The Midnight Library (2020) de Matt Haig

by - setembro 23, 2021

 


Sinopse: No limiar entre a vida e a morte, depois de uma vida cheia de desgostos e carregada de remorsos, Nora Seed dá por si numa biblioteca onde o relógio marca sempre a meia noite e as estantes estão repletas de livros que se estendem até perder de vista. Cada um desses livros oferece-lhe a hipótese de experimentar uma outra vida, de fazer novas escolhas, de corrigir erros, de perceber o que teria acontecido se tivesse escolhido um caminho diferente. As possibilidades são infinitas e vários horizontes se abrem à sua frente.

Mas será que algum desses caminhos lhe proporciona uma vida mais perfeita do que aquela que conheceu? Na altura da escolha final, Nora terá de olhar para dentro de si mesma e decidir o que de facto lhe preenche a vida e o que faz com que valha a pena vivê-la.


★★★★★

Opinião: Apelidado pelo Cambridge Independent de « o guru acidental da saúde mental »Matt Haig foi alguém que, em tempos esteve, literalmente, à beira do precipício. Estávamos em 1999 e o autor, na altura com apenas 24 anos, enfrentava uma depressão grave, que o levou a considerar o suicídio. Tendo recusado soluções médicas à base de anti depressivos ou sedativos, ele e a esposa regressaram à sua casa de infância em Newark onde, durante um ano, « uma combinação de tempo, amor, leitura e exercícios » [Fonte: The Guardian] lhe permitiu recuperar. Em 2015 publica Reasons to Stay Alive, onde fala acerca da sua experiência e recuperação, e que se manteve no top 10 de bestsellers durante 46 semanas.

Reasons to Stay Alive não foi o seu primeiro livro, tendo o autor obras publicadas já desde 2004. No entanto, foi sem dúvida aquele o deu a conhecer ao grande publico para quem, claramente, os temas relacionados com a saúde mental são um assunto de interesse. Para além de Reasons to Stay Alive, destacam-se ainda The Humans (2013), How to Stop Time (2017) e The Midnight Library (2020).

Hoje vamos falar sobre The Midnight Library que foi o meu primeiro contato com este autor. Recordo-me de em tempos me ter apercebido que andava uma grande hype em torno do Um Mundo à Beira de Um Ataque de Nervos (2018), mas para ser franca nunca me despertou especial interesse. Depois cruzei-me, por puro acaso, com The Midnight Library e assim que o comecei a ler fiquei imediatamente presa à história.


De acordo com o próprio autor, este é o primeiro livro onde a personagem principal tem um diagnóstico oficial igual ao seu: depressão. Claro que a pergunta óbvia é: então mas o livro é sobre depressão? E aquilo que vos posso dizer é que, na minha perspetiva, aborda a depressão, mas não é sobre depressão. Pareceu-me que aquilo que o autor pretende transmitir é uma mensagem de esperança, sendo até considerado como « um manifesto para a verdadeira auto aceitação » [Fonte: inews].

Nora Seeds, a nossa personagem central, sente-se verdadeiramente inútil. O gato morreu por não ter conseguido tomar conta dele. O irmão não lhe fala, por culpa dela. A loja de instrumentos musicais onde trabalha acaba de a despedir, porque é incompetente. Essencialmente, nada lhe corre bem e culpa é toda sua. Ou pelo menos, é assim que ela se vê, e é assim que encara o mundo que a rodeia. 

Não é incomum que, chegados a este ponto, muitas pessoas que sofrem de depressão severa cheguem a considerar que o melhor a fazer é cortar o mal pela raiz. E é precisamente isso que Nora decide fazer, pondo termo à própria vida.

