A 5ª Vaga [#1] (2013) de Rick Yancey

by - julho 12, 2018

★★☆☆☆
Sinopse:
A 5ª Vaga, o volume que dá início à trilogia com o mesmo nome, é uma obra prima da ficção científica moderna. É um épico extremamente original, que nos apresenta um cenário de invasão extraterrestre do planeta Terra como nunca antes foi escrito ou sequer imaginado. Nesta narrativa assombrosa, uma nave extraterrestre fixa-se na órbita da terra, à vista de todos mas sem estabelecer qualquer interacção. Até que, subitamente, uma gigantesca onda electromagnética desactiva todos os sistemas da Terra, e todas as luzes, comunicações e máquinas deixam de funcionar. A esta primeira vaga seguem-se outras, num crescendo de violência que devasta grande parte da humanidade. Será este o fim da existência humana sobre a Terra ? Haverá ainda alguma salvação possível ? Um thriller de alta voltagem, com todos os ingredientes para se tornar um grande clássico da literatura fantástica universal.

Opinião [contem spoilers]:
A 5ª Vaga não foi um livro de amor à primeira vista.
Nem amor à segunda vista.
Nem amor depois de ter terminado de o ler.



A compra em si, já foi um dilema.
Por um lado, o livro tem 4.1 no Goodreads, o que normalmente é um bom presságio e, os leitores que o classificaram positivamente dizem que é « one of the best books i've had the honor to read! A MUST READ!! », que « THIS is how you write a book » e que é « THE BEST DYSTOPIAN BOOK OF THE YEAR ». 
Com maiúsculas para enfatizar o quão magnífico o livro é.

Por outro lado, os leitores que o classificaram negativamente foram impiedosos.
« Bastardized sci-fi for the Twilight crowd ».
« Boring as fuck ».
« Incredibly disappointed ».
« It's complete shit ».

Ainda assim, apesar dos comentários negativos, pensei que o livro não podia ser assim tão mau.
Afinal de contas, houve realmente uma grande hype à volta dele.
Uma adaptação ao cinema.
Um website chamado The 5th Wave Network.
Uma horda de fãs.
Mesmo que o livro fosse uma porcaria, qual era a pior coisa que podia acontecer?
O pior era acabar a gastar post-its a assinalar todas as partes más.

E gastei post-its.
Bastantes post-its.

Não vou dizer que o livro é horrível, porque não é.
Já li coisas piores. Também já li coisas bastante melhores.
Mas, agora que terminei, posso dizer que foi um livro que me surpreendeu.
Porque é realmente surpreendente como é que se consegue pegar numa ideia com tanto potencial e transformá-la numa espécie de Twilight alienígena, onde a personagem principal é uma adolescente mal educada.

5th Wave
Cassie | Adaptação ao Cinema: A 5ª Vaga (2016)

Cassie, é o nome dela.

Cassie, de Cassiopeia. Como fará questão de nos recordar por várias vezes no livro.

Então a Cassie, de Cassiopeia, vivia uma vida normalíssima quando um dia, uma nave espacial se fixou na órbita da Terra sem estabelecer qualquer contacto. A esta situação, só por si estranha, seguiram-se várias vagas:

Primeira Vaga: luzes apagadas.
As comunicações deixaram de funcionar, assim como tudo o que precisasse de motor ou electricidade para trabalhar.

Segunda Vaga: ondas altas.
As cidades costeiras foram varridas por tsunamis gigantescos.

Terceira Vaga: pestilência.
Os que sobreviveram aos tsunamis, acabam infectados com vírus mortíferos.

Quarta Vaga: silenciador.
Os que ainda estão vivos por esta altura, são caçados pelos silenciadores, assassinos alienígenas cuja missão é abater os humanos.

Até aqui tudo bem.
Depois há ainda o facto de sabermos, logo desde o início, que os alienígenas já estariam entre nós há muito tempo, apenas à espera do momento certo para despertar, o que contribui para aumentar o suspense.

« Tudo termina em menos de um minuto. A sombra vai-se embora.
Agora só ali estão o homem, a mulher, o bebé dentro dela e o intruso dentro do bebé, todos a dormir.
A mulher e o homem vão acordar de manhã, e o bebé daqui a alguns meses, quando nascer.
O intruso dentro dele vai ficar a dormir e só acordará anos mais tarde, quando a inquietação da mãe e a memória do sonho já tiverem desaparecido há muito.»
A 5ª Vaga
Rick Yancey

E depois aparece a Cassie, de Cassiopeia.
A ideia com que fiquei, foi que o autor quis criar uma personagem que, apesar de ter apenas dezassete anos e acreditar ser um dos últimos seres humanos à face do planeta, não desistiria de lutar e seria até capaz de dar a vida para cumprir a promessa que fez ao seu irmão Sammy.

Mas, aquilo que acabou por criar foi uma adolescente mal educada.
Não faço ideia em que é que Rick Yancey se baseou para dar vida à Cassie, de Cassiopeia, mas parece-me que pegou em todas as ideias estereotipadas acerca de um adolescente, misturou-as e serviu-as numa bandeja chamada A 5ª Vaga. Não sei se o público-alvo deste livro se identifica com a personagem ou não mas, para mim, não resultou.

Ah mas que ideias estereotipadas são essas ?

