restaurante.

"   Fiz o que ele me pedia, sentindo-me o maior idiota do mundo. Um passo... baixando a cabeça para evitar roçar no tecto de alumínio..., dois passos..., agora agachando-me ligeiramente. Mais alguns passos e teria de ajoelhar-me, coisa que não estava disposto a fazer, fosse ou não aquele o último pedido de um moribundo.
   - Al, isto é uma estupidez. A não ser que queiras que te traga uma caixa de salada de frutas enlatada ou alguns destes pacotes de gelatina, aqui não há nada que ...
   Foi então que o meu pé desceu, como quando baixamos um degrau. Só que o meu pé continuava firmemente no chão de linóleo cinzento escuro. Conseguia vê-lo."
22/11/63

voilá! Tão simples como isto e Jake está em 1958. Mais precisamente no dia 9 de Setembro de 1958.


"Dois minutos. Já te disse, dura sempre dois minutos. Independentemente do tempo que passares lá. E quando desces os degraus, são sempre 11h58 da manhã no dia 9 de Setembro de 1958."
22/11/63


Passado o choque inicial, Jake fica a saber que também Al tinha tentado cumprir essa missão de impedir o assassinato de John F. Kennedy mas que o facto de ter sido apanhado pela doença não lho permitiu. Não podemos aqui esquecer que, a passagem pelo rabbit hole leva-o sempre a 1958 e o assassinato só viria a acontecer dali a cinco anos... No entanto, Al tinha desenvolvido as suas próprias teorias e vigiado Lee Harvey Oswald para ter a certeza sobre se seria realmente ele o atirador mas, as suas investigações revelaram-se inconclusivas, impedindo-o de tomar qualquer iniciativa "Porque estar convencido a 95% não é o mesmo que estar 100% convencido." 

Caberá então a Jake Epping fazer aquilo que estiver ao seu alcance para obter os 5% de certeza que faltavam e impedir o atirador de cumprir o seu objectivo.



Bom, pessoalmente gostei bastante da premissa: viajar no tempo para impedir um acontecimento. Ainda que, com base nos livros e filmes que já vi e que envolvem viagens no tempo, pensei logo que isto poderia não dar bom resultado devido ao famoso efeito borboleta. As próprias personagens mencionam isso mas, ainda assim, assumem esta missão de mudar um acontecimento tão significativo para ver o que acontece a seguir, com o argumento de que, se correr mal, basta sair do rabbit hole e voltar a entrar porque, cada viagem é um recomeço (Really?!).

Esta incongruência foi o que mais me chateou no livro.
Então, se cada viagem é a primeira e se, supostamente, para desfazer o que foi feito basta sair do rabbit hole e voltar a entrar, porque é que não deram logo um tiro ao Oswald ? Se ele só embarcou para a União Soviética em 1959, podiam tê-lo morto logo em 1958 e depois sair do rabbit hole para ver se o Keneddy tinha sido assassinado na mesma ou não. Se o assassinato tivesse ocorrido, então isso significaria que não teria sido o Oswald. Voltava-se a 1958, e começava-se tudo de novo porque, segundo Al e Jake "cada vez é a primeira vez". Será uma solução demasiado simplista ?

Por outro lado, Jake Epping mal conhecia Al Templeton ... Ainda assim, aceita regressar a 1958, para completar a missão desta pessoa que mal conhece só porque é "o último pedido de um moribundo" como se fosse a coisa mais natural do mundo... 
"Leva-me a ver o mar" seria um pedido razoável.
"Gostava de comer um entrecosto antes de morrer" também seria razoável.
"Viaja no tempo e evita a morte do Kennedy". Bom... 

Ainda assim lá vai ele.


Incongruências à parte, e apesar de ser a segunda vez que li o livro, gostei bastante. 

É certo que os pontos altos são, como é de imaginar, a possibilidade de se viajar no tempo e todas as questões que isso gera, e a tentativa de impedir o assassinato mas, grande parte do livro não se centra numa coisa nem noutra, mas sim na vida dupla de Jake Epping, que em 1958 se passará a chamar George Amberson. Embora muitos dos leitores que não gostaram do livro critiquem precisamente este aspecto, pessoalmente não o vejo como algo negativo. Na prática, aquilo a que assistimos é de que forma uma pessoa com uma missão como a que Jake tem, tenta levar uma vida "normal", sabendo de antemão o que vai acontecer, sabendo que "o passado é inflexível e não quer ser mudado" e procurando ainda assim integrar-se num mundo e num tempo que não é o dele. Ainda assim compreendo as críticas negativas porque, se uma pessoa pega no livro a pensar que tem pela frente 900 páginas de pura adrenalina, pode ficar um bocado desiludida com a lamechice que às vezes há pelo meio.


Outro ponto alto, na minha opinião, é a mistura de universos literários do Stephen King (que pelos vistos, é frequente encontrar nos seus livros). Imaginem vocês que um dos locais onde Jake Epping/George Amberson passa na sua viagem a 1958 é nada mais, nada menos, do que Derry (algo que me passou completamente ao lado na primeira leitura do 22/11/63).

E para aqueles de vós que não se recordam, Derry é o cenário de IT, considerado por alguns um dos melhores livros de Stephen King, adaptado para televisão em 1990 e para cinema em 2017.

Jake Epping irá então cruzar-se com duas das personagens deste outro universo: (*Bip *Bip) Richie e Beverly.


" -Imaginem que eu vos dizia, apenas hipoteticamente, que ainda há uma coisa má no horizonte? Algo como o que aconteceu ao menino chamado Dorsey Corcoran.
Eles fizeram uma careta, como se eu os tivesse beliscado numa zona onde os nervos estão à flor da pela. Beverly voltou-se para Richie e sussurou-lhe algo ao ouvido. Não tenho bem a certeza do que ela disse, foi muito rápido e baixo, mas pode ter sido Aquilo não foi o palhaço. Depois voltou-se para mim."
22/11/63

E a referência a IT melhora ainda mais quando, umas páginas mais à frente, Pennywise tenta fazer mais uma vítima: Jake Epping.



" Entra e vem ver, parecia sussurrar esse algo na minha cabeça. Não te importes com o resto, Jake. Entra e vem ver. Vem visitar-me. Aqui dentro o tempo não importa; aqui, o tempo flutua. Sabes que queres fazê-lo, sabes que és curioso. Pode ser outra toca de coelho. Outro portal."
22/11/63

Dito isto, e de uma forma geral, gostei bastante do livro.

Stephen King é conhecido por ser um excelente contador de histórias e apesar de achar que os finais são sempre bastante precipitados (Nem reparei que o deadline para entregar o manuscrito terminava hoje! Bem, vou pôr aqui... hum... "morreram todos em profunda agonia. THE END") o caminho até lá chegar costuma ser bastante emocionante. 22/11/63 não é excepção.

Não esperem no entanto 900 páginas da mais pura acção pois, como referi, grande parte do livro é Jake Epping a tentar levar uma vida normal. 

Ainda assim, é um livro que me conseguiu prender do início ao fim por duas vezes.

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1 comments

  1. Apesar de ser de Stephen King, nunca me suscitou grande intersse... até agora! Afinal não é como eu pensava...

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