O Filho de Rosemary (1997) de Ira Levin
★★★★☆
Sinopse:
A Semente do Diabo, romance que já se tornou um clássico,inquietou-nos com a história macabra do nascimento do filho de Satanás em Manhattan, nos nossos dias.
O Filho de Rosemary começa no dealbar do novo milénio - uma época em que a esperança humana é ensombrada pelo medo e pela incerteza e o mundo necessita imprescindivelmente de um salvador. É aqui - no fascinante cenário de Nova Iorque em 1999 - que Rosemary se reúne com o filho. É também aqui que se vai desenrolar a batalha entre o bem e o mal à escala global - uma luta de consequências assustadoras e imprevisíveis, não só para Rosemary e para o seu filho mas também para toda a Humanidade.
Opinião:
Antes de mais alerto que esta review está carregadinha de spoilers, não só deste livro, como também do livro anterior, A Semente do Diabo (1967). O busílis da coisa aqui, é que o final levantou tantas questões que não posso simplesmente estar para aqui a falar da história e ignorar o desfecho. Por isso, se estão a pensar em ler o livro e não querem a surpresa estragada, recomendo que fiquem por aqui. Se não se incomodam com spoilers ou já leram o livro, bem vindos!
O Filho de Rosemary foi publicado em 1997, 30 anos depois de A Semente do Diabo (1967), e 29 depois do filme que o popularizou. O porquê desta demora, talvez se deva ao facto de Ira Levin se ter embrenhado na escrita de Deathtrap (1978), peça que esteve em exibição na Broadway durante quatro anos - o que corresponde a cerca de 1.809 performances -, de 26 de Fevereiro de 1978 a 7 de Janeiro de 1982. Ou talvez estivesse simplesmente sem ideias. Não sei.
A história de O Filho de Rosemary (1997) tem início em Novembro de 1999, com Rosemary a acordar do coma em que esteve mergulhada desde 1972, isto é, durante cerca de 27 anos!
Ficamos a saber que foi o próprio Satanás o responsável pelo estado de coma de Rosemary. Era isso, ou « podia ter feito com que os bruxos tratassem de ti na devida altura ». E isto porque, pelos vistos, apesar de Rosemary ter dado a entender que aceitava que o filho fizesse parte da seita, tendo-o deixado inclusive participar em algumas cerimónias, a verdade é que planeava fugir com ele para bem longe de Minnie e Roman Castevet, evitando assim que a parte demoníaca dele emergisse.
Acontece que a coisa não lhe correu conforme planeado e o filho Andy, agora com 33 anos de idade, acabou mesmo por ser criado pelos Castevets e, de alguma forma, tornar-se numa celebridade mundial...
E porquê?
Porque as velas libertam um vírus qualquer que vai matar toda a gente.
Claro que só mesmo no fim do livro é que vamos perceber isto e, tal como tinha acontecido já com A Semente do Diabo (1967), também aqui ficamos na dúvida sobre se Andy é realmente quem diz ser, ou se esconde alguma coisa. Na maior parte das vezes, parece ser realmente bom e estar verdadeiramente preocupado com o bem estar mundial ... mas existem momentos em que o lado demoníaco dele emerge, sobretudo quando assistimos às tentativas de ter uma relação incestuosa com a mãe. Mas, um coisa tenho de dizer: apesar de dar uma de "virgem ofendida", Rosemary nunca me pareceu realmente incomodada com os avanços do filho e parece até que, de certa forma, há ali algum tipo de conflito interno... por um lado Andy é filho dela mas, por outro lado, é a única ligação ao passado que ela tem.
Seja como for, e apesar deste conflito interior ser interessante, achei a Rosemary deste livro muito diferente da que encontramos no primeiro.
Para pior.
Em A Semente do Diabo (1967), temos uma mulher que parece decidida a lutar para defender o filho. Em O Filho de Rosemary (1997), temos uma mãe intrometida que se mete em tudo quanto diz respeito ao filho, inclusivamente vários bitaites sobre como deve gerir certas reuniões ou entrevistas - coisa que ele já faz há bastante tempo, enquanto que ela esteve em coma - , que parece ter uma obsessão em disfarçar-se de Greta Garbo, que gosta de ir esbanjar dinheiro para a Gucci, Chanel e Hermès ... Enfim ... pessoalmente, gosto mais da versão anterior de Rosemary.
