Carbono Alterado (2002) de Richard Morgan

by - maio 15, 2018

Carbono Alterado
★★★☆☆
Sinopse:
Uma mistura violenta e frenética de William Gibson, cinema japonês, policial negro e Blade Runner.
No século XXV a Humanidade espalhou-se pela galáxia. A segregação por raça, religião e classe ainda existe, mas os avanços tecnológicos redefiniram a vida tal como a conhecemos: agora os humanos têm um stack no cérebro onde a consciência é armazenada, podendo ser facilmente descarregada para um novo corpo e fazendo da morte um mero piscar num ecrã.

O antigo militar Takeshi Kovacs já morreu várias vezes, mas a última foi particularmente dolorosa. Desta feita é chamado de volta à Terra e atirado para uma conspiração viciosa, mesmo para os padrões de uma sociedade onde até a existência pode ser comprada e vendida.

Num mundo onde a tecnologia oferece o que a religião apenas promete, onde os interrogatórios em realidade virtual significam que se pode ser torturado até à morte (e depois recomeçar de novo), e onde existe um mercado negro de corpos, Kovacs sabe que a última bala que lhe desfez o peito é apenas o começo dos seus problemas.



Opinião:
Carbono Alterado é o primeiro livro de Richard Morgan, vencedor do Philip K. Dick Ward em 2003, e também o primeiro da série Takeshi Kovacs (#1 Altered Carbon, #2 Broken Angels, #3 Woken Furies).

Normalmente, no que diz respeito a livros, considero-me uma pessoa relativamente eclética.  Isto se excluirmos os romances melodramáticos, livros de auto ajuda e aqueles em tom paternalista que nos querem dizer como viver a nossa vida de uma maneira melhor: como comer melhor, como dormir melhor, como falar melhor, como &%#*@ melhor... Bom, para esse tipo de livros não tenho paciência. Isto tudo para dizer que não tenho propriamente um conhecimento aprofundado sobre literatura de ficção científica e ignorava por completo Richard Morgan até descobrir, quando vi o Carbono Alterado na Netflix, que a série era baseada num dos seus livros.

Não vou dizer que a culpa é do livro. Nada disso! Assumo inteira responsabilidade pelo fiasco literário.

O problema é que quando uma série é boa, consigo passar... humm... uma folga inteira *cof* cof* a ver episódio, após episódio, após episódio... e isso foi mais ou menos o que aconteceu com o Carbono Alterado. Por isso, quando comecei a ler o livro, já não havia espaço para grande suspense... Basicamente o mesmo que aconteceu quando fui ver o The Sixth Sense e já sabia o final.

Mas, vamos ao livro: Carbono Alterado transporta-nos para o século XXV onde, em teoria, quem tenha dinheiro e poder, pode viver eternamente. Basicamente, a tecnologia permite agora fazer o download da nossa própria consciência para um pequeno dispositivo, o stack, que é implantado na base do crânio quando se tem um ano de idade. Todas as nossas experiências ao longo da vida vão sendo armazenadas nessa espécie de disco rígido, que pode depois ser descarregado para uma sleeve, ou seja, um clone do nosso verdadeiro corpo, um corpo sintético ou até um corpo em segunda mão. Na minha opinião, é este conceito de "transferência de consciência" e todas as suas implicações, que torna o livro tão interessante. Como referi, não sou entendida em literatura sci-fi e desconheço se é um conceito comum na literatura do género mas, pelo que pude pesquisar, parece que é uma ideia original, ainda que existam livros semelhantes.


Carbono Alterado


A personagem principal é Takeshi Kovacs, antigo membro dos United Nation Envoy Corps, uma força de elite especialmente treinada para o combate, mas também para discernir padrões subtis dentro de eventos aparentemente não relacionados. Contudo, aquilo que os torna tão fascinantes - e temíveis - aos olhos dos outros, é a sua capacidade para absorver os pequenos detalhes de tudo o que se passa à sua volta e de serem capazes de se adaptar facilmente a qualquer sleeve e ambiente.


"That's were you get the Envoy Corps.
Neurachem conditioning, cyborg interfaces, augmentation - all this stuff is physical. Most of it doesn't even touch the pure mind, and it's the pure ming that gets freighted. That's where the Corps started. They took psychospiritual techniques that oriental cultures on Earth had known about for millenia and distilled them into a training system so complete that on most worlds graduates of it were instantly forbiddem by law to hold any political or military office.
Not soldiers, no. Not exactly."
Altered Carbon


Por este motivo, e embora tenha sido condenado ao "armazenamento digital", o stack de Takeshi Kovacs é descarregado para uma nova sleeve, na cidade de Bay City (San Francisco), a 180 anos-luz do seu planeta (Harlem). Tudo isto porque um Meth (termo usado para definir os indivíduos com o poder e o dinheiro necessários para alcançarem uma grande longevidade) chamado Laurens Bancroft, o decide contratar para investigar o seu alegado suicídio que, insiste, nunca cometeu. A ideia pode parecer confusa mas, reparem: a única forma de ocorrer o que no livro chamam de morte real é se o dispositivo for destruído. Portanto, se estoirarem os miolos mas não destruírem o stack, basta depois descarregarem-se para outra sleeve e estão de volta! Isto se tiverem dinheiro para pagar uma nova sleeve, claro!

Carbono Alterado

Para começar, tenho de dizer que achei todo o conceito da "transferência de consciência" bastante interessante. Teoricamente, a imortalidade estaria agora ao alcance de todos mas, ao longo do livro, vamos percebendo que a imortalidade tem um preço que nem todos podem pagar. Os Meths, podem realmente viver tanto tempo quanto desejarem, bastando para isso transferir o stack para uma sleeve mais nova e optimizada. Os pobres, por sua vez, vêm a sua stack armazenada, como se fosse uma disquete esquecida numa qualquer secretária coberta de pó, até que alguém esteja finalmente disposto a pagar o valor necessário para os incorporar numa nova sleeve.

Carbono Alterado

Portanto, e não sei se seria essa a intenção do autor, tendo a concordar com quem defende que todos os livros têm uma componente de crítica social e que essa crítica está bem presente em Carbono Alterado.

O facto do livro ser narrado na primeira pessoa também foi um ponto a favor e gostei bastante da "secura" do Takeshi Kovacs. Um homem de poucas palavras e muita acção. Sarcástico. Um tipo que não anda propriamente à procura do conflito mas que, se ele surgir, não lhe vira as costas. 

Depois temos, claro, as fantásticas sequências de acção, por vezes condimentadas com uma boa dose de violência gráfica. Aliás, o livro é bastante explícito em determinadas cenas e, li até alguns comentários de pessoas que se disseram ofendidas com a descrição de sexo explícito do décimo capítulo (há sempre alguém que se sente ofendido com alguma coisa).


"As the orgasm loomed, I was vaguely aware through the Merge Nine link that she was sinking fingers into herself, rubbing with an uncontrolled desire completly at odds with the calculation in wich she manipulated me. Fine-tuned by the empathin, she brought on her own peak a few seconds before mine and as I started to come, she smeared her own juices hard over my face and thrashing body."
Altered Carbon


Infelizmente, como comecei por dizer, vi a série antes de ler o livro e isso cortou o clímax do livro porque, apesar de existirem algumas diferenças, já sabia o resultado final. Ainda assim, reconheço que é um bom policial-futurista (porque afinal de contas é disso que se trata: resolver um crime) e provavelmente um livro que voltarei a ler daqui a uns anos quando já não me lembrar muito bem de como é que acabava.


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