A Máquina Preservadora-1 (1969) de Philip K.Dick
★★★☆☆
Sinopse:
« A Máquina Preservadora » de Philip K.Dick é um livro de contos dos mais célebres de F.C. cujo título deriva de um deles, precisamente o que descreve uma máquina que preserva e conserva a realidade por mais obsessiva e medonha que se revele, projectando-a no futuro, conseguindo assim cristalizar no tempo, quer uma partitura de um grande compositor, que o mais terrível e espantoso dos seres. Inesquecível, espectacular pela grande intensidade onírica, pela imaginativa criação de situações fantásticas, este livro de Philip K. Dick concebe personagens espantosas que são confrontadas com momentos de terror quase paranóico e onde os engenhos têm um papel decisivo na luta contra a ameaça de aniquilação [Fonte: DICK, Philip.K.A Máquina Preservadora-1. Lisboa: Livros do Brasil, 1989]
« A Máquina Preservadora » de Philip K.Dick é um livro de contos dos mais célebres de F.C. cujo título deriva de um deles, precisamente o que descreve uma máquina que preserva e conserva a realidade por mais obsessiva e medonha que se revele, projectando-a no futuro, conseguindo assim cristalizar no tempo, quer uma partitura de um grande compositor, que o mais terrível e espantoso dos seres. Inesquecível, espectacular pela grande intensidade onírica, pela imaginativa criação de situações fantásticas, este livro de Philip K. Dick concebe personagens espantosas que são confrontadas com momentos de terror quase paranóico e onde os engenhos têm um papel decisivo na luta contra a ameaça de aniquilação [Fonte: DICK, Philip.K.A Máquina Preservadora-1. Lisboa: Livros do Brasil, 1989]
Opinião:
Depois de uma pequena pausa na leitura da colecção argonauta, durante a qual li A Hora do Vampiro e Drácula, cá estamos de volta à ficção científica, e desta vez com um autor já conhecido de reviews anteriores: Philip K.Dick.
Depois de uma pequena pausa na leitura da colecção argonauta, durante a qual li A Hora do Vampiro e Drácula, cá estamos de volta à ficção científica, e desta vez com um autor já conhecido de reviews anteriores: Philip K.Dick.
Infelizmente, mais uma vez, consegui comprar um livro sem reparar que se tratava de uma compilação de contos, apesar de isso estar escrito na sinopse. A sério que não sei como é que continuo a cometer esta proeza vezes sem conta...
Claro que depois, durante a leitura, tive de lutar constantemente com a minha aversão aos contos - decididamente um género de que não consigo gostar - e tentar manter-me focada no facto de serem contos do Philip K.Dick.
Ora, o facto de serem deste autor tem um lado positivo e negativo.
O lado positivo, é que os contos são completamente alucinados.
O lado negativo, é que são completamente alucinados.
O livro está dividido em dois volumes: A Máquina Preservadora-1 e A Máquina Preservadora-2. Tratando-se de uma compilação de contos, não vejo grande desvantagem em debruçar-me sobre cada um dos livros em separado, portanto hoje vamos só falar acerca do primeiro, que é composto pelos seguintes contos:
1. A Máquina Preservadora ________________ pág.5 a 17
2. O Jogo de Guerra _____________________ pág.18 a 42
3. E se Benny Cemoli não Existisse ? ________ pág.43 a 73
4. Roog _______________________________ pág.74 a 80
5. Veterano de Guerra ____________________ pág.81 a 146
6. O Melhor Lugar de Reserva ______________ pág.147 a 173
7. E Lá no Fundo Vivem os Wubs ___________ pág.174 a 185
8. Recordações por Atacado _______________ pág.186 a 217
Gostei mais de uns do que de outros mas, de uma forma geral, e apesar de eu não ser uma pessoa de short-stories, a experiência geral até foi positiva, embora com uns altos e baixos pelo caminho. Houve um ou outro conto que comecei a ler na diagonal, mas rapidamente cheguei à conclusão que isso não era viável porque ao fim de dois parágrafos já tinha perdido completamente a noção do que se estava a passar.