Já o filho, Andy, está muito bem conseguido e acaba por provocar uma sensação semelhante à que tivemos com o casal Castevet. Há ali qualquer coisa que não bate certo ... mas ao mesmo tempo, não há nada de concreto que possamos apontar. Claro que durante toda a leitura temos presente que ele é o Anticristo e que, à partida, a missão dele será trazer a desgraça ao mundo, mas parece tão boa pessoa. Tal e qual como os Castevets e já sabemos no que é que aquilo deu.
Outra coisa que não senti neste livro, foi aquela sensação de claustrofobia que esteve tão presente em A Semente do Diabo (1967). Aliás, em O Filho de Rosemary (1997), a sensação mais frequente foi a de irritação com o à vontadinha de Rosemary, sempre e coscuvilhar a vida do filho e a meter-se onde não era chamada.
Ainda assim, achei que o livro ia melhorando à medida que se aproximava do final e, quando achava que já tinha descoberto tudo, aparece o Diabo. Sim, Satanás em pessoa aparece para pregar Andy a uma parede como castigo porque, aparentemente, este mudara de ideias quanto a dizimar a humanidade. Lembram-se das velas que toda a gente deveria acender à meia noite? Pois parece que, quando acesas, libertariam um vírus mortal causando assim a morte a muitos milhões de pessoas. A questão é: será que Andy mudou mesmo de ideias e se tornou num tipo porreiro que afinal já não quer destruir o mundo? Tenho sérias dúvidas quanto a isso, mas acho bastante interessante a forma como Ira Levin nos consegue deixar neste dilema.
O final.
Muito se escreveu acerca do final.
Acredito que muita gente tenha tido acesas discussões a seu respeito.
A mim irrita-me de morte as coisas não ficarem claras.
Por outro lado, adoro quando as coisas não ficam claras.
É uma postura um bocado esquizofrénica mas, é como é.
Então, o Diabo "aparece" e ficamos a perceber que, afinal de contas, ele já por ali andava desde o começo do livro. Aliás, sempre por lá andou, a acompanhar Andy para onde quer que ele fosse, e depois também a acompanhar Rosemary. Também descobrimos que Andy sempre soube que o motorista era Satanás em pessoa e nunca disse nada a ninguém, o que nos leva a concluir que, afinal de contas, não era o santo redimido que queria dar a entender que era.
Naturalmente que, como não podia deixar de ser, e tal como acontece em muita literatura ou filmes em que apareça o Diabo, há sempre uma proposta tentadora envolvida...
Não cheguei a perceber qual era a contrapartida...
Ele oferece tudo isto em troca de quê? Da companhia dela?
Seja como for Rosemary aceita e ... acorda novamente em 1965.
Continua casada com Guy Woodhouse.
Não há filho nenhum.
Não há Castevets nem seitas satânicas.
E a verdade é que, embora livro não tenha sido extraordinário, este final deixou-me completamente rendida e acabei a tentar perceber qual a opinião acerca deste final.
Descobri que existem duas teorias:
De um lado, os que acreditam que é tudo efectivamente um sonho.
Simples.
Nunca houve Bramford, nem culto, nem criancinha diabólica.
E viveram felizes para sempre.
The end.
Do outro lado, os que acham que ela está no Purgatório e condenada a viver a mesma história vezes e vezes sem conta, e apontam várias pistas, como o facto de, ao acordar em 1965, ter conhecimento de coisas que só se passariam muitos anos depois. Um site onde exploram este aspecto muito bem é o willemaus.wordpress, e vale bem a pena passar por lá.
Pessoalmente, gosto muito mais da ideia de uma Rosemary presa num loop infinito, condenada a viver a mesma história vezes e vezes sem conta, sabendo de antemão qual será o resultado e nada podendo fazer em relação a isso.
O Filho de Rosemary (1997) será um daqueles livros que terei de reler, e com mais atenção aos detalhes, para ver se consigo solucionar o mistério. Seja como for, uma coisa é unânime: não existe uma resposta definitiva.
