Os Últimos na Terra (1974) de Robert C.O'Brien

by - setembro 08, 2021

Sinopse: Ann Burden tem apenas dezasseis anos e está completamente sozinha. O mundo como o conheceu já não existe, devastado por uma guerra nuclear que lhe levou todos aqueles que amava. Durante o último ano viveu num vale remoto, sem qualquer sinal de outros sobreviventes.

Mas o fumo de uma fogueira distante quebra a solidão de Ann. Mais alguém sobreviveu e aproxima-se do vale. Quem será aquele homem? Quais serão as suas intenções? Poderá Ann confiar nele? Expectante e apavorada, Ann rapidamente compreende que podem existir coisas mais aterradoras do que ser a última pessoa na Terra. 


★★☆☆☆

Opinião [contém spoilers]: É raríssimo comprar livros que não façam parte da minha wish list, e ainda mas raro é, comprar livros sem saber grande coisa a respeito da história. Mas estava em contagem decrescente para as férias, sem nada para levar comigo para ler (o horror!), e decidi abrir uma exceção.

Sabem que os cenários pós apocalíticos são dos meus favoritos, e um livro chamado « Os Últimos na Terra » que  tem na capa « depois do fim do mundo, ela pensava que era a única sobrevivente. Estava errada. » ... bom, já dá para imaginar que fiquei bastante entusiasmada com a ideia! 

Quem ou... o quê... é que também sobreviveu ao fim do mundo? 
Irá haver uma nova luta pela sobrevivência?

E assim que comecei a ler percebi. Percebi que o raio do livro não ia ser nada do que eu gostaria que fosse, mas sim um teenager drama que calha de ter um cenário pós apocalítico. Lembram-se da terrível experiência que partilhei convosco na review do livro A 5ª Vaga ? Pois... este é basicamente a mesma coisa. 


Ann Burden, uma moça de dezasseis anos, é a única sobrevivente de uma terrível catástrofe que matou toda a gente. E como é que ela sobreviveu? Porque o vale onde mora tem uma espécie de micro clima que, de alguma forma, protegeu tudo o que nele vivia das radiações das bombas nucleares. Ou seja, enquanto todos e desfaziam por dentro, ela lá vivia alegre e contente, com vaquinhas, galinhas, peixes, uma horta, um rio onde tomar banho e pescar... até um supermercado abastecido existia! É verdade que não sou climatóloga, mas esta história do micro clima à prova de radiações parece-me muito pouco convincente. 

A primeira parte do livro faz lembrar as histórias da Anita: Anita Cuida da Horta, Anita Cuida das Galinhas, Anita-não-viaja-com-a-família-e-morrem-todos-menos-ela ... e por fim, Anita esquece-se que tem uma espingarda e sofre uma lobotomia.

Pois é meus caros. Ann Burden começa por ser retratada como uma jovem independente que conseguiu sobreviver à custa do seu trabalho árduo, e até certo ponto, é admirável tudo aquilo que ela conseguiu fazer estando completamente sozinha. Quando se apercebe que alguém se encaminha para sua casa, pega na espingarda, solta os animais, tenta eliminar sinais da sua presença, e refugia-se no meio do mato para conseguir ver melhor quem se aproxima e tentar perceber se constitui uma ameaça.


O que é que ela esperava? Que a pessoa se deparasse com aquele éden e pensasse "Isto é muito giro, mas aquilo que eu gosto mesmo é de deambular por cidades radioativas e com cadáveres por todo o lado, e por isso vou andando" ? Acho pouco provável que isso acontecesse. 

O que nos leva à segunda opção que seria proteger o vale, e portanto dar um tiro a quem quer que lá entrasse. Nesse caso, parece-me estúpido destruir a horta e soltar os animais. 

Mas esperem, resta-nos ainda a terceira opção, que seria não matar ninguém e permitir que a pessoa ficasse a viver com ela no vale, onde existia mais uma casa. Ora, neste cenário seria absurdo ela continuar escondida atrás das moitas indefinidamente e, em algum momento, teria de se dar a conhecer. Por isso, mais uma vez, qual a razão para estar a apagar os vestígios da sua existência? 

UmBlogueSobreLivros dedica-se, desde 2018, à resolução destes dilemas, estando sempre pronto para ajudar. Assim, após uma profunda investigação e análise dos diferentes outcomes possíveis, foi elaborado o documento abaixo.


Mas claro que não é nada disto que acontece! O tipo entra pelo vale adentro, fica todo contente e vai tomar banho num rio que está contaminado - apesar de ficar dentro do vale, a água vem não sei de onde - e fica gravemente doente. Ann Burden abandona toda a precaução e lá vai prestar auxílio, fazer caldinhos de galinha, ler para ele, segurar-lhe na mão e por aí fora. Quando damos conta, já anda pelo pomar a sonhar com casamento, apesar de se referir a ele sempre como « Mr. Loomis ».

O Mr. Loomis lá acaba por arrebitar e começa logo a pôr defeitos às coisas e a dar ordens. A par disso, começa a ter uns comportamentos que a própria Ann percebe não serem muito normais mas, apenas quando ele tenta violá-la é que ela parece despertar da estupidez. E o que é que faz? Dá-lhe um tiro? Não! Pega nas trouxas, vai para uma gruta no vale e deixa-o ficar na casa, a usufruir de tudo o que ela manteve com o esforço do seu trabalho.


Eu por esta altura já não sabia o que havia de fazer. A minha maior vontade era esbofetear a rapariga que, reparem: sempre teve acesso a uma arma e até se gabava de ter uma boa pontaria. Ela podia até ter ido para a gruta, ter-se esgueirado pelo terreno familiar até perto de casa e disparado. Mas claro que não fez nada disso! Pelo contrário, acaba ela por ser alvejada pelo « Mr. Loomis ». 

Mais uma vez fiquei sem perceber qual era a ideia da rapariga quando foi para a gruta. Morrer à fome? Mudar-se para lá e deixar o maluco na casa? Deixar arrefecer os ânimos e ver no que é que as coisas davam? Não faço ideia! Mas fosse qual fosse a ideia dela, nada me poderia ter preparado para aquele final completamente absurdo...


Mas apesar de eu não ter gostado minimamente do livro, a verdade é que ganhou o Edgar Allan Poe Awards na categoria de Melhor Ficção de Mistério (Juvenil) em 1976 e teve ainda uma adaptação para o grande ecrã em 2015 (apesar de claramente ter havido grandes alterações, nomeadamente a existência de uma terceira pessoa que não existe no livro e de andar mais em torno do trio amoroso, do que propriamente da luta pela sobrevivência).

Assim sendo, e tal como aconteceu com A 5ª Vaga, é mais um daqueles mistérios que não entendo... Suspeito que possa estar no entanto relacionado com a minha idade. Pois... Aos 38 anos já não vemos as coisas da mesma forma que vemos aos 16 - idade da personagem principal - e acabamos por ter uma visão muito mais pragmática das coisas. Talvez um leitor mais jovem se identifique mais com esta história e até goste. Vou tentar impingir o livro à minha irmã mais nova, que tem precisamente 16 aos, e ver o que ela tem a dizer.

Boas Leituras!

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