Se já tiveram oportunidade de ler alguma coisa de Philip K.Dick (no Índice de Autores podem encontrar as reviews de alguns dos livros dele) saberão que existem certas temáticas que estão presentes em praticamente toda a sua obra, nomeadamente: paranóia, cenários pós-apocalípticos, lutas pelo poder, corporações com objectivos manhosos e, por vezes, um final bastante ambíguo que deixa os acontecimentos subsequentes à imaginação do leitor. Neste livro, para além dessas imagens de marca do autor, notei que havia uma outra temática recorrente: o facto da Terra ter contacto com seres de outros planetas, ora porque eles nos invadiram, ora porque vivemos em comunidade com eles. Curiosamente, este foi um tema com que ainda não me tinha deparado em nenhum dos seus livros anteriores mas do qual até gostei, principalmente porque o autor coloca as coisas de forma bastante verossímil, em que o cerne da questão nem sequer é esse contacto, mas sim as manobras de bastidores que vão surgindo para que esta ou aquela facção ganhe a supremacia.
Vamos então aos contos.
A Máquina Preservadora (título original: The Preserving Machine) foi publicado pela primeira vez em Junho de 1953 na revista Fantasy & Sciece Fiction (ler esta edição da Fantasy & Sciece Fiction online) e fala-nos de um inventor, o Doctor Labyrinth que, « como todas as pessoas que lêem muito e que têm demasiado tempo disponível (...) estava profundamente convencido de que o nosso mundo actual, a nossa sociedade, desapareceria como as de antanho, seguindo-se um novo período de trevas » (pg.6). De entre todas as coisas que desapareceriam, « música representaria talvez a maior perda, a que mais depressa seria esquecida » (pg.6).
Para evitar então que a música desaparecesse, Doctor Labyrinth decide criar uma máquina, à qual chama "a máquina da preservação", cujo objectivo seria «processar as partituras e transformá-los em seres vivos » (pg.7). O funcionamento era muito simples: de um lado inseria-se a partitura, do outro saía o animal.
Acabamos assim com um « pássaro mozart (...) bonito, pequeno e esguio, com a plumagem fluida de um pavão » (pg.8), um « escaravelho beethoven, rígido e muito digno » (pg.9), « o animal schubert (...) estúpido, uma criatura adolescente algo parecida com um carneiro, a correr sem tino, apatetado e sempre à procura de brincadeira » (pg.9), o « animal wagner (...) grande e profusamente colorido» (pg.9) e por aí fora...
O bosque nas traseiras da casa, foi ficando cheio destas criaturas e, a determinado ponto, o inventor da máquina percebe que o processo de transformação escapara completamente ao seu controlo e que « as criaturas estavam a ser subjugadas por uma força insondável e impessoal, uma força de Labyrinth não conseguia ver e muito menos compreender » (pg.10).
1. A Máquina Preservadora ________________ pág.5 a 17
2. O Jogo de Guerra _____________________ pág.18 a 42
3. E se Benny Cemoli não Existisse ? ________ pág.43 a 73
4. Roog _______________________________ pág.74 a 80
5. Veterano de Guerra ____________________ pág.81 a 146
6. O Melhor Lugar de Reserva ______________ pág.147 a 173
7. E Lá no Fundo Vivem os Wubs ___________ pág.174 a 185
8. Recordações por Atacado _______________ pág.186 a 217
Gostei mais de uns do que de outros mas, de uma forma geral, e apesar de eu não ser uma pessoa de short-stories, a experiência geral até foi positiva, embora com uns altos e baixos pelo caminho. Houve um ou outro conto que comecei a ler na diagonal, mas rapidamente cheguei à conclusão que isso não era viável porque ao fim de dois parágrafos já tinha perdido completamente a noção do que se estava a passar.