O Filho de Rosemary foi publicado em 1997, 30 anos depois de A Semente do Diabo (1967), e 29 depois do filme que o popularizou. O porquê desta demora, talvez se deva ao facto de Ira Levin se ter embrenhado na escrita de Deathtrap (1978), peça que esteve em exibição na Broadway durante quatro anos - o que corresponde a cerca de 1.809 performances -, de 26 de Fevereiro de 1978 a 7 de Janeiro de 1982. Ou talvez estivesse simplesmente sem ideias. Não sei.
A história de O Filho de Rosemary (1997) tem início em Novembro de 1999, com Rosemary a acordar do coma em que esteve mergulhada desde 1972, isto é, durante cerca de 27 anos!
« - Trouxeram-na para cá em Setembro de 1972 - disse o Dr. Atinson, pestanejando. - Há pouco mais de vinte sete anos. Antes disso, esteve quatro meses no Hospital de Nova Iorque. Os Fountain, fossem quem fossem, estabeleceram um fundo desde essa altura, para pagar a sua manutenção aqui.»
Ficamos a saber que foi o próprio Satanás o responsável pelo estado de coma de Rosemary. Era isso, ou « podia ter feito com que os bruxos tratassem de ti na devida altura ». E isto porque, pelos vistos, apesar de Rosemary ter dado a entender que aceitava que o filho fizesse parte da seita, tendo-o deixado inclusive participar em algumas cerimónias, a verdade é que planeava fugir com ele para bem longe de Minnie e Roman Castevet, evitando assim que a parte demoníaca dele emergisse.
« Andy é apenas o homem mais belo e mais carismático à face da terra. Apareceu há uns anos, não se sabe de onde... bom, veio de fora de Nova Iorque, mas ninguém o conhecia, e inspirou e uniu o mundo inteiro. Não no aspecto político, quer dizer, em termos de solidariedade e desejo de cooperação e respeito pelos outros. Andy fez-nos entender que, quer lhe chamássemos Deus, Alá ou Buda, somos todos filhos do mesmo Deus.»
A única coisa que este messias pede a toda a gente, e quando digo toda a gente, refiro-me mesmo ao mundo inteiro, é que acendam uma vela aquando da entrada no novo milénio, precisamente à meia noite hora de Greenwich. E porquê?
Porque as velas libertam um vírus qualquer que vai matar toda a gente.
Claro que só mesmo no fim do livro é que vamos perceber isto e, tal como tinha acontecido já com A Semente do Diabo (1967), também aqui ficamos na dúvida sobre se Andy é realmente quem diz ser, ou se esconde alguma coisa. Na maior parte das vezes, parece ser realmente bom e estar verdadeiramente preocupado com o bem estar mundial ... mas existem momentos em que o lado demoníaco dele emerge, sobretudo quando assistimos às tentativas de ter uma relação incestuosa com a mãe. Mas, um coisa tenho de dizer: apesar de dar uma de "virgem ofendida", Rosemary nunca me pareceu realmente incomodada com os avanços do filho e parece até que, de certa forma, há ali algum tipo de conflito interno... por um lado Andy é filho dela mas, por outro lado, é a única ligação ao passado que ela tem.
Seja como for, e apesar deste conflito interior ser interessante, achei a Rosemary deste livro muito diferente da que encontramos no primeiro.
Para pior.
Em A Semente do Diabo (1967), temos uma mulher que parece decidida a lutar para defender o filho. Em O Filho de Rosemary (1997), temos uma mãe intrometida que se mete em tudo quanto diz respeito ao filho, inclusivamente vários bitaites sobre como deve gerir certas reuniões ou entrevistas - coisa que ele já faz há bastante tempo, enquanto que ela esteve em coma - , que parece ter uma obsessão em disfarçar-se de Greta Garbo, que gosta de ir esbanjar dinheiro para a Gucci, Chanel e Hermès ... Enfim ... pessoalmente, gosto mais da versão anterior de Rosemary.
Já o filho, Andy, está muito bem conseguido e acaba por provocar uma sensação semelhante à que tivemos com o casal Castevet. Há ali qualquer coisa que não bate certo ... mas ao mesmo tempo, não há nada de concreto que possamos apontar. Claro que durante toda a leitura temos presente que ele é o Anticristo e que, à partida, a missão dele será trazer a desgraça ao mundo, mas parece tão boa pessoa. Tal e qual como os Castevets e já sabemos no que é que aquilo deu.
