Fan Club (1974) de Irving Wallace

by - abril 10, 2022


Sinopse: O consagrado autor de « O Prémio » escolheu para tema central deste seu novo romance a mais primária fantasia erótica do homem: descobrir a companheira sexual perfeita. E assim o pensaram quatro indivíduos em relação a Sharon Fields, jovem artista de cinema, que a publicidade transformara no símbolo sexual do seu tempo. Combinaram portanto criar o « Fan Club » e raptá-la na primeira oportunidade.



★★★★★

Opinião [contém spoilers]: É raro comprar livros por impulso mas, numa ida à Associação Reto à Esperança a capa deste chamou-me a atenção. Não conhecia o autor mas, por 50 cêntimos (sim, foi quanto o livro me custou!) achei que valia a pena arriscar. O que vos posso dizer é que gostei tanto do estilo do Mr. Wallace, que já fui reforçar a coleção e estou neste momento a começar a ler o terceiro livro.

Fan Club pode no entanto não se a melhor escolha para se começar a explorar as obras deste autor. Principalmente, porque é um livro que deu origem a uma grande polarização. De um lado, os que o adoraram. Do outro, aqueles que o consideraram « nojento » e « degradante ». Pessoalmente, achei que o livro tinha todos os elementos que realmente importam: uma história bem construída, personagens interessantes, uma excelente dose de suspense e uma reviravolta final completamente inesperada. 

Mas vamos aos detalhes. 

De um lado temos Sharon Fields, uma atriz que é o símbolo sexual do seu tempo. A publicidade em torno dela, promove a imagem de uma mulher promíscua, sem tabus, e uma verdadeira ninfomaníaca. Se isto corresponde à realidade? Não. Mas é o que faz com que a sua imagem venda.

Do outro lado temos Adam Malone, um idealista sonhador... Um fã apaixonado por Sharon Fields, e  que vê nela os seus desejos de perfeição erótica. Tudo poderia ficar por aqui, numa espécie de paixão platónica nunca concretizada. No entanto, quando Adam se cruza com três homens num bar, o seu plano para raptar Sharon começa a ganhar outros contornos e a passar do plano do imaginário para o plano real. E assim nasce o Fan Club

O objetivo? Raptar a atriz e levá-la para uma casa escondida nas montanhas onde todos eles lhe declamariam a sua admiração por ela. Uma vez que Sharon era, obviamente, uma mulher que gostava bastante de ser arrebatada, de certeza que os iria recompensar com algo mais do que um simples "obrigado". E mesmo que, no pior cenário possível, ela não quisesse ter relações sexuais com nenhum deles, não haveria qualquer problema: a sua decisão seria totalmente respeitada e ela seria libertada. 

Mas quando juntamos um antigo famoso futebolista que agora é um agente de seguros falhado, com um guarda livros obcecado com a mediocridade da sua vida, e um mecânico com uma especial predisposição para a violência, o plano acaba por não correr como estava planeado. Sobretudo quando, ao contrário do que esperavam, Sharon não ficou encantada com o rapto, e muito menos com a ideia de manter relações sexuais com qualquer um deles.

A partir daqui, entramos numa espiral de loucura onde homens, aparentemente normais vão, sob diversos pretextos, cedendo aos seus impulsos. O resultado são violações sucessivas da atriz, incapaz de resistir ou fugir, numa espécie de frenesim do qual ninguém espera quaisquer consequências. Sharon é um objeto, e o objeto está ali para ser usado. Tendo em conta este contexto, é natural que muitos leitores não tenham gostado especialmente do livro. Sobretudo, porque as cenas de abuso são bastante explícitas e detalhadas.

O facto de a verem apenas como um objeto através do qual poderão satisfazer os seus desejos, leva a que sejam incapazes de perceber que, por trás daquele corpo imóvel e inicialmente apático, há uma mulher a tentar sobreviver a tudo quanto se passa e libertar-se. O menosprezo que sentem por ela, acabará por se tornar a sua maior e mais poderosa arma e a história poderá acabar de uma forma bem diferente daquilo que qualquer um deles esperava.

Boas Leituras!

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