Drácula (1897) de Bram Stoker

by - fevereiro 08, 2019

Drácula Bram StokerDrácula Bram Stoker
★★★☆☆

Sinopse: 
Drácula, o sinistro conde da Transilvânia, só pode ser morto por uma estaca espetada em pleno coração. Até que alguém consiga fazê-lo, porém, continuará a alimentar-se do sangue dos inocentes, e estes, tornados mortos-vivos, passarão também a sofrer da insaciável sede do sangue.
Mas, como se conseguirá preparar uma armadilha a um monstro com vastos poderes e com a sabedoria dos séculos ? [Fonte: STOKER, Bram. Drácula. Mem Martins: Publicações Europa-América, 1994]


Opinião: 
O ano de 2018 foi dedicado, quase em exclusivo, a distopias e ficção científica. Não planeei nada disso ... simplesmente aconteceu.

Em Dezembro, decidi variar um bocadinho e ler A Hora do Vampiro e quando terminei, já que estava com vampiros entre as mãos, pensei: E se agora relesse o Drácula de Bram Stoker (08 Novembro 1847 - 20 Abril 1912) ?


Drácula Bram StokerDrácula Bram StokerDrácula Bram Stoker

O que vos posso dizer é que não foi uma leitura galopante e não havia maneira de conseguir embrenhar-me na história. Talvez porque tenha passado demasiado tempo e ler só ficção científica e me tenha custado muito mudar desse registo para o terror gótico. Talvez porque me estou a levantar às 05h30 da manhã para ir trabalhar num sítio, depois noutro, e ainda vou ao ginásio depois disso tudo. Bem vistas as coisas, já estou a ficar velhota para estas andanças e a verdade é que chego ao fim do dia completamente estafada e, apesar de levar sempre o livro para ler na cama, acabo por ler uma página e adormecer.

Mas, como o prometido é devido, a review de hoje é dedicada a este clássico que de certeza que a maioria de vós conhece ou, pelo menos já ouviu falar: Drácula de Bram Stoker (na verdade o título é apenas Drácula mas, o criador e a criação já estão de tal forma ligados que a maioria das pessoas, eu incluída, se refere ao livro mencionando o título e o autor).


Drácula Bram Stoker

A primeira vez que li o Drácula foi há 20 anos atrás e requisitei-o na biblioteca da escola (será que hoje em dia ainda têm destes livros nas bibliotecas da escola, ou será que os pais o acham demasiado ofensivo?). Na altura devia andar no 9.º ano e foi o primeiro livro assim mais grandito que li. Não sei porque é que o escolhi, mas sei que gostei tanto dele que até me lembro de quando o meu pai me comprou o exemplar - que é o que ainda hoje tenho - num hipermercado por 835 escudos.

Como sabem, também existe o filme.
Aliás, existem vários mas, para mim, "o" filme continua a ser o de 1992, de Francis Ford Coppola e, definitivamente, nunca houve nem haverá Drácula que se equipare a Gary Oldman. 


Drácula Bram Stoker

Já li o livro várias vezes, e já perdi a conta ao número de vezes que vi o filme.
Portanto, como imaginam, já cheguei àquele ponto em que os dois estão de tal forma misturados na minha cabeça que às vezes se torna difícil determinar com exactidão onde começa termina uma e começa a outra. Mas de uma coisa estou certa: não há vampiros brilhantes, triângulos amorosos que envolvem lobisomens, nem vampiros a frequentar a escola e a seduzir adolescentes com cara de enjoadas. 



Drácula foi publicado em 1897, época em que as senhoras respeitáveis usavam vestidos até aos pés e golas até ao pescoço. Portanto, já podem imaginar o  furor que determinadas cenas, pejadas de sensualidade e sexualidade implícitas, devem ter provocado ...


« Eu tinha medo de abrir os olhos, mas olhava e via-a perfeitamente sob as pestanas. A rapariga ajoelhou-se e inclinou-se para mim, simplesmente exultando com satisfação maligna. Havia uma voluptuosidade deliberada, que era ao mesmo tempo emocionante e repulsiva, e enquanto arqueava o pescoço, ela lambia os lábios como um verdadeiro animal (...) » (Fonte: Drácula, pg.46) 


O livro chega-nos sob a forma de um conjunto de cartas e diários escritos pelas personagens. Há quem seja da opinião que a ideia seria criar um conceito como o do Blair Witch Project, ou seja, que ficasse no ar a ideia que a documentação tinha sido encontrada algures e que tudo o que nela estava relatado podia eventualmente ser verdade. Se era realmente esse o objectivo mas, gostei da ideia...

A primeira documentação a que vamos ter acesso, é o diário de Jonathan Harker, o jovem advogado que parte para a Transilvânia a fim de auxiliar o Conde Drácula com « o assunto da compra da propriedade em Perfleet » (pg.30). Este diário, constitui a primeira parte do livro e será altravés dele que se estabelece o ambiente que irá dominar todo o livro: a existência de um mal omnipresente que se estende ao longo de toda a história. 

Bem vistas as coisas, a verdade é que o Conde Drácula, propriamente dito, raras vezes aparece durante o livro. Conseguimos perceber a sua presença através de um ou outro artigo de jornal que relatam estranhos acontecimentos mas, se estão à espera de um sugador de sangue de capa negra a percorrer as ruas à noite para sugar o sangue dos pescoços das donzelas, não o vão encontrar aqui.


Drácula Bram Stoker
Keannu Reeves (Jonathan Harker) e Gary Oldman (Drácula)
Drácula de Bram Stoker (1992)

Durante a sua viagem, o jovem Jonathan cruza-se com várias pessoas que o olham com um ar muito pesaroso, como se estivesse a ir ao encontro da própria morte mas, julgando tratar-se de superstições ou crenças características daquela zona dos Cárpatos, prossegue a sua viagem até ao castelo, não tardando no entanto a perceber que talvez as superstições dos outros viajantes não sejamt totalmente infundadas.


Pessoalmente, esta primeira parte é a minha favorita de todo o livro e a única que me deu realmente prazer voltar a ler! Adoro as ameaças veladas do Conde quando diz a Jonathan que os costumes dos Cárpatos são diferentes dos costumes londrinos e que, por esse motivo, algumas coisas poderão parecer estranhas (é uma forma de colocar as coisas...), e quando o adverte para a necessidade de manter certas portas fechadas, para sua própria segurança. Mas, mais do que isso, aquilo que gosto realmente é a transformação do Jonathan que, tal como o leitor, começa como um ignorante ingénuo que não vê nada de estranho naquelas advertências do Conde mas que, aos poucos, vai percebendo que talvez nunca mais regresse a casa...


Drácula Bram Stoker
Sadie Frost (Lucy Westenra) e Winona Ryder (Mina Murray)
Drácula de Bram Stocker (1992)

No resto do livro (sim, para mim o livro só tem duas partes: a parte inicial que serve de introdução ao Drácula, e o resto) vamos alargando o leque das personagens que, mais uma vez, vamos conhecendo através dos seus diários.

Teremos Mina Murray, a noiva de Jonathan Harker e a sua amiga Lucy Westenra. Ambas vão desempenhar papéis muito interessantes. A primeira, irá desempenhar um papel decisivo no desenrolar da história, sendo considerado por alguns leitores que personaliza a força feminina. A segunda, embora não nos acompanhe durante muito tempo, vai marcar a ruptura entre o antes e o depois da chegada de Drácula a Londres.

Outras personagens que também fazem parte da história são o Dr.Seward, que gere o asilo onde está internado R.M.Renfield - um tipo que supostamente tem um distúrbio que o faz acreditar que ingerir vidas lhe dá mais vida - e que será quem trará o Dr. Van Helsing - celebrizado na cultura pop como o intrépido caçador de vampiros - para a história.

Uma vez que as histórias que envolvem vampiros seguem quase sempre a mesma fórmula (à excepção daquelas que envolvem vampiros pedófilos que brilham ao sol), já podemos adivinhar o que se seguirá. Ainda assim, Drácula de Bram Stoker é uma história que vale a pena ler porque, embora o final seja conhecido, o caminho até lá chegar é tão sombrio quanto interessante.

Drácula Bram StokerDrácula Bram StokerDrácula Bram Stoker

Para começar, achei interessante a forma como o autor explorou o conflito interno das personagens, que procuravam encontrar respostas objectivas e científicas para o que se passava mas que, a determinado momento, se viram quase que forçadas a pôr de lado o seu cepticismo e aceitar uma explicação mais ... sobrenatural. 

É importante não esquecer que em 1897, quando o livro foi publicado, o conceito de vampiro não estava ainda tão disseminado como hoje em dia. Aliás, o nome Drácula não tinha nenhum significado em especial. Hoje em dia, creio que a maior parte das pessoas sabe quem é o Drácula ...

« Drácula já não é um livro. 
Drácula é um nome, um amplo estereótipo de um personagem que engloba vários aspectos e interpretações do nosso Conde favorito. » 
(Fonte: The Guardian)


Isto para dizer o quê ? 

Que actualmente o ideia de Drácula já está tão popularizada que, mesmo quem leia o livro pela primeira vez, estará certamente familiarizado com a maior parte dos conceitos, nomeadamente o facto de Drácula ser um vampiro e se alimentar de sangue. Em 1897 não.

Em 1897 as pessoas ficaram chocadas com um livro considerado « horrendo e arrepiante até ao último grau » (Fonte: Pall Mall Gazette, 1 de Junho, 1897), considerando « um erro artístico preencher um volume inteiro com horrores » (Fonte: Manchester Guardian, 15 de Junho, 1897) e que era um livro apenas para homens corajosos, que « conseguem desligar o gás e ir para a cama sem ter de olhar por cima do ombro mais de meia dúzia de vezes enquanto sobem as escadas » (Fonte: Pall Mall Gazette, 1 de Junho, 1897).


Drácula Bram StokerDrácula Bram Stoker

Mas, aquilo que tornou Drácula numa verdadeira figura de terror, não foi somente o seu aspecto ou capacidades, mas sim o facto de incorporar grande parte dos medos e inseguranças que marcavam o final da época vitoriana do Império Britânico, nomeadamente a usurpação da Londres capitalista por parte do velho senhor feudal; o estrangeiro que desviava jovens britânicas do recto caminho e as tornava promíscuas; o homem que recua na escada evolucionária, tornando-se algo inferior ... Drácula era, no fundo, uma espécie de anti-cristo que ameaçava a firme sociedade cristã (Fonte: Quora).

Pelo que tive oportunidade de pesquisar, o livro só ficou popularizado depois de Drácula ter ganho vida no cinema, transformando-se num ícone do terror. Seria interessante se, de alguma forma, Bram Stoker pudesse saber que 122 anos depois, cá estamos nós, a falar sobre uma personagem que ele criou.

E vocês, já leram o Drácula ?
Adorava saber o que acharam !

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