Outra coisa que não senti neste livro, foi aquela sensação de claustrofobia que esteve tão presente em A Semente do Diabo (1967). Aliás, em O Filho de Rosemary (1997), a sensação mais frequente foi a de irritação com o à vontadinha de Rosemary, sempre e coscuvilhar a vida do filho e a meter-se onde não era chamada.
Ainda assim, achei que o livro ia melhorando à medida que se aproximava do final e, quando achava que já tinha descoberto tudo, aparece o Diabo. Sim, Satanás em pessoa aparece para pregar Andy a uma parede como castigo porque, aparentemente, este mudara de ideias quanto a dizimar a humanidade. Lembram-se das velas que toda a gente deveria acender à meia noite? Pois parece que, quando acesas, libertariam um vírus mortal causando assim a morte a muitos milhões de pessoas. A questão é: será que Andy mudou mesmo de ideias e se tornou num tipo porreiro que afinal já não quer destruir o mundo? Tenho sérias dúvidas quanto a isso, mas acho bastante interessante a forma como Ira Levin nos consegue deixar neste dilema.
O final.
Muito se escreveu acerca do final.
Acredito que muita gente tenha tido acesas discussões a seu respeito.
A mim irrita-me de morte as coisas não ficarem claras.
Por outro lado, adoro quando as coisas não ficam claras.
É uma postura um bocado esquizofrénica mas, é como é.
Então, o Diabo "aparece" e ficamos a perceber que, afinal de contas, ele já por ali andava desde o começo do livro. Aliás, sempre por lá andou, a acompanhar Andy para onde quer que ele fosse, e depois também a acompanhar Rosemary. Também descobrimos que Andy sempre soube que o motorista era Satanás em pessoa e nunca disse nada a ninguém, o que nos leva a concluir que, afinal de contas, não era o santo redimido que queria dar a entender que era.
Naturalmente que, como não podia deixar de ser, e tal como acontece em muita literatura ou filmes em que apareça o Diabo, há sempre uma proposta tentadora envolvida...
« Para o caso de não teres visto onde isto leva... falo da Juventude Eterna, Rosie. Escolhe uma idade, vinte e três, vinte e quatro, o que quiseres serás assim para sempre. Sem dores, sem essas desagradáveis manchinhas castanhas, tudo em forma, como o motor de um Rolls Royce (...). Já tens idade para o apreciar, não é verdade? E eu ofereço-ta, não só os anos que perdeste, mas os anos seguintes, todos eles, num ambiente magnífico e não naquele inferno em que perdeste a tua vida.»
Não cheguei a perceber qual era a contrapartida...
Ele oferece tudo isto em troca de quê? Da companhia dela?
Seja como for Rosemary aceita e ... acorda novamente em 1965.
Continua casada com Guy Woodhouse.
Não há filho nenhum.
Não há Castevets nem seitas satânicas.
E a verdade é que, embora livro não tenha sido extraordinário, este final deixou-me completamente rendida e acabei a tentar perceber qual a opinião acerca deste final.
Descobri que existem duas teorias:
De um lado, os que acreditam que é tudo efectivamente um sonho.
Simples.
Nunca houve Bramford, nem culto, nem criancinha diabólica.
E viveram felizes para sempre.
The end.
Do outro lado, os que acham que ela está no Purgatório e condenada a viver a mesma história vezes e vezes sem conta, e apontam várias pistas, como o facto de, ao acordar em 1965, ter conhecimento de coisas que só se passariam muitos anos depois. Um site onde exploram este aspecto muito bem é o willemaus.wordpress, e vale bem a pena passar por lá.
Pessoalmente, gosto muito mais da ideia de uma Rosemary presa num loop infinito, condenada a viver a mesma história vezes e vezes sem conta, sabendo de antemão qual será o resultado e nada podendo fazer em relação a isso.
O Filho de Rosemary (1997) será um daqueles livros que terei de reler, e com mais atenção aos detalhes, para ver se consigo solucionar o mistério. Seja como for, uma coisa é unânime: não existe uma resposta definitiva.
Segue o blogue nas Redes Sociais!
0 comments