Os Passageiros (2019) John Marrs

by - março 07, 2021


Sinopse:

Seria capaz de escolher que vida salvar?

Num futuro próximo, em que os veículos sem condutor já são comuns e considerados muito seguros, um pirata informático apodera-se do sistema operativo de oito carros, altera o destino programado e avisa os seus passageiros de que irão morrer dentro de horas.

A comissão constituída para avaliar acidentes com este tipo de veículos automáticos vê-se agora confrontada com uma missão muito mais difícil: seguindo as instruções do Hacker, terá de entrevistar cada um dos passageiros e decidir qual deles salvar. Câmaras ocultas nos carros asseguram uma transmissão mundial através das redes sociais e permitem acompanhar em direto o terror dos passageiros.

O Hacker parece saber tudo sobre os intervenientes, e, à medida que mais informações são reveladas sobre cada um deles, esta decisão difícil parece tornar-se impossível. Afinal, até que ponto permitimos que as primeiras impressões determinem o que pensamos acerca de alguém?




★★★★☆

Opinião:
Tudo começou com uma série da AMC chamada Soulmates, muito ao género do Black Mirror, e que nos transporta para um futuro não muito distante onde, através de um teste genético, passa a ser possível descobrirmos quem é a nossa verdadeira alma gémea.


Parece que afinal a série é um plágio pegado do livro The One, de John Marrs e os fãs do autor não estão contentes com a AMC. Por outro lado, a projeção que a série e esta polémica tiveram, levaram a que muitas pessoas - entre as quais eu me incluo - tivessem descoberto este autor que também já tem um negócio com a Netflix para a adaptação do livro.

Curiosamente, não comecei por ler Alma Gémea, mas sim Os Passageiros e posso garantir-vos uma coisa: se estão numa onda de techno-thrillers, este é uma excelente aposta!

A premissa é, por si só, bastante interessante. Dentro de dez anos, as viaturas conforme as conhecemos tornaram-se obsoletas e o Governo britânico prepara-se para banir totalmente a condução humana. O facto de os veículos totalmente autónomos garantirem um maior nível de segurança e conforto aos seus passageiros, aliado aos incentivos fiscais para a compra de um modelo mais recente e ao aumento dos custos do seguro automóvel para quem não faça a atualização, acabam por forçar as pessoas a optarem por versões cada vez menos dependentes da intervenção humana, até chegarem ao ponto em que esta é totalmente dispensável.


Mas apesar de todo automatismo, ocasionalmente ocorre um acidente do qual, por norma, o passageiro sai ileso. Isto porque os carros foram programados para proteger o seu ocupante e, entre baterem contra um poste, ou atropelarem uma família, irão sempre optar pelo que menos danos causa. E um corpo causa claramente menos danos do que um poste. 

Ora, sempre que um desses acidente sucede, o caso é analisado pelo ultra secreto Júri de Inquérito de Veículos, cujo objetivo consiste em decidir se a culpa é do carro, ou das pessoas mortas por ele ... curiosamente, o carro parece ter sempre razão. Eu que sou fã de teorias da conspiração, gostei da ideia e achei até bastante credível a existência de um júri claramente corrupto. Num cenário em que os carros autónomos fossem uma realidade, seria natural que existisse uma série de poderes económicos a exercer pressão para que a ideia resultasse e que estariam dispostos a tudo, para que assim fosse. Ou pelo menos assim parecesse.

Esse júri secreto é composto pelo chefe do Ministérios dos Transportes, representes do Conselho Geral de Medicina e do Conselho de Serviços Jurídicos, um "pluralista religioso" que representa todas as religiões e um membro rotativo do público que, neste caso, é uma das nossas personagens centrais, Libby Dixon.


A história dos membros dos júri irá cruzar-se com a de vários passageiros que naquela manhã, depois de entrarem nos respetivos carros, se viram completamente reféns de um hacker...

« A única coisa que precisas de saber neste momento é que, daqui a duas horas e trinta minutos, é altamente provável que estejas morto »

Através das câmaras integradas nas viaturas, e de câmaras ocultas que previamente instalou na sala onde o júri se reúne, o hacker vai permitir que o público assista em tempo real a tudo o que se passa, havendo até momento em que poderão votar para decidir quem vive e quem morre. Os hastags multiplicam-se e rapidamente o destino dos passageiros se torna numa espécie de fenómeno mundial, no qual as pessoas parecem entrar numa espécie de frenesim histérico, ansiosas por julgar com base nos seus próprios preconceitos. 

E a história vai avançando assim. Alternando entre o que se passa dentro de cada um dos carros, na sala onde o júri se reúne, e nas plataformas sociais. Mas enquanto isto, a história de fundo vai sendo preenchida com revelações acerca de cada um dos passageiros e, se no início todos eles parecem vítimas das circunstâncias, à medida que vamos avançando, apercebemo-nos que foram escolhidos pelos segredos que escondem. 


Portanto como podem ver, este livro tem todos os ingredientes que esta leitora aqui gosta! Temos os perigos dos avanços tecnológicos, que já vimos aqui no blogue em livros como The Circle, Quando a Luz Se Apaga ou O Armazém. Temos uma conspiração entre o poder governamental e os poderes económicos, com o objetivo de levar avante um projeto que pode não ser tão infalível como querem fazer querer. E, claro, a incontornável questão sobre os perigos se colocar a tomada de decisão nas mãos de uma inteligência artificial.

Para além dos temas, que por si seriam já suficientes para me manterem completamente agarrada ao livro, temos as constantes revelações e reviravoltas que são verdadeiros baldes de água fria. Achas que já estás a perceber o que se está a passar ? Pensa novamente! You know nothing John Snow

O modo como John Marrs conduziu algumas das votações para decidir quem morre também foram muito engenhosas, pois permite-nos, enquanto leitores e com base na informação que o hacker disponibiliza, decidirmos quem deve morrer a seguir e depois percebermos como fomos tão bem enganados e induzidos a decidir com base em meias verdades. Para mim, que gosto bastante do tema da manipulação das pessoas através das redes sociais, achei bastante interessante a forma como ele conseguiu ilustrar tão bem a facilidade com que se consegue moldar as tomadas de decisão filtrando a informação que se disponibiliza. Um pouco à semelhança do que alguns canais noticiosos têm feito no controlo da população com a campanha de terror que tem vindo a fazer desde o início da pandemia.

E agora vou voltar ao John Marrs, porque já ali tenho o The One à minha espera!

Boas Leituras

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