Recursion (2019) de Blake Crouch
Sinopse:
Ao princípio, parece uma doença. Uma epidemia que se espalha de uma forma desconhecida, enlouquecendo as suas vítimas com memórias de uma vida que nunca viveram. Mas a força que está a varrer o mundo, não é um patógeno. É apenas a primeira onde de choque, desencadeada por uma descoberta impressionante, e o que está em risco não são as nossas mentes, mas a própria estrutura do tempo.
Ao princípio, parece uma doença. Uma epidemia que se espalha de uma forma desconhecida, enlouquecendo as suas vítimas com memórias de uma vida que nunca viveram. Mas a força que está a varrer o mundo, não é um patógeno. É apenas a primeira onde de choque, desencadeada por uma descoberta impressionante, e o que está em risco não são as nossas mentes, mas a própria estrutura do tempo.
Opinião: Wow! Wow! Wow!
Senhoras e senhores, ele fê-lo novamente! Depois de Wayward Pines e de Dark Matter, Blake Crouch está de volta com mais um livro absolutamente fantástico: Recursion. Este autor é um bocado como o Keanu Reeves: quase que não se dá por ele mas, quando aparece, é sempre uma entrada em grande.
Eu sei que, sendo fã do tema de viagens no tempo e universos paralelos, sou suspeita. Mas quando um livro é bom, há que dizê-lo sem pudor! E acreditem Recursion é um desses livros.
Resultado: passei grande parte da história em modo tipo-das-conspirações, a impingir as minhas teorias ao outro leitor cá de casa que, por causa do confinamento, não teve grande remédio que não fosse ouvir-me e dizer que « isso parece tudo muito confuso ». Pois... explicar saltos temporais e realidades paralelas nem sempre é claro, sobretudo para mim que sou trapalhona a expressar-me.
Mas vamos lá ver se vos convenço a irem a correr comprar o livro do Blake Crouch para que ele continue a conseguir viver da escrita, e nos encha as prateleiras de histórias destas.
Primeiro do que tudo, esqueçam as longas introduções. À semelhança daquilo a que nos tem vindo a habituar, este autor vai diretamente ao assunto e Recursion não é exceção.
Barry Stuton, um detetive na NYPD vai até ao topo de um edifício na tentativa de impedir o suicídio de uma mulher. Quando a tenta convencer de que há razões pelas quais merece a pena viver, ela diz ter memórias de uma vida inteira que, afinal, não são suas. Lembra-se do casamento, do filho, de pequenas coisas do dia a dia... Lembra-se como se as tivesse vivido, mas a verdade é que parece que afinal nunca existiu marido, nem filho...
Conseguem imaginar quão confuso isto seria ? Terem recordações vívidas de coisas que fizeram, pessoas que conheceram, locais onde foram, e depois perceberem que aquelas pessoas não existem e não há qualquer registo de terem estado naqueles locais ?
O problema é que aquele não é um caso único, e nos últimos oito meses, têm sido várias as pessoas a reportarem sintomas daquilo que viria a ficar conhecido como Síndrome da Falsa Memória. Uns pensam que é um vírus que se propaga pelo ar, outros que se trata de algum tipo de perturbação psicológica. Mas a realidade, é que ninguém sabe exatamente o que é, qual a causa, e como se combate.
Entretanto, passamos para outra personagem: Helen (preparem-se porque, enquanto os caminhos não se cruzarem, vamos ter muito disto), uma cientista que tenta mapear o cérebro humano e assim encontrar uma forma de preservar a memória de pessoas que, tal como a sua mãe, sofrem de Alzheimer. Mas a investigação decorre de forma muito lenta, sobretudo devido à falta de financiamento. Até que aparece um tipo misterioso, que diz ter sido enviado por alguém com dinheiro e recursos suficientes para financiar a investigação de Helen. A oportunidade de uma vida não deve ser desperdiçada e, depois de pesar os prós e os contras, a investigadora decide aceitar o convite, mesmo isso implicando mudar-se para uma plataforma no meio do oceano, assinar um contrato de confidencialidade e ficar proibida de qualquer contacto com o exterior.
Slade, o tal tipo multimilionário por detrás do convite, também se encontra na plataforma e, ao contrário do que Helen esperava, está bastante informado acerca do projeto, fazendo até questão de participar de forma ativa. Uma coisa fica bem clara: não há limites para a investigação, sejam eles financeiros ou éticos.
E esta falta de limites acaba por levar a equipa de investigadores por caminhos sinuosos, mas no final no qual está uma máquina que permite, não só mapear as memórias, como regressar a uma memória específica e reviver a partir daí.
A partir daqui as coisas passam a ter tanto de confuso como de interessante. Ao início senti-me um bocado perdida na lógica do funcionamento da máquina e na forma como a sua utilização dava origem a diferentes linhas temporais mas, à medida que vamos avançando na história, as coisas começam a ficar mais claras, ainda que por vezes tenha tido de parar para recapitular.
De uma forma geral, a ideia é a seguinte: a realidade é construída pelas nossas memórias. Se alterarmos as memórias, alteramos a realidade. Portanto, para viajar no tempo, apenas precisamos de pensar numa memória marcante e vívida, que será mapeada pela máquina, e estamos prontos para regressar ao exato momento que originou essa memória.
E de que forma alteramos a realidade? Bom, aqui é que as coisas começam a ficar um pouco interessantes.... e confusas. Então, sempre que viajamos no tempo, passam a existir duas linhas temporais: a passada (que é aquela da qual saímos) e a presente (que é aquela onde passaremos a estar). Quando ambas convergem, todas as pessoas que permaneceram na linha passada, sofrem uma alteração da realidade que dá origem ao tal síndrome da falsa memória.
Vamos ver um exemplo prático: imaginem que o Manuel Salgado chega aos 80 anos, infeliz por nunca ter tido a audácia de aprovar a construção de um hospital da CUF mesmo em frente ao miradouro de das necessidades. Então, no dia 24 de abril de 2021 decide utilizar a máquina e regressar a 2015, à memória vívida do momento em que recusou. Mas desta vez, vai autorizar a construção do dito hospital e continuar a sua vida. Quando chegar novamente a 24 de abril de 2021, ambas as realidades vão convergir, sobrepor-se e, do nada, vai aparecer uma CUF Tejo a tapar a vista do pessoal que estava no miradouro a apanhar sol.
Apesar dos detalhes, esta review está longe de estragar seja o que for na leitura do livro porque aquilo que aqui leram é apenas 1% da ponta do icebergue. Se quiserem ler spoilers a sério, com todas as teorias e explicações, passem no the-bibliofile.com. A Jenn foi até ao mais pequeno detalhe e incluiu até uma secção à qual chamou Recursion Explained. Se gostarem do livro, vale a pena passarem por lá no final.
Quanto a mim, gostei de tudo: da história, das personagens, das reviravoltas, do drama. Tudo perfeitamente equilibrado de modo a criar um daqueles livros que, quando acabamos, ficamos a pensar no que vamos fazer com a nossa vida dali em diante.
Se procuram uma leitura leve, Recursion poderá não ser a melhor opção porque, apesar de tudo, exige alguma disponibilidade e atenção. Mas se até estão numa fase em que vos apetece mergulhar numa história mais complexa, este poderá ser exatamente aquilo de que estão à procura!
Boas Leituras!
0 comments