Shiver (2017) de Junji Ito
★★★☆☆
Sinopse:
An arm peppered with tiny holes dangles from a sick girl's window... After an idol hangs herself, ballons bearing the faces of their destined victims appear in the sky... An amateur film crew fires an extremely individualistic fashion model and faces a real bloody ending... An offering of nine fresh nightmares from the delectation of horror fans. [Fonte: ITO, Junji. Shiver: Junji Ito Selected Stories. Viz Media (2017)]
Opinião:
Shiver foi o primeiro manga que li, e fi-lo depois de ter lido a opinião da Mina no instagram. Normalmente, não costumo fazer as minhas escolhas com base em sugestões que leio na net mas, quando a sugestão vem de alguém que parece partilhar dos mesmos gostos, então vale a pena abrir uma exceção.
Atenção que não sou especialista em manga nem coisa que valha. Portanto, se tropeçaram nesta review e são entendidos no assunto, tenham isso em conta antes de irem buscar as forquilhas à despesa.
O livro é composto por dez contos - a sinope refere nove mas, como tem um conto bónus, acabamos por ficar com os dez - desenhados e selecionados por Junji Ito, um tipo que tem uma imaginação doentia e uma mente perturbada. Olhando para ele, imagino-o mais a ocupar o cargo de CEO numa empresa virada para as novas tecnologias do que a criar manga de horror - que visão tão preconceituosa, eu sei - mas, olhando para o Ruggero Deodato, também não diria que é a pessoa por detrás do Holocausto Canibal (1980).
Em Shiver, para além dos contos, o autor incluiu alguns esboços e anotações que foi fazendo até chegar ao produto final. Embora estas notas não abranjam todo o processo, é interessante ver como é que, de umas linhas gerais e ideias soltas, o autor conseguiu construir e desenvolver a história e as suas personagens.
Infelizmente, não sou uma pessoa de contos. Pensei que com uma banda desenhada fosse diferente, mas não foi. Fiquei quase sempre com a sensação de que a história estava inacabada, com demasiadas pontas soltas ou com coisas por explicar. Se calhar é essa a ideia: deixar que seja o leitor a preencher as lacunas mas, pessoalmente, não me agradou... Preferia que ele tivesse ido mais a fundo e explorado mais determinadas situações e personagens. Mas, seja como for, é um livro de contos, certo? Não posso pedir o mesmo nível de desenvolvimento que teria num livro de 600 páginas.
Portanto, resumindo isto, diria que em termos da história, Shiver não foi um daqueles livros que me tenha suscitado grande interesse. Sim, há um ou outro aspeto curioso mas, nada por aí além.
Mas, sendo Shiver um manga, não podemos ignorar a parte visual.
Junji Ito é considerado um autor incontornável na chamada manga de horror, destacando-se dos demais devido à sua criatividade. Como vos disse logo ao início, não sou entendida neste género mas, quando comecei a ler Shiver andei a pesquisar por autores semelhantes e, mesmo para um leigo, as diferenças são bastante notórias.
Se quiserem explorar um pouco mais, espreitem o artigo da Anime News Network onde poderão encontrar uma listagem de autores de manga de horror. Vale a pena espreitar!
Em Shiver, apenas a capa tem alguma cor, pois todos os contos são a preto e branco puro. Se tivermos em conta o nível de detalhe que o autor consegue alcançar apenas com linhas e pontos, é difícil não ficarmos impressionados. Pessoalmente, gostei bastante da ausência de cor e não acho que isso tenha prejudicado minimamente a estética visual. Muito pelo contrário! Na minha opinião, acaba por conferir um ambiente muito mais sombrio do que se o autor tivesse optado por uma versão mais colorida.
Mas isto ainda fica melhor...
Embora quando se trate de cinema - e apesar de gostar de terror - eu não seja grande apreciadora de filmes como o Tusk ou The Human Centipede, imaginem o que é que o Shiver tem? Se disseram "corpos mutilados" ou "corpos com transformações bizarras", acertaram!
Parece que o nome técnico da coisa é body horror e é um tema recorrente nas obras de Junji Ito, podendo ser descrito como um tipo específico de terror que envolve a destruição ou mutação do corpo devido a parasitas, a experiências científicas ou à criação de monstros (como acontece no Tusk).
E acreditem que Shiver tem bastante disso. Diria até que tem o material do qual são feitos os pesadelos. Claro que não diria isso sobre todos os contos e há até uns que achei um tanto meh. Mas, em contrapartida, Honored Ancestors e Grease são realmente bons. Mais uma vez, não tanto pela história em si mas pelo impacto visual que causam.
Alguns dos contos que fazem parte do livro, foram também adaptados e incluídos na antologia de terror Junji Ito Collection, uma série de 12 episódios que estreou em Janeiro de 2018. Curiosamente, achei que Grease está muito melhor no livro do que na série. O nível de desenvolvimento da história é similar em ambos mas, visualmente, o livro consegue ser marcante ao ponto de suscitar repulsa.
Atenção que não sou especialista em manga nem coisa que valha. Portanto, se tropeçaram nesta review e são entendidos no assunto, tenham isso em conta antes de irem buscar as forquilhas à despesa.
O livro é composto por dez contos - a sinope refere nove mas, como tem um conto bónus, acabamos por ficar com os dez - desenhados e selecionados por Junji Ito, um tipo que tem uma imaginação doentia e uma mente perturbada. Olhando para ele, imagino-o mais a ocupar o cargo de CEO numa empresa virada para as novas tecnologias do que a criar manga de horror - que visão tão preconceituosa, eu sei - mas, olhando para o Ruggero Deodato, também não diria que é a pessoa por detrás do Holocausto Canibal (1980).
Em Shiver, para além dos contos, o autor incluiu alguns esboços e anotações que foi fazendo até chegar ao produto final. Embora estas notas não abranjam todo o processo, é interessante ver como é que, de umas linhas gerais e ideias soltas, o autor conseguiu construir e desenvolver a história e as suas personagens.
"Hanging Blimp" | Shiver (2017) de Junji Ito |
Infelizmente, não sou uma pessoa de contos. Pensei que com uma banda desenhada fosse diferente, mas não foi. Fiquei quase sempre com a sensação de que a história estava inacabada, com demasiadas pontas soltas ou com coisas por explicar. Se calhar é essa a ideia: deixar que seja o leitor a preencher as lacunas mas, pessoalmente, não me agradou... Preferia que ele tivesse ido mais a fundo e explorado mais determinadas situações e personagens. Mas, seja como for, é um livro de contos, certo? Não posso pedir o mesmo nível de desenvolvimento que teria num livro de 600 páginas.
Portanto, resumindo isto, diria que em termos da história, Shiver não foi um daqueles livros que me tenha suscitado grande interesse. Sim, há um ou outro aspeto curioso mas, nada por aí além.
Mas, sendo Shiver um manga, não podemos ignorar a parte visual.
Junji Ito é considerado um autor incontornável na chamada manga de horror, destacando-se dos demais devido à sua criatividade. Como vos disse logo ao início, não sou entendida neste género mas, quando comecei a ler Shiver andei a pesquisar por autores semelhantes e, mesmo para um leigo, as diferenças são bastante notórias.
Se quiserem explorar um pouco mais, espreitem o artigo da Anime News Network onde poderão encontrar uma listagem de autores de manga de horror. Vale a pena espreitar!
Em Shiver, apenas a capa tem alguma cor, pois todos os contos são a preto e branco puro. Se tivermos em conta o nível de detalhe que o autor consegue alcançar apenas com linhas e pontos, é difícil não ficarmos impressionados. Pessoalmente, gostei bastante da ausência de cor e não acho que isso tenha prejudicado minimamente a estética visual. Muito pelo contrário! Na minha opinião, acaba por conferir um ambiente muito mais sombrio do que se o autor tivesse optado por uma versão mais colorida.
Mas isto ainda fica melhor...
Embora quando se trate de cinema - e apesar de gostar de terror - eu não seja grande apreciadora de filmes como o Tusk ou The Human Centipede, imaginem o que é que o Shiver tem? Se disseram "corpos mutilados" ou "corpos com transformações bizarras", acertaram!
Parece que o nome técnico da coisa é body horror e é um tema recorrente nas obras de Junji Ito, podendo ser descrito como um tipo específico de terror que envolve a destruição ou mutação do corpo devido a parasitas, a experiências científicas ou à criação de monstros (como acontece no Tusk).
E acreditem que Shiver tem bastante disso. Diria até que tem o material do qual são feitos os pesadelos. Claro que não diria isso sobre todos os contos e há até uns que achei um tanto meh. Mas, em contrapartida, Honored Ancestors e Grease são realmente bons. Mais uma vez, não tanto pela história em si mas pelo impacto visual que causam.
"Grease" | Shiver (2017) de Junji Ito |
Alguns dos contos que fazem parte do livro, foram também adaptados e incluídos na antologia de terror Junji Ito Collection, uma série de 12 episódios que estreou em Janeiro de 2018. Curiosamente, achei que Grease está muito melhor no livro do que na série. O nível de desenvolvimento da história é similar em ambos mas, visualmente, o livro consegue ser marcante ao ponto de suscitar repulsa.
Considerações finais: Shiver não foi um livro que tivesse ganho um lugar de destaque, coisa que poderia mudar se as histórias fossem mais desenvolvidas. Claro que, lá está, o facto de eu não gostar de contos enviesa um bocado a opinião. Tenho no entanto de reconhecer que este formato é bom para quem queira intervalar terror com outra coisa que esteja a ler, e foi precisamente nesse regime que fui lendo os contos.
O ponto mais favorável e que acho importante destacar é, sem dúvida, o impacto visual que causa, a par da sempre presente sensação de tragédia iminente e da sua inevitabilidade. Há situações macabras e corpos que sofrem transformações capazes de causar pesadelos a algumas pessoas, e é precisamente aí que reside a magia da coisa.
O ponto mais favorável e que acho importante destacar é, sem dúvida, o impacto visual que causa, a par da sempre presente sensação de tragédia iminente e da sua inevitabilidade. Há situações macabras e corpos que sofrem transformações capazes de causar pesadelos a algumas pessoas, e é precisamente aí que reside a magia da coisa.
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