Se já tiveram oportunidade de ler alguma coisa de Philip K.Dick (no Índice de Autores podem encontrar as reviews de alguns dos livros dele) saberão que existem certas temáticas que estão presentes em praticamente toda a sua obra, nomeadamente: paranóia, cenários pós-apocalípticos, lutas pelo poder, corporações com objectivos manhosos e, por vezes, um final bastante ambíguo que deixa os acontecimentos subsequentes à imaginação do leitor. Neste livro, para além dessas imagens de marca do autor, notei que havia uma outra temática recorrente: o facto da Terra ter contacto com seres de outros planetas, ora porque eles nos invadiram, ora porque vivemos em comunidade com eles. Curiosamente, este foi um tema com que ainda não me tinha deparado em nenhum dos seus livros anteriores mas do qual até gostei, principalmente porque o autor coloca as coisas de forma bastante verossímil, em que o cerne da questão nem sequer é esse contacto, mas sim as manobras de bastidores que vão surgindo para que esta ou aquela facção ganhe a supremacia.
Vamos então aos contos.
A Máquina Preservadora (título original: The Preserving Machine) foi publicado pela primeira vez em Junho de 1953 na revista Fantasy & Sciece Fiction (ler esta edição da Fantasy & Sciece Fiction online) e fala-nos de um inventor, o Doctor Labyrinth que, « como todas as pessoas que lêem muito e que têm demasiado tempo disponível (...) estava profundamente convencido de que o nosso mundo actual, a nossa sociedade, desapareceria como as de antanho, seguindo-se um novo período de trevas » (pg.6). De entre todas as coisas que desapareceriam, « música representaria talvez a maior perda, a que mais depressa seria esquecida » (pg.6).
Para evitar então que a música desaparecesse, Doctor Labyrinth decide criar uma máquina, à qual chama "a máquina da preservação", cujo objectivo seria «processar as partituras e transformá-los em seres vivos » (pg.7). O funcionamento era muito simples: de um lado inseria-se a partitura, do outro saía o animal.
Acabamos assim com um « pássaro mozart (...) bonito, pequeno e esguio, com a plumagem fluida de um pavão » (pg.8), um « escaravelho beethoven, rígido e muito digno » (pg.9), « o animal schubert (...) estúpido, uma criatura adolescente algo parecida com um carneiro, a correr sem tino, apatetado e sempre à procura de brincadeira » (pg.9), o « animal wagner (...) grande e profusamente colorido» (pg.9) e por aí fora...
O bosque nas traseiras da casa, foi ficando cheio destas criaturas e, a determinado ponto, o inventor da máquina percebe que o processo de transformação escapara completamente ao seu controlo e que « as criaturas estavam a ser subjugadas por uma força insondável e impessoal, uma força de Labyrinth não conseguia ver e muito menos compreender » (pg.10).
« A música conseguiria efectivamente
sobreviver sob a forma de criaturas vivas,
mas o velho esquecera-se da lição do Jardim
do Éden: uma vez criadas, as coisas
adquirem existência própria, e como tal deixam
de pertencer ao seu criador, que perde o poder
de as moldar a seu bel-prazer » (pg.13)
Na minha opinião, este foi um péssimo conto para começar. Eu que não gosto nada de contos, fiquei logo a pensar que, se fossem todos assim, dificilmente conseguiria chegar ao fim do livro.
Bem... o que dizer ? Vamos entrar em filosofias ou abstrair-nos disso ?
Diria que, se virmos o livro preto no branco, é sobre um tipo que inventa uma máquina que transforma música em animais e alguma coisa corre mal no processo. Mas, sabem que adoro extrapolar e imaginar coisas onde elas não existem - ou se calhar existem, vá-se lá saber - e portanto, para mim, o livro foi sobre a impossibilidade de preservar a essência da música, porque a própria música se transforma em função do contexto em que se insere. Pensem, por exemplo, em qualquer um dos compositores referidos neste livro. Génios no seu tempo mas, actualmente, o que está a dar são coisas como a "Anaconda" ou o "Gangnam Style". Imaginem o que é que as pessoas que dançavam naqueles bailes ao som das orquestras acharia se lhes dissessem que, em 2019, o que estaria na moda era o twerk.
Bem... o que dizer ? Vamos entrar em filosofias ou abstrair-nos disso ?
