O Silo [Silo #1] (2012) de Hugh Howey

by - julho 19, 2018

Wool Hugh Howey
★★★★★

Sinopse:
Num mundo pós apocalíptico, encontramos uma comunidade que tenta sobreviver num gigantesco silo subterrâneo com centenas de níveis, onde milhares de pessoas vivem numa sociedade completamente estratificada e rígida, e onde falar do mundo exterior constitui crime. O exterior é um ambiente inóspito e tóxico, incapaz de albergar vida. As únicas imagens do que existe lá fora são captadas de forma difusa por câmaras de vigilância que deixam passar um pouco de luz natural para o interior do silo. Contudo, há sempre aqueles que têm esperança e sonhos... Há sempre quem se questione. Esses são considerados rebeldes, mentes perigosas que podem perturbar o equilíbrio de forças dentro da comunidade. E a esses é-lhes dado o que pretendem. São enviados para o exterior com a missão de limpar as câmaras, para que a luz volte a reavivar-se dentro do silo. O único problema é que os engenheiros ainda não encontraram maneira de garantir que essas pessoas regressem vivas. Ou, pelo menos assim se julga... Uma leitura fascinante que nunca pára de surpreender o leitor, com personagens bem caracterizadas e um ambiente rico em texturas e notações sensoriais onde paira o mistério sobre o distante apocalipse. Um livro que já foi comparado a 1984 de George Orwell e a Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley.


Opinião: Bem sei que há quem prefira ler os livros na sua versão original em inglês mas, quanto a mim, se puder escolher entre a versão original e a tradução para português, prefiro o último porque a leitura flui muito melhor. Infelizmente tenho um azar do caraças e é frequente querer muito ler um livro e vir a descobrir que não está traduzido. Isto torna-se particularmente irritante quando me deparo com uma trilogia em que apenas existe a versão portuguesa de um dos livros.

Um desses casos é O Silo.
Embora só um dos livros tenha sido traduzido e publicado pela Editorial Presença, O Silo é o primeiro livro de uma trilogia com o mesmo nome, composta por #1-Wool, #2-Shift e #3-Dust, cada um deles abordando uma janela temporal diferente.

A última vez que li este livro foi, talvez, há cerca de quatro anos. Claro que queria saber o que é que tinha acontecido depois e tentar perceber quem tinha criado o silo e porquê mas, lá está, não há tradução do #2-Shift nem do #3-Dust. No entanto, como este ano tenho lido alguns livros em inglês, achei que era o agora ou nunca e decidi encomendar os livros na wook e, enquanto espero que cheguem, aproveitei para reler o primeiro volume.

Sendo uma releitura, já tinha uma ideia geral daquilo que se iria passar e, embora não me recordasse de determinados pormenores, já não fui apanhada de surpresa quando começaram a surgir as primeiras revelações que me dificultaram a tarefa de pousar o livro na primeira vez que o li. Ainda assim, O Silo continua a ser, juntamente com o Metro 2033, um dos meus livros favoritos de ficção pós-apocalíptica.

O título revela-nos desde logo o cenário onde decorre a acção: um silo. Mas, ao contrário dos silos que conhecemos e que são usados para armazenar cereais, este tem vindo a servir de casa - ou será de prisão? - a sucessivas gerações de pessoas que nunca conheceram outra realidade nem se aventuraram no exterior.

O mundo fora do silo é « um mundo que os povos antigos tinham deixado ficar para trás » (O Silo, p.18), onde ventos tóxicos varrem a terra queimada e onde as hipóteses de sobrevivência são nulas. Aqueles que para lá são enviados sabem que estão condenados a uma sentença de morte.

Wool - The Graphic Novel (2014)
« Só conseguiu dar outra dezena de passos antes de a dor o atingir, mais intensa desta vez e o pior do que tudo aquilo que já sentira. Sentiu espasmos de vómito devido à intensidade da dor e deu graças por estar de estômago vazio. Agarrou-se à barriga do fato quando os joelhos lhe cederam num calafrio de fraqueza. Estatelou-se no chão e gemeu. Sentia o estômago a arder, o peito em fogo.»
O Silo (p.47)

Este cenário poderia ser suficiente para assegurar que todos no silo cumpririam aquilo que era esperado de si sem colocar em causa a Ordem. Se isso não chegasse, talvez os corpos dos que foram enviados para o exterior e que agora jazem nas colinas, ainda com os fatos protectores vestidos, servisse de dissuasor.

Mas não está na natureza humana viver confinado e por vezes surgem indivíduos curiosos, que ousam questionar o que nunca foi questionado e que espalham ideias perigosas, capazes de contagiar todo o silo.

« Alguns homens são como um vírus. A não ser que queiras ver desencadear-se uma praga, é preciso inocular o silo contra eles. Para os remover de vez.»
O Silo (p.487)

A solução encontrada « para lidar com as pessoas que querem sair do silo » (O Silo, p. 487) é enviá-las para o exterior com a tarefa de procederem à limpeza dos sensores que captam a imagem e que permitem, a quem está no interior, ter um vislumbre do que se passa lá fora. Estranhamente, e embora a maioria dos condenados comece por dizer que não vai limpar os sensores, todos acabam por fazê-lo... e de forma bastante entusiástica. Diria até, que parecem felizes quando o fazem.

