Ready Player One (2011) de Ernest Cline
Sinopse:
Em
2044 o mundo tornou-se um lugar triste, devastado por conflitos, escassez de
recursos, fome, pobreza e doenças. Wade Watts só se sente feliz na realidade
virtual conhecida como OASIS, onde pode viver, jogar e apaixonar-se sem
constrangimentos. Quando o criador do OASIS morre, deixa a sua imensa fortuna e
o controlo da realidade virtual a quem conseguir resolver os enigmas que aí
escondeu. Os utilizadores têm apenas como pistas a cultura pop dos anos 1980.
Começa assim uma frenética e perigosa caça ao tesouro.
Nos primeiros anos, milhares de jogadores tentam solucionar o enigma inicial
sem sucesso. Até que Wade por acaso desvenda a primeira chave. De um momento
para o outro, vê-se numa corrida desesperada para vencer o prémio, uma corrida
que rapidamente continua no mundo real e que põe em risco a sua vida.
Opinião:
Sabem aquelas alturas de “não
tenho nada para ler”, em que acabamos a deambular pelas livrarias, a olhar para
as prateleiras com uma lágrima no canto do olho por não haver nada que nos faça
sentir aquele clique ? Pois bem, estava já numa fase
avançada deste estado quando, numa das minhas incursões à livraria mais
próxima, tropecei acidentalmente no Ready Player One. Na primeira vez que peguei nele, achei a
sinopse interessante mas, como só existia a versão em inglês, acabei por não o
comprar. Foi preciso tropeçar uma segunda vez e estar já num estado ainda mais
avançado de “nada para ler” para decidir dar uma hipótese e... WOW !!!!!! Este
livro foi, praticamente desde as primeira páginas, catapultado para o meu top 5
de livros favoritos.
A acção começa no ano de 2044, onde praticamente toda a energia proveniente dos combustíveis fósseis foi já consumida, originando a Crise Global de Energia (essencialmente, deixou de haver energia para manter a civilização a funcionar), a várias alterações climáticas, à morte de animais e plantas em números recorde e a que muitas pessoas ficasse sem casa e sem comida. Os grandes centros urbanos foram invadidos por refugiados provenientes das áreas suburbanas e rurais circundantes, o que levou à escassez de habitação e, consequentemente, a que muita gente, entre os quais Wade Watts - o protagonista - acabasse a morar nos stacks.
Stacks, by Sanabria https://sanabria.deviantart.com |
É neste contexto que o OASIS (Ontologically Anthropocentric Sensory Immersive Simulation), um MMOG (Massive Multiplayer Online Game) criado por James Halliday e Ogden Morrow, surge como uma forma de escape à realidade:
" The OASIS, it's the greatest videogame ever created, and it only costs a quarter."
Por ser tão barato iludir realidade, praticamente toda a gente tem uma segunda-vida no OASIS (a mãe do Wade Watts, por exemplo, trabalha em telemarketing e num bordel), o que levou a que a GSS (Gregarious Simulation Systems), empresa fundada por James Halliday e Ogden Morrow, e que produz e opera do OASIS se tenha tornado extremamente lucrativa.
O ponto de partida para o desenrolar da acção começa quando James Halliday morre, deixando um testamento em vídeo que passaria a ficar conhecido como Halliday's Easter Egg Hunt. Nele, James Halliday explica que, algures no OASIS estão escondidas três chaves (cobre, jade e cristal). Quem as conseguir encontrar e passar os desafios, herdará não só a sua fortuna (avaliada em vários biliões), como lhe serão concedidos acessos de administrador a TODA a simulação OASIS e seus conteúdos. Aliciante, não ?
Claro que, a IOI (Innovative Online Industries), o maior fornecedor de serviços de internet do mundo, também achou a ideia aliciante, principalmente porque o maior volume de negócio provinha, precisamente, do fornecimento de acesso ao OASIS, assim como da venda de bens e serviços dentro da simulação. O IOI foca-se então em atingir um objectivo: ganhar a Halliday's Easter Egg Hunt e assim assumir o controlo da sua fortuna, da sua empresa, e do próprio OASIS ... e para isso, estão dispostos a TUDO, com a vantagem de que, ao contrário de outros gunters (egg (ovo) + hunter (caçador) = gunters) têm recursos ilimitados ...
O enredo é essencialmente este mas, falta a cereja no topo do bolo: James Halliday (à semelhança do autor do livro) era, se assim podemos dizer, um fanático dos anos 80. Portanto, quando o verso que daria início à Halliday's Easter Egg Hunt aparece, toda a gente que quis participar começou a tentar estabelecer relações com esta época.
"Three hidden keys open three secret gates
Wherein the errant will be tested for worthy traits
And those with the skill to survive these straits
Will reach The End where the prize awaits"
Ora, posto isto (que já dá para ter uma ideia mais concreta do livro e é mais completo do que a sinopse da contracapa), o que é que podem esperar do livro ?
Bem ... podem esperar usar todos os pedacinhos de tempo livre para ler porque, vão ficar colados ao livro (antes de o começarem a ler o melhor mesmo é avisar familiares e amigos que vão para um retiro espiritual ou qualquer dessas coisas que agora se faz, e que estarão incontactáveis durante alguns dias).