Diria que, se virmos o livro preto no branco, é sobre um tipo que inventa uma máquina que transforma música em animais e alguma coisa corre mal no processo. Mas, sabem que adoro extrapolar e imaginar coisas onde elas não existem - ou se calhar existem, vá-se lá saber - e portanto, para mim, o livro foi sobre a impossibilidade de preservar a essência da música, porque a própria música se transforma em função do contexto em que se insere. Pensem, por exemplo, em qualquer um dos compositores referidos neste livro. Génios no seu tempo mas, actualmente, o que está a dar são coisas como a "Anaconda" ou o "Gangnam Style". Imaginem o que é que as pessoas que dançavam naqueles bailes ao som das orquestras acharia se lhes dissessem que, em 2019, o que estaria na moda era o twerk.
O Jogo de Guerra (título original: War Game) foi publicado pela primeira vez na edição de Dezembro de 1959 da revista Galaxy (ler WarGames online) e fala-nos, precisamente, de um jogo de guerra.
A Terra faz agora várias trocas comerciais com outros planetas e luas e, um dos seus principais fornecedores de brinquedos é Ganimedes, o principal satélite natural de Júpiter. No entanto, « qualquer produto ganimedeano era alvo de atenções muito especiais » (pg.19) por parte do Instituto Terreno de Padrões de Importação, onde todos os funcionários do laboratório « conheciam de cor e salteado as instruções especiais do Governo cheyenne quanto aos Perigos de Contaminação por Partículas de Culturas Hostis contra Populações Urbanas Inocentes » (pg.20).
Um dos brinquedos testados é o Jogo de Guerra, um jogo semi autónomo em que um conjunto de doze soldadinhos tem de tentar entrar na cidadela fortificada. A única coisa que o jogador tem de fazer é dizer « façam outra coisa », e os soldadinhos voltam a reagrupar-se e a tentar um tipo de estratégia diferente. Isto semana, após semana ... após semana.
A determinado ponto, a equipa responsável por testar o jogo, começa a desconfiar que algo se passa. Afinal de contas, o jogo não pode ser só isto. Ou será que pode ? Terá o jogo algum objectivo malévolo que lhes esteja a escapar ? Talvez no interior da cidadela exista alguma bomba colocada pelos Ganimedeanos...
Ou talvez o verdadeiro perigo não esteja num jogo que parece perigoso, mas sim num outro que se afigura totalmente inócuo por ter algumas semelhanças com o nosso Monopólio... MUAHAHAHAHA. No entanto, este jogo, a que os Ganimedeanos chamam Síndrome, subverte completamente o objectivo do Monopólio pois, enquanto que num o objectivo é ganhar dinheiro, no outro o propósito é chegar ao fim sem um cêntimo na carteira.
Com este conto, as coisas começaram a aquecer e, tal como as personagens, também eu fui manipulada com mestria e mantive-me completamente focada no Jogo de Guerra, ignorante os restantes brinquedos que iam surgindo. Neste aspecto, achei que o conto estava genial e foi o único que me manteve realmente na expectativa do início ao fim, sempre em grande antecipação sobre o que estaria para acontecer.
No final, a conclusãoa que cheguei é a de que o Jogo de Guerra não passava de uma manobra de diversão que visava afastar as atenções do jogo realmente perigoso: o Síndroma. Parece-me que a ideia dos Ganimedeanos era, através desta componente didáctica, educar as crianças para a ideia de que não ter nada é sinónimo de vitória e assim, aos poucos e poucos, começar a fazer uma lavagem ao cérebro das gerações mais novas para que, daqui a uns anos, tenham caminho aberto para o domínio da Terra.
Estão a ver o que vos dizia acerca de finais abertos ?
A Terra faz agora várias trocas comerciais com outros planetas e luas e, um dos seus principais fornecedores de brinquedos é Ganimedes, o principal satélite natural de Júpiter. No entanto, « qualquer produto ganimedeano era alvo de atenções muito especiais » (pg.19) por parte do Instituto Terreno de Padrões de Importação, onde todos os funcionários do laboratório « conheciam de cor e salteado as instruções especiais do Governo cheyenne quanto aos Perigos de Contaminação por Partículas de Culturas Hostis contra Populações Urbanas Inocentes » (pg.20).