1. Para um adolescente, o telemóvel é o seu bem mais precioso.
« O meu telemóvel. Fritou durante a Primeira Vaga e agora não dá para carregar. As torres de telemóveis já não estão a funcionar e, mesmo que estivessem, não há ninguém a quem telefonar. Mas não interessa, é o meu telemóvel. » (Cassie, quando descrevia o que transportava na mochila)

2. É normal bater nos pais.
« Foi nessa altura que lhe dei um murro com toda a força e corri para dentro de casa » (Cassie, a esmurrar o pai depois de ele ter dido que desperdiçámos a oportunidade de cuidar do nosso planeta).

3. É normal querer bater nos pais.
« Eles estão só a ser cautelosos (...) Deu-me uma palmadinha das costas. E eu pensei, tipo: Raios, velhote, se me tornas a dar outra merda de palmadinha condescendente nas costas ... » 
« Neste momento odeio-o. Se ele estivesse aqui agora, dava-lhe um murro na cara por ter sido um tapado ignorante. »

4. É normal bater em pessoas, de uma forma geral
« Dou-lhe um murro no estômago. Não sinto nenhum movimento; é como se tivesse batido em cimento » (Cassie, depois de esmurrar Evan Walker ).
« Tu não podes ir. Tenho de ser eu. Por isso, escusas de abrir a boca. Se dizes mais alguma coisa levas uma chapada » (Cassie para Evan Walker, depois de ele ter dito que estaria disposto a arriscar a vida para salvar Sammy).

5. O dialecto do adolescente tem de incluir expressões como tipoduh, OK e ultraqualquer coisa
« Assenti. Sabia que a minha mãe era a única razão por que ainda não nos tínhamos ido embora.
- E vamos para onde ?
- Para longe. Aqui já não é seguro.
  Dah, pensei, E alguma vez foi ? » 


A sério, quem é que anda para aí a esmurrar pessoas ?
Dou-te uma chapada!
Dou-te um murro!
Dah! Tipo, sou uma adolescente muito rebelde e tenho uma arma! OK?

Não.

E isto leva-nos à questão número dois: o romance creepy.
Ora a Cassie, de Cassiopeia, depois de ter sido ferida com gravidade e perdido os sentidos, acorda numa cama. 
Aparentemente, houve alguém que a apanhou na rua, que tratou do ferimento, que cuidou dela. 
Esse alguém é o Evan Walker.


A 5ª Vaga
Evan Walker | Adaptação ao Cinema: A 5ª Vaga (2016)

E o que é que acontece ?
Ela apaixona-se pelo seu « perfil perfeito » e pelos seus « olhos cor de chocolate ».
O Charles Manson também tinha olhos cor de chocolate e vê onde é que isso o levou.

O Evan Walker é... como dizer ?
Um tipo sem personalidade.
Uma verdadeira anémona.

A Cassie, de Cassiopeia, trata-o mal. Espezinha-o. 
E o que é que ele faz ?
Será que a põe na rua ? Não.
Será que lhe diz "És uma grandessíssima besta Cassie!" ? Não.
Será que se chateia e a deixa abandonada à sua sorte ? Não.

Ele faz-lhe pão com hambúrguer.
Dá-lhe banho.
Lava-lhe o cabelo.
É realmente doentio e está quase ao nível do Misery de Stephen King.
E a justificação para ele fazer tudo isto é simples: está apaixonado.
Mais uma vez, não sei que tipo de ideia é que o autor pretende transmitir ao público alvo.
A cereja no topo do bolo é que obviamente que é um romance proibido.

Obrigadinho por teres estragado a surpresa com a porcaria de um spoiler! 

A verdade é que a parte romântica do livro é tão incrivelmente má e previsível, que é óbvio logo desde o início que o Evan Walker é um Silenciador. Mais uma vez, romance Twilight style.

« Tinham passado apenas quatro anos desde o seu Despertar e ele ainda lutava para não ver o mundo sob o prisma humano. O seu corpo hospedeiro não era algo independente dele, manipulado como uma marioneta. Era ele. Os olhos que usava para ver o mundo eram os do hospedeiro. O cérebro que usava para interpretar, analisar, sentir e memorizar o mundo era o do hospedeiro (...). Ele era aquele corpo humano e o corpo era ele. »
A 5ª Vaga
Rick Yancey

A 5ª Vaga
Evan Walker e Cassie | Adaptação ao Cinema: A 5ª Vaga (2016)

Portanto, de uma forma geral, todos os capítulos com o ponto de vista da Cassie eram maus. 
Não há uma forma simpática de o dizer. 
Eram maus e a personagem era intragável.

Podia até atribuir a culpa ao autor e dizer que tinha falta de jeito mas, não achei que fosse esse o caso. 
Se fosse realmente falta de jeito do Rick Yancey, todo o livro seria mau, e não é isso que acontece.  Os capítulos que envolvem a Cassie são tão maus que chega a ser doloroso ler mas, os capítulos onde ela não aparece, como os passados na base Wright-Patterson e os que acompanham os recrutas são bastante interessantes pois aí é que se começa a desvendar o verdadeiro plano dos Outros.


A 5ª Vaga
Pelotão do Zombie | Adaptação ao Cinema: A 5ª Vaga (2016)

De uma forma geral, tal como disse no início, o livro não é horrível e até a Cassie, de Cassiopeia, vai ficando mais tolerável à medida que se avança na leitura. Ainda assim, ainda não decidi se valerá a pena ler os restantes livros da trilogia porque, de alguma forma, parece-me que já consigo adivinhar o que aí vem.
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