As referência aos anos 80 são muitas e não falamos de referências pontuais. Não se esqueçam que quem lançou o desafio é fanático pelos anos 80 e portanto, todas as pistas estão sempre, de alguma forma, relacionadas com esta época. Música, jogos, séries televisivas, filmes ... uma verdadeira - como li algures - nostalgia porn.
Na minha opinião, mesmo quem não conheça absolutamente nada dos anos 80, é capaz de gostar do livro porque, no final de contas, é uma espécie de ponte entre a nostalgia dos 80's e o cenário futurista em que todos vivemos imersos numa realidade virtual. MAS ... por outro lado, há uma ou outra referência que considero que, não se fazendo ideia do que se trata, se perde um pouco do efeito visual que o autor pretendia criar (como a referência à máquina Voight Kampff ou ao DeLorean). Felizmente hoje em dia, temos o mundo na ponta dos dedos e, há sempre a hipótese de se pesquisar na internet!
O mesmo se aplica à questão dos jogos. Na secção perguntas & respostas do site goodreads existe alguém que coloca a seguinte questão: "Só os gamers vão perceber, ou alguém que nunca jogou nenhum jogo de computador vai conseguir perceber o que se passa ?"
Acho que, de alguma forma, todos nós já jogámos um ou outro jogo. Mesmo quem nunca jogou, já deve ter ouvido falar de um ou outro. Mas, mesmo que vivam debaixo de uma pedra, é seguro avançar para a leitura. À semelhança das referências aos anos 80, aquilo que pode acontecer é haver certos pormenores que passam ao lado mas, lá está: internet! Se não tiverem internet, fiquem tranquilos que as descrições são excelentes e conseguem fazer uma boa ideia do que se trata. Pessoalmente, não sou nem nunca fui de jogos de computador. Os únicos jogos que me recordo de ter jogado são o Supermario, aquele dos patos em que depois aparecia um cão com eles na mão e o SIMS e, não senti que esta minha ignorância me tivesse impedido de apreciar o livro porque, o livro é MUITO mais do que referências aos anos 80.
Não sei se a intenção do autor era criar um 1984 futurista mas, tal como o George Orwell achou que em 1984 viveríamos numa tirania supervisionada pelo Grande Irmão, não me parece impossível que em 2044 o cenário caminhe para um semelhante ao do Ready Player One, onde as pessoas vivem num cenário virtual e o corpo existe no cenário real (tal como acontece no filme Surrogates).
Pontos-fortes:
- As referências aos anos 80 que criam um ambiente interessante e despoletam uma certa nostalgia
- A descrição dos cenários em que a imaginação é o limite (uma discoteca em que as pessoas flutuam no ar ? Feito! Um planeta inteiro com réplicas e réplicas da mesma casa? Feito!)
- A tensão existente entre a IOI e os Gunters, que nos leva muitas vezes a proferir impropérios quando os primeiros vão longe de mais (Os sacanas!)
- A capacidade de criar no leitor uma grande expectativa ao longo de toda a acção (E agora? Como é que ele vai a sair desta ? Eh pá ... De certeza que há um plano B!)
Pontos-fracos:
- Hum .... A angústia quando começamos a ver que, eventualmente, o livro vai chegar ao fim.
2 comments
Eu adoro as obras do Cline. Gostei muito também da adaptação do Spielberg. Esse filme é a melhor forma de retornar à ficção que o Spielberg poderia achar. Já tinha visto algumas boas críticas, mas o vi recentemente e realmente me surpreendeu, como um dos melhores filmes de ficção científica. Achei demais esse tipo de filme estar sendo trabalhado no Brasil. Do genero eu gostei muito do que foi lançado no ano passado, Jogador n1. E com a direção do Spielberg, é o melhor no que ele faz, de verdade. Gosto da sua obra e, mais ainda de ficção. Gostei muito do Jogador n1. Eu adorei este filme. Achei um dos melhores do gênero e adorei seus efeitos especiais. Adorei essa resenha! Eu adoro o universo geek. E amo ficção! Achei este filme sensacional, é muito bom! Sua historia é das mais interessantes que tem e algo que eu gosto muito são as adaptações dos livros.Já conhecia o livro, eu li faz muito tempo e é um dos meus preferidos. Gostei muito do filme e achei genial, cheio de boas referências. Jogador n1 é muito divertido! Já tinha visto algumas boas críticas, mas o vi recentemente e realmente me surpreendeu, como um dos novos filmes de aventura que já vi já que nos prende a respiração do início ao final e com belos efeitos especiais. Foi uma grande surpresa de animação. É um filme excelente. Maravilhoso trabalho do Spielberg!!! Super recomendo a todos.
ResponderEliminarOlá Adriana! Ao contrário de ti, eu não conhecia nada de Ernest Cline e o Jogador nº 1 só me chamou a atenção pela capa (costuma-se dizer "não julgues o livro pela capa" mas, neste caso, valeu a pena o julgamento). Fiquei completamente agarrada ao livro desde a primeira, até à última página! :)
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