Um dos brinquedos testados é o Jogo de Guerra, um jogo semi autónomo em que um conjunto de doze soldadinhos tem de tentar entrar na cidadela fortificada. A única coisa que o jogador tem de fazer é dizer « façam outra coisa », e os soldadinhos voltam a reagrupar-se e a tentar um tipo de estratégia diferente. Isto semana, após semana ... após semana.
A determinado ponto, a equipa responsável por testar o jogo, começa a desconfiar que algo se passa. Afinal de contas, o jogo não pode ser só isto. Ou será que pode ? Terá o jogo algum objectivo malévolo que lhes esteja a escapar ? Talvez no interior da cidadela exista alguma bomba colocada pelos Ganimedeanos...
Ou talvez o verdadeiro perigo não esteja num jogo que parece perigoso, mas sim num outro que se afigura totalmente inócuo por ter algumas semelhanças com o nosso Monopólio... MUAHAHAHAHA. No entanto, este jogo, a que os Ganimedeanos chamam Síndrome, subverte completamente o objectivo do Monopólio pois, enquanto que num o objectivo é ganhar dinheiro, no outro o propósito é chegar ao fim sem um cêntimo na carteira.
Com este conto, as coisas começaram a aquecer e, tal como as personagens, também eu fui manipulada com mestria e mantive-me completamente focada no Jogo de Guerra, ignorante os restantes brinquedos que iam surgindo. Neste aspecto, achei que o conto estava genial e foi o único que me manteve realmente na expectativa do início ao fim, sempre em grande antecipação sobre o que estaria para acontecer.
No final, a conclusãoa que cheguei é a de que o Jogo de Guerra não passava de uma manobra de diversão que visava afastar as atenções do jogo realmente perigoso: o Síndroma. Parece-me que a ideia dos Ganimedeanos era, através desta componente didáctica, educar as crianças para a ideia de que não ter nada é sinónimo de vitória e assim, aos poucos e poucos, começar a fazer uma lavagem ao cérebro das gerações mais novas para que, daqui a uns anos, tenham caminho aberto para o domínio da Terra.
Estão a ver o que vos dizia acerca de finais abertos ?
Segue-se o conto E se Benny Cemoli Não Existisse ? (original: If There Were no Benny Cemoli?) que, na minha opinião, foi um dos mais conspiratórios do livro. Publicado pela primeira vez em Dezembro de 1963 na revista Galaxy (ler If There Were no Benny Cemoli? online) transporta-nos para dez anos depois da Desgraça, uma guerra nuclear que teve lugar em 2179, e que destruiu a quase totalidade da superfície da Terra.
O conto começa com a chegada de uma armada de Proxima Centauros, « formada por burocratas e agentes comerciais » (pg.45), e que constituem o Gabinete de Renovação Urbana de Centaurus (GRUC) e que tem como objectivo levar a cabo um projecto de reconstrução. Isto porque, embora tenham chegado alguns bons samaritanos depois do desastre, supostamente carregados de boas intenções, a realidade é que a única intenção que tinham era a de enriquecer.
Como seria de esperar, o Conselho formado por estes "bons samaritanos" opõe-se de imediato a que o GRUC se estabeleça na Terra mas, Peter Hood (GRUC), acaba por se estabelecer precisamente no centro da cidade de Nova York e, como se não bastasse, decide reactivar um dos jornais mais relevantes: o New York Times. Um dos detalhes de que mais gostei, tem precisamente a ver com o jornal. Ao contrário do que acontece actualmente, em que temos jornalistas, redactores, fotógrafos, revisores de texto e toda uma equipa a trabalhar na edição e impressão do produto final, em E se Benny Cemoli Não Existisse? o jornal é auto-suficiente, imprime-se e distribui-se a si mesmo. Essencialmente, o que acontece é que, através de um processo de vigilância contínua e abrangente da sociedade, o jornal capta e filtra a informação mais relevante, divulgando-a depois das duas edições. Ou seja, a ideia é a de que o jornal seria totalmente independente de pressões ou interferências políticas. Mas, será que é mesmo ?