Só que, em vez de simplesmente desaparecer, Nora dá consigo na Biblioteca da meia Noite, um espaço que se estende a perder de vista em todas as direções, e onde todas as prateleiras estão cheias de livros que são as histórias de todas as suas vidas não vividas. Aqui, todos os "e se" da vida deram origem a um livro diferente... a uma vida diferente, que Nora tem agora a oportunidade de experimentar com as seguintes condições: 

  • Pode experimentar tantas vidas quantas queira
  • Pode decidir ficar a viver na vida que escolheu
  • Caso se sinta desiludida, volta automaticamente para a Biblioteca da Meia Noite
  • Se no final decidir que já não quer viver, então morre definitivamente


Vou poupar-vos aos detalhes acerca das várias vidas que Nora experimentou durante o tempo em que esteve na Biblioteca da Meia Noite mas posso dizer-vos que, no final, a conclusão que se retira é que tudo tem consequências, e por vezes muito diferentes daquelas que pensamos que seriam.

Reparem: se nos perguntarmos se mudaríamos alguma coisa na nossa vida caso pudéssemos voltar atrás no tempo, alguns responderão que sim. Há sempre aquela coisa que podíamos ter feito de forma diferente, aquela decisão que nos arrependemos de ter - ou não ter - tomado... e claro, a curiosidade de saber como seria a nossa vida se, nesses momentos cruciais, tivéssemos optado por um caminho diferente. 


Seria mais feliz? 

Mais bem sucedid@? 

Teria mais dinheiro?

Viajaria mais ?

As pessoas à minha volta seriam outras?


Pessoalmente, tento ter - e manter - uma visão bastante prática da coisa: o dia de hoje, amanhã será Passado. Portanto, não vale a pena amanhã, daqui a uma semana, ou daqui a não sei quantos anos estar a pensar que, se pudesse voltar ao dia de hoje, teria feito de outra forma. A decisão e fazer de outra forma é AGORA. E agora que já ocupei cinco linhas com filosofias de bolso, voltemos ao livro. 

Sabem de que livro é que The Midnight Library me fez lembrar? Do Dark Matter do Blake Crouch, que explora precisamente as ramificações de todas as escolhas que poderiam ter sido feitas e a ideia de que, existem universos infinitos em que as decisões tomadas foram diferentes, conduzindo a uma realidade distinta daquela que conhecemos como sendo a nossa realidade. 

Já me estou a dispersar novamente.

Bom, não vou entrar aqui em conversas lamechas e dizer que fiquei muito emocionada com o livro, e que fiquei duas semanas sem dormir por causa da mensagem e por aí fora (por algum motivo uma das frases que mais ouço é « és mesmo uma monstra »), mas lá que deu que pensar, isso deu. E o melhor é que o fez de uma forma muito subtil. Se o livro se apresentasse como indo falar de depressão, remorsos, escolhas na vida e por aí fora, o mais certo era não ter pegado nele. Mas não... Ele começa por falar da Nora, da vida desgraçada que ela leva e depois aborda a parte em que ela decide terminar a vida mas, até aqui, não utiliza aquela carga negativa e dramática que seria esperada. E quando damos por nós, estamos a entrar e a sair de diferentes vidas que poderiam ter sido, mas não foram.


Enquanto leitora, senti-me totalmente imersa na história, o que levou a que tivesse sentido aquele entusiasmo inicial perante a perspetiva de experimentar diferentes vidas, para depois perceber que todas as vidas têm os seus lados positivos e negativos. Acabei por chegar à mesma conclusão do que Nora, e que não partilho aqui para não arruinar a vossa leitura (se quiserem saber mais, podem sempre enviar-me mensagem pelo Instagram). 

A Biblioteca da Meia Noite é um livro que toca cada pessoa de forma diferente. Há quem o encare como um livro sobre universos paralelos. Há quem o encare como um manifesto para a auto aceitação. Não há uma perspetiva certa e outra errada (apesar de haver sempre aquele pessoal que acha que quem tem uma perspetiva diferente da sua é porque não percebeu). Sejam então vocês fãs de ficção científica ou de livros não técnicos relacionados com saúde mental, deem uma hipótese à Biblioteca da Meia Noite e não ficarão desiludidos.

Boas Leituras!

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