Como se houvesse alguma coisa que quisessem que todos vissem.
Como se o exterior fosse, afinal, diferente daquilo que esperavam.
Como se tivessem todo o tempo do mundo entre as mãos.

Wool - The Graphic Novel (2014)


Todos, menos Juliette.
Juliette não só se recusa a limpar os sensores, como atravessa as colinas onde jazem os corpos de todos os outros condenados à limpeza. Mas, num mundo varrido por ventos tóxicos, o que poderá existir para lá da colina ?


Wool - The Graphic Novel (2014)

É esta incerteza, neste tipo de cenários, que me faz gostar tanto de ficção pós-apocalíptica e, acreditem quando vos digo que o autor vos vai manter na incerteza durante grande parte do livro.

Os segredos vão sendo revelados a pouco e pouco e nunca saberão nem mais, nem menos do que aquilo que o autor pretendem que saibam.

Embora já tivesse lido O Silo, tinha apenas uma ideia geral do cenário e não me recordava de detalhes importantes, o que foi bastante positivo porque fui andando ao sabor das ideias semeadas ao longo do livro e a tentar perceber o objectivo de tudo aquilo.

Porque é que vivem todos num silo ?
Porque é que ninguém chega ao outro lado da colina ?
Porque é que limpam as lentes com uma espécie de estranha alegria ?
Porque é que o departamento de TI consome tanta electricidade ?

Ainda assim, li algumas críticas no Goodreads que referem que o livro tem muito pouco interesse para o leitor, que as descrições são demasiado exaustivas e as personagens monótonas e desinteressantes. 



Pessoalmente, não concordo com nenhum destes aspectos.

Achei que as descrições estavam bem conseguidas e detalhadas mas sem se tornarem aborrecidas (aborrecidas achei as do livro O Nome da Rosa, livro que nunca consegui terminar apesar das diversas tentativas). 
Conseguimos sentir que estamos no silo, conseguimos sentir o peso dos 144 níveis e o ambiente opressivo. Mas, mais do que isso, conseguimos ter a perfeita noção de que há qualquer coisa de estranho naquilo tudo e que alguém conspira para que as coisas se mantenham da mesma forma. Ano após ano. Década após década. E um livro que nos consegue arrancar da nossa realidade e transportar-nos para um sítio diferente é um livro que merece a pena ser lido. Supostamente, todos os livros deveriam fazê-lo mas, sabemos bem que nem sempre isso acontece.

Quanto às personagens ... 
Já referi em críticas anteriores que este é um dos aspectos que mais valorizo num livro e que considero que uma personagem mal conseguida pode arruinar um excelente argumento, como aconteceu por exemplo no Nós ou em A 5ª VagaO Silo, no entanto, destaca-se pela riqueza de todas as personagens com que nos cruzamos ao longo da leitura. Até mesmo o Xerife Holston, que tem uma participação bastante breve, consegue cativar-nos logo desde o início. E o que dizer da Juliette, a heroína que vai colocar em causa as "verdades" do silo e entrar em conflito com aqueles que detêm o poder ? Bom, acreditem quando vos digo que passa por momentos bastante tensos que vos farão suster a respiração.




Outro aspecto que achei curioso, é que algumas das críticas negativas referem que o livro tem um ritmo tão lento que chega a tornar-se aborrecido.

Aborrecido ?!
A sério que não percebo.
No meio de tanta coisa a acontecer... Mas, cada um tem direito a achar o que bem entender.

O ritmo acelerado foi precisamente um dos aspectos de que gostei neste livro. Para o conseguir, o autor recorre a uma técnica muito utilizada mas, nem sempre com o mesmo sucesso: intercalar os capítulos. Ou seja, lemos um capítulo sobre o que está a acontecer num determinado espaço com determinadas personagens, o capítulo seguinte debruça-se sobre outro local e outros indivíduos, o capítulo a seguir aborda outro local e assim sucessivamente. Todos os acontecimentos interligados entre si, e todos eles cheios de incógnitas e grande tensão. Claro que os capítulos voam porque sentimos que há sempre alguma coisa em standby à qual queremos voltar rapidamente mas, às tantas queremos acompanhar todas as histórias ao mesmo tempo e então aí é que se torna realmente difícil pousar o livro.

Principalmente porque no silo nada é exactamente aquilo que parece e, à medida que vamos descobrindo a verdade, é inevitável que nos questionemos sobre se as pessoas não se terão limitado a fazer aquilo que tinha de ser feito para preservar aquela existência, ainda que oprimida em muitos aspectos.

Um dos melhores livros de ficção pós-apocalíptica que já li e que recomendo a todos aqueles que gostem de ambientes opressivo, grandes incógnitas e uma boa dose de suspense.


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