Erebos (2010) de Ursula Poznanski

by - setembro 07, 2020

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★★★★☆
Sinopse:
Numa escola de Londres um misterioso e viciante jogo de computador circula entre os estudantes, mas ninguém fala disso abertamente.
As regras do jogo são extremamente rígidas. Cada jogador tem apenas uma oportunidade e se perder nunca mais pode entrar no jogo; deve estar sempre sozinho e não pode falar a ninguém sobre o seu jogo. Quem violar estas instruções é também eliminado. O jogo é inteligente e interage com o jogador como se o vigiasse constantemente. As missões atribuídas devem ser concretizadas no mundo real.

Quando Nick Dunmore começa a jogar, sente-se de imediato absorvido, aprende as regras e avança rapidamente; contudo, vê-se forçado a questionar as implicações deste jogo perigoso. Qual o verdadeiro objetivo? E que segredo esconde? Um livro que os apreciadores de fantasia, jogos de computador, lendas urbanas, distopias, não devem perder.
Erebos é um jogo. Ele observa-te...

FontePoznanski, Ursula. Erebos. Barcarena: Editorial Presença (2015).


Opinião: Se não tivesse de trabalhar, tinha lido o livro todo de uma só vez. Acho que isto já dá para ter uma ideia de como a leitura foi compulsiva! Por norma, leio sempre antes de adormecer, o que acabou por se revelar problemático porque via os ponteiros a andar e pensava sempre « mais uma página » ou « mais um capítulo » e depois no dia seguinte era uma chatice...

Confesso que não sabia exatamente ao que ia quando comecei a ler Erebos. Sabia que era acerca de um jogo de computador que transpunha os limites do virtual e que, de alguma forma, ganhava vida. Imaginei algo parecido com o filme Guns Akimbo (2019), em que o jogo é transmitido em direto e os participantes têm de se matar uns aos outros no mundo real. Afinal, não era nada desse género e, pessoalmente, achei a história do Erebos muito mais interessante!

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Erebos é, entre outras coisas que depois descobrirão ao longo do livro, o nome de um jogo de computador que alguns alunos de uma escola londrina trocam entre si, sempre num clima de grande secretismo. Quem recebe o DVD pouco ou nada sabe acerca do seu conteúdo, para além de que se trata de uma coisa « incrivelmente cool » acerca da qual toda a gente parece sussurrar. No entanto, na primeira vez que acedem ao jogo e são informados pelo Mensageiro acerca das regras, fica claro o motivo pelo qual ninguém se atreve a falar acerca dele.

« Eis a primeira regra: só tens uma chance de jogares o Erebos. Se não a aproveitares, acabou-se. Se a tua figura morrer, acabou-se. Se não respeitares as regras, acabou-se. »

« Segunda regra: quando estiveres a jogar, tens que estar sozinho. No jogo, nunca menciones o teu verdadeiro nome, fora do jogo nunca menciones o nome da tua personagem. »

A terceira regra: o conteúdo do jogo é secreto. Não podes falar sobre ele com ninguém. Sobretudo com quem não esteja registado. Com os outros jogadores podes trocar opiniões junto às fogueiras, durante o jogo. Não divulgues informações no teu círculo de amizades ou na tua família. Não divulgues o jogo na internet. »

« Quarta regra: guarda o DVD de Erebos num local seguro. Vais precisar dele para iniciar o jogo. Nunca o copies a não ser que o Mensageiro o exija. »


Portanto, como já perceberam, o jogo dita as regras. Regras essas que se aplicam ao mundo virtual, mas também ao mundo real... e é isso que torna este livro tão interessante. Na prática, acabamos por ter a ação a decorrer em dois cenários: o cenário de Erebos, onde a nossa personagem principal encarna Sarius, um elfo da escuridão numa missão para se juntar aos mais poderosos guerreiros e derrotar Ortolan, e o cenário do mundo real. Pessoalmente, achei o cenário de Erebos muito mais interessante, sobretudo porque havia sempre alguma coisa a acontecer, fosse ela uma batalha para subir de nível, ou uma conversa junto à fogueira com os outros jogadores. Acho que este "excesso" de ação foi propositado e tinha como objetivo deixar o leitor de tal forma embrenhado no que se estava a passar em Erebos que, de cada vez que tivesse de se afastar, ficasse com a sensação que estava a perder alguma coisa e ansioso por regressar. Exatamente o mesmo que se estava a passar com praticamente todos os jogadores.

À medida que a história vai avançando, vemos que o jogo se vai projetando cada vez mais no mundo real, ao atribuir aos jogadores missões que devem ser realizadas não em Erebos, mas em Londres. A questão que se começa a levantar é: Como é isto possível ?! Afinal estamos a falar de um jogo de computador! Como é que conhece as localizações? Como é que faz os itens que fazem parte da missão aparecer lá? Parece uma espécie de Tron (1982) mas, em vez de importar pessoas reais para o jogo, exporta itens para o mundo real... Será essa a explicação ? Vão ter de ler o livro descobrir. E o melhor é que só mesmo no final é que o cenário fica desvendado.
 
TRON (1982)    TRON (1982)

Independentemente das teorias que possam surgir, o que é um facto é que, em troca de uma cura milagrosa depois de uma ferida que os excluiria dos jogos ou de subir um ou mais níveis, a maioria dos jogadores aceita cumprir as missões por mais perigosas, irrelevantes, ou ilegais que possam parecer. 

É um jogo, que ordena missões no mundo real, e os jogadores cumprem-nas. Achei a ideia muito interessante e ao mesmo tempo assustadora. Principalmente porque não tenho grandes dúvidas que não haveria quem não hesitasse em cumprir ordens de um jogo. Hoje em dia, e a troco de nada, as pessoas já aderem em massa aos Internet Challenges e fazem atrocidades como regar o corpo com líquido inflamável e auto inflamar-se (Fire Challenge), engolir cápsulas de detergente (Tide Pode Challenge) ... Por isso, por que razão não haviam também de cumprir desafios se isso lhes desse vantagem sobre outros jogadores ?


O interessante nisto tudo é que ninguém é obrigado a cumprir as missões atribuídas pelo Mensageiro de Erebos. Se recusarem, simplesmente deixam de poder jogar. Tão simples como isso. Não haverá nenhum tipo de represália, ninguém vai assassinar a família do jogador nem nada que se pareça. Eles simplesmente deixam de poder jogar e, como diz a primeira regra:« só tens uma chance de jogares o Erebos »

E há uma razão para tudo isto. Para as missões, para os segredos, para a existência do jogo em si. Pessoalmente, mantive-me na ignorância praticamente até ao fim do livro e sempre estive muito longe de adivinhar as motivações para tudo o que se passava, o que foi, sem dúvida alguma, um dos aspetos que mais apreciei neste livro. Acaba por ser uma espécie de thriller-young-adult com jogo de computador à mistura.

Ah, quase me esquecia: as personagens. Não achei que alguma delas fosse particularmente bem desenvolvida. Mas, por outro lado, o leque é tão vasto - sobretudo se considerarmos que a maioria existe em duplicado: mundo real e Erebos - que se a autora estivesse a desenvolver cada uma delas detalhadamente, o livro provavelmente deixava de proporcionar uma leitura tão rápida e emocionante.  


Assim, se procuram um livro com uma boa dose de mistério, ação e suspense, Erebos é uma opção a considerar seriamente. É verdade que está classificado como sendo destinado a uma faixa etária mais jovem, e o facto de parte da ação se passar no ambiente virtual de um jogo pode afastar alguns leitores que gostem de cenários mais realistas. Pessoalmente, foi um livro que adorei ler e que me manteve sempre curiosa acerca do que viria a seguir. Sem dúvida que recomendo!

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