Para mim, este não foi um daqueles contos que me tivesse deixado agarrada ao livro, como aconteceu com O Jogo de Guerra. No entanto, não deixa de apresentar uma perspectiva interessante: o de grandes corporações que, sob o pretexto de ajudar, aquilo que fazem é tomar partido das fragilidades daqueles a que elas estão sujeitos. Vamos sair do mundo da ficção e pegar no exemplo do crédito automóvel, ou crédito pessoal. Sabiam que em 2017 « os bancos e as instituições de crédito disponibilizaram perto de sete mil milhões de euros em empréstimos de consumo? » (Fonte: eco.sapo) atingindo assim um novo recorde ? Com a recuperação económica, as pessoas sentem-se mais confiantes para gastar o que têm - e pelos vistos também o que não têm - e lá vêm as instituições de crédito para ajudar toda a gente a concretizar os seus sonhos a taxas de juro absurdas. E lá estarão para as continuar a aplicar, mesmo quando as pessoas deixarem de ter dinheiro para as pagar. Agora, temos também o Governo que quer aumentar o valor da água por causa da seca mas... não me recordo de alguma vez o terem reduzido devido às cheias ...
Pessoalmente, achei que este E se Benny Cemoli Não Existisse? é um daqueles contos mais virados para a reflexão, como muitos dos contos de Philip K.Dick. Não é especialmente profícuo em acção do género *shot *shot *bang *bang mas é suficientemente animado para não se perder o interesse.
Roog (original: Roog) é o conto que se segue e acerca do qual já tinha ouvido falar num documentário sobre a vida de Philip K.Dick. Escrito em 1951, foi o primeiro conto que o autor vendeu, tendo sido publicado na revista Fantasy and Science Fiction (ler Roog online) em Fevereiro de 1953.
Segundo li, o autor ter-se-á inspirado num cão chamado Snooper, que tinha por hábito ladrar aos homens da recolha do lixo. Neste conto, o que Philip K.Dick faz é, de certa forma, tentar explicar o motivo pelo qual isso acontece, e a explicação que ele encontra é tão ambígua e irrealista - ou será que é mesmo irrealista ? - que se tornou num dos meus contos favoritos.
Ora ao que parece, os senhores da recolha do lixo são da verdade Roogs, criaturas que vasculham o lixo e que, aparentemente, pretendem fazer mal aos humanos. Na realidade, em momento algum do conto me pareceu existir uma ameaça explícita ou direccionada mas, sentimos que ela está lá.
Os cães são vistos pelos Roogs como os Guardiães, representando o último obstáculo entre eles e os seres humanos. Portanto, sempre que o cão ladra, aquilo que ouvimos é « woof woof » mas na verdade, o que ele está a dizer é « roog roog », numa tentativa desesperada de alertar o humano para o perigo que aí vem.
E porque é que uma história, aparentemente tão básica, é uma das minhas favoritas do livro ?
Porque é ambígua e porque cria a dúvida ...
Será que o cão era maluco ?
Ou seriam os Roogs reais ?
Veterano de Guerra (original: War Veteran) foi publicado pela primeira vez em Março de 1955 e é uma daquelas conspirações mesmo à Philip K.Dick.
O Melhor Lugar de Reserva (original: Top Stand-By Job) foi publicado pela primeira vez na edição de Outubro de 1963 da revista Amazing e, na minha opinião, ilustrou de forma brilhante a ganância, corrupção e megalomania de alguns indivíduos que ascendem ao poder.
O conto começa quando Jim Briskin, um pivot bastante conhecido - que pela descrição me fez lembrar o Conan O'Brien - é informado pelo presidente que uma frota alienígena composta por 800 naves está prestes a chegar à Terra.
Não fosse isto suficiente, o Presidente, que agora é um super computador chamado Unicephalon 40-D, é desactivado remotamente pelos alienígenas e, o seu substituto, Gus Schatz, morre.
