O Último Desejo (1993) de Andrzej Sapkowski

by - janeiro 07, 2020

Andrzej Sapkowski
★★★☆☆
Sinopse:
O seu nome é Geralt de Rivia. Dizem que é um bruxo e um assassino sem misericórdia que vagueia pelo mundo à caça de monstros e predadores. Mas na verdade vive de acordo com o seu próprio código de conduta. A sua espada serve, em troca de recompensa, poderosos reis amaldiçoados, mas também os mais desfavorecidos.

Ao longo das suas viagens, Geralt encontra todo o tipo de criaturas - algumas saídas da mitologia eslava e dos contos populares dos irmãos Grimm - como vampiros e lobisomens, quimeras e estriges, trolls e génios que o tentam, satisfazendo todos os seus desejos.

Mas este é apenas o início das suas aventuras como viajante e feiticeiro que irá desafiar o destino num mundo em que criaturas de todas as raças coabitam numa paz precária e prestes a despedaçar-se... [Fonte: SAPKOWSKI, Andrzej. O Último Desejo. Porto Salvo: Saída de Emergência (2016)]



Opinião:
A primeira vez que li qualquer coisa sobre o The Witcher foi na revista Bang! de Maio de 2019, onde era anunciado o lançamento do 5º livro da saga: A Torre da Andorinha. Na altura não me suscitou especial curiosidade porque não estava muito virada para a literatura fantástica e não pensei mais no assunto.... até Dezembro.



Chegamos a Dezembro e parece que toda a gente já viu ou está a ver a primeira temporada do The Witcher que estreou na Netflix. Há quem compare esta série ao Game of Thrones, quem a ache absolutamente extraordinária e quem não lhe ache graça nenhuma. Quem conhece o jogo diz que « o ator está igualzinho! » e quem não conhece acaba por não ter propriamente um termo de comparação.

Pessoalmente não conheço o jogo.
Nem os livros.
E para além do Henry Cavill vestido de cabedal, não achei a série nada de especial.

Havia realmente alguma coisa de cativante: a trama central tinha potencial, as personagens eram muito interessantes, e gostei da ideia de um tipo com capacidades sobrenaturais que anda de vila em vila a combater monstros e a ser pago por isso. 

No entanto, achei que estava tudo muito pouco desenvolvido, quase como se a série nos apresentasse apenas os tópicos mais importantes da história. A somar a isto temos o facto da segunda temporada estar prevista estrear apenas em 2021. Ora, se a saga é composta por 7 livros, e se a Netflix fizer adaptações para todos eles, só lá para 2026 é que devemos ter as temporadas todas... Felizmente, ao contrário do que aconteceu com The Game of Thrones, a saga já está terminada e, assim sendo, não vale a pena estar à espera quando os livros estão todos publicados.

Ao todo podemos contar com oito livros divididos da seguinte forma:



O The Last Wish (publicado originalmente em 1993) e Sword of Destiny (publicado originalmente em 1992) são na verdade antologias de contos que antecedem os acontecimentos que iremos acompanhar durante os cinco livros que constituem a saga propriamente dita. Embora o Sword of Destiny (1992)  tenha sido publicado um ano antes do The Last Wish (1993) , é por este último que devemos começar a ler caso queiramos seguir a cronologia da história.

The Last Wish (2013)  foi publicado em Portugal pela primeira vez em 2005, pela editora Livros do Brasil. Em 2011, temos novo lançamento, desta vez pela Editorial Presença. Em ambos os casos, o título foi traduzido para O Último Desejo. Em 2016 viria a sair uma nova edição, intitulada O Terceiro Desejo, e publicada pela Saída de Emergência que é quem, daí em diante, tem vindo a assegurar a publicação de todos os volumes da saga The Witcher.



O Terceiro Desejo segue basicamente o mesmo caminho que os episódios da série da Netflix, havendo no entanto algumas diferenças. Neste primeiro livro vamos encontrar Geralt de Rívia no Templo de Meliete, onde recupera dos ferimentos sofridos durante o confronto com a princesa estirge. Esta história contínua é intercalada com seis contos, nos quais nos são dadas a conhecer alguns dos desafios já enfrentados pelo witcher, assim como algumas personagens como a rainha Calanthe, Yeneffer e o Jaskier.

O livro está então organizado da seguinte forma:
1. A Voz da Razão 1  [pág. 7 - 8]
2. O Bruxo [pág. 9 - 40]
3. A Voz da Razão 2 [pág. 41 - 46]
4. Um Pingo de Veracidade [pág. 47 - 78]
5. A Voz da Razão 3 [pág. 79 - 84]
6. O Mal Menor [pág. 85 - 124]
7. A Voz da Razão 4 [pág. 125 - 130]
8. Uma Questão de Preço [pág. 131 - 170]
9. A Voz da Razão 5 [pág. 171 - 178]
10. Nos Confins do Mundo [pág. 179 - 222]
11. A Voz da Razão 6 [pág. 223 - 230]
12. O Terceiro Desejo [pág. 231 - 288]
13. A Voz da Razão 7 [pág. 289 - 298] 



No primeiro conto,
O Bruxo, Geralt de Rívia, chega a Wyzim depois de ter visto vários pergaminhos em tabernas e encruzilhadas a oferecer três mil ducados a quem conseguir quebrar o feitiço que transformou a filha do rei Foltest numa estrige que « mede quatro cóvados, lembra uma pipa de cerveja, tem uma bocarra que vai de orelha a orelha e está cheia de dentes afiados como estiletes ».

O segundo conto, Um Pingo de Veracidade, leva-nos até aos bosques de Redania onde iremos encontrar Nivellen, amaldiçoado por uma sacerdotisa que violou durante um saque ao templo Coram Ahg Tera, e que lhe disse « que era um monstro em pele humana e seria um monstro na pele de um monstro ».

Em Um Mal Menor, Geralt chega a Blaviken onde reencontra Stregobor, um feiticeiro que se viu forçado a mudar o nome para fugir « a um ser monstruoso que quer matar-me » . Monstro esse que dá pelo nome de Renfri, e que é uma das últimas sobreviventes à caçada levada a cabo pelos feiticeiros que pretendiam destruir todas aquelas nascidas sob a Maldição do Sol Negro.

No quarto conto vamos ter o primeiro contacto com os acontecimentos que antecedem a história da saga The Witcher. Geralt de Rívia está agora em Cintra onde, disfarçado de Ravix de Quatrocorne, ocupará o lugar de convidado de honra à direita da rainha Calanthe, durante o banquete em que se apresentarão vários pretendentes à mão da princesa Pavetta, prestes a fazer quinze anos.

Nos Confins do Mundo teremos a primeira aventura em que Geralt é acompanhado pelo bardo, Jaskier. Encontram-se agora em Vale das Flores, uma pequena aldeia de onde, no passado, os elfos foram expulsos. No entanto este local idílico tem um problema: um diabo que « Ora suja a água do poço, ora assusta uma miúda afirmando que vai enrabá-la. Rouba os nossos poucos pertences e mantimentos, destrói e parte coisas, incomoda as pessoas, escava os diques como se fosse uma doninha ou um castor ».

Por fim, O Terceiro Desejo, que é o conto que dá título ao livro, dar-nos-á a conhecer Yeneffer, uma feiticeira a quem Geralt irá pedir ajuda quando Jaskier fica com as cordas vocais gravemente danificadas após um confronto com um dijinni, um ser malicioso e perverso que, tal como todos os outros génios « não gostam de pessoas que os enfiam em garrafas e os mandam mover montanhas ».



Se ainda não leram o livro podem ver, pelos resumos, que as histórias não estão propriamente ligadas entre si, sendo o único elemento em comum, Geralt de Rívia. Como ainda não li nenhum outro para além deste, não sei se este primeiro livro será realmente essencial para compreender o que se irá passar mais à frente mas, quando lá chegar, logo saberei. No entanto, acho que O Terceiro Desejo é um bom ponto de partida e apresenta uma excelente primeira abordagem àquela que será a nossa personagem principal.

Ao longo dos contos, vamos percebendo que Geralt de Rívia não é um mercenário sem escrúpulos movido apenas pelos interesses materiais. Embora os bruxos sejam comummente vistos como « assassinos errantes de basilicos » e « caçadores ambulantes de dragões e demónios dos pântanos », Geralt obedece ao seu próprio código de conduta e acredita que nem todas as crueldades são necessariamente resultado de mutações e pragas. Apesar de ser pago para matar os monstros que atormentam aqueles que procuram a sua ajuda, a realidade é que, ao longo destes seis contos, poucos são aqueles que são realmente eliminados. 


Fica no entanto bem claro que, se Geralt não mata todos os monstros com que se cruza, é apenas porque não quer. Afinal de contas, não é à toa que a sua reputação enquanto assassino feroz e guerreiro hábil o precede...

Vamos também perceber um pouco mais acerca das técnicas usadas pelo bruxo, sobretudo no primeiro conto, quando defronta a estrige. Quando vi a série, não percebi muito bem para que serviam aqueles frascos que ele transportava e do qual bebia antes de enfrentar um adversário. Era óbvio que se tratava de algum tipo de poção mas, quais os efeitos? 

O livro permite-nos perceber que cada frasco contém uma mistura que é um veneno mortal para alguém que não esteja habituado a ela desde criança. No entanto, ao bruxo, permite-lhe « assumir pleno controlo de todos os órgãos do corpo », provocando ao mesmo tempo algumas alterações na sua aparência, como a mudança da cor da pele para « cor de giz » e a dilatação das pupilas, que se expandem por toda a íris e lhe permitem ver no escuro.


Pessoalmente, gostei bastante da forma como esta e outras personagens nos são dadas a conhecer aos poucos. Apesar de eu não ser, de todo, uma adepta de contos, acho que esse modelo resultou muito bem porque, ao não aprofundar demasiado a informação, e ao dar-nos apenas pequenos detalhes aqui e acolá, permite-nos ir construindo a nossa própria ideia acerca dos intervenientes na história. Claro que depois de ver a série, as ideias já estão meio enviesadas, mas ainda assim, o livro permite preencher alguns espaços em branco.

Outro aspecto de que gostei bastante foram os paralelismos com histórias conhecidas como Branca de Neve e os Sete Anões (no conto Um Mal Menor) e A Bela e o Monstro (no conto Um Pingo de Veracidade). Já sabia que iria encontrar algumas referências porque a própria sinopse do livro faz menção a isso, ainda assim fiquei impressionada com a forma como tal é feito porque o que Andrzej Sapkowsi fez foi, essencialmente, reescrever essas histórias e torná-las verossímeis no universo que criou.

O Terceiro Desejo não foi um livro que me tivesse deixado extasiada, mas também não me deixou indiferente. Fiquei bastante curiosa em relação ao que aí vem, assim como acerca do passado de Geralt (especialmente acerca do motivo pelo qual foi transformado em bruxo, e de que forma é que isso aconteceu) e das criaturas que povoam o universo criado por Sapkowski. 

A seguir vou começar a ler A Espada do Destinoo segundo livro de contos que constituem as The Witcher Stories e, claro, teremos opinião aqui no blogue.



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