Entra então em cena Maximilian Fischer, um tipo ocioso e obeso, que seria o substituto de Gus Schatz caso alguma coisa acontecesse. Ora, reparem que o Gus era o substituto do Presidente que, por esta altura, também estava fora de cena. Portanto, Maximilian é catapultado do anonimato e ócio total para a presidência do país e, como Lord Actoon diria: power corrupts, absolute power corrupts absolutely.
E Lá no Fundo Vivem os Wubs (original: Beyond Lies the Wub) foi publicado em 1952 no Planet Stories (ler Beyond Lies the Wub online) e foi um conto que tive de voltar atrás para reler e mesmo assim não o percebi. Só quando comecei a ler outras reviews é que se fez luz e um grande « ahhhhhh ».
Conta-nos a história de uma nave que anda em expedição interplanetária e que, numa das suas paragens, um dos tripulantes leva para bordo um wub: uma espécie de porco peludo com cerca de 200 quilos.
Após a descolagem, começam a surgir algumas quezílias entre a tripulação e o Capitão Franco porque, enquanto que os primeiros se sentem curiosos em relação àquela nova criatura, o Capitão apenas vê nela a sua próxima refeição.
Esta discórdia ainda se acentua mais quando descobrem que o wub é, afinal, uma criatura senciente pois, senciente ou não, o capitão está determinado em descobrir se fica melhor com batatinhas a murro ou com arroz de grelos.
Não vou entrar em grandes detalhes relativamente a este conto para não vos estragar a surpresa mas, na opinião de algumas pessoas, o wub dá voz a algumas das críticas de Philip K.Dick relativamente ao facto da humanidade ter evoluído tanto em certos aspectos, como por exemplo, a descoberta da bomba atómica, mas que, por outro lado, ignorou completamente o desenvolvimento ético e moral, levando a que nos tenhamos tornado em serem com um tremendo poder entre as mãos mas, sem um limite moral que nos impeça de o utilizar.
Recordações por Atacado (original: We Can Remember It For You Wholesale) foi originalmente publicado na edição de Abril de 1966 da revista Fantasy and Science Fiction e é nada mais, nada menos, do que o conto que inspirou o filme Total Recall. Lembram-se ? Um filme com o Arnold Schwarzenegger e a Sharon Stone - ou com o Colin Farrell, se preferirem a versão de 2012 - em que ele descobre que é um agente secreto que esteve numa missão em Marte ...
Eu não fazia ideia que o filme tinha sido inspirado num conto. Quer dizer, sabia que era baseado em qualquer coisa do Philip Dick, mas tinha ideia que era um livro e não um conto com meia dúzia de páginas. De qualquer modo, foi uma excelente forma de terminar o livro.
Para aqueles que não conhecem a história, há um tipo chamado Douglas Quail cujo sonho é viajar até Marte. O problema é que Douglas não tem capacidade financeira para visitar o planeta e portanto, acaba por recorrer à REKAL, uma empresa especializada em implantar memórias. Essencialmente, a ideia que vendem é a de que as memórias são te tal modo realistas, que o cérebro não consegue distinguir entre o que é real e o que é implantado e assim, para todos os efeitos, as pessoal que a eles recorram irão realmente acreditar que a memória implantada é real.
O problema começa quando, durante a implantação da memória da viagem a Marte, descobrem que afinal de contasm Douglas já lá esteve enquanto agente secreto ao serviço da Interplan mas, de alguma forma, essa sua memória tinha sido apagada, ou pelo menos afastada para um canto mais recôndido da sua memória.
Concluindo: decididamente não gosto de contos. O facto de serem do Philip K.Dick amenizou esse aspecto, porque realmente o homem tinha umas ideias muito fora da caixa mas, ainda assim, não consigo tirar verdadeiro prazer da leitura. Contudo, tenho perfeita noção que isso tem a ver com o formato e não com o conteúdo porque, na maioria dos contos, a leitura até foi agradável. Por isso, se até nem desgostam de contos, e querem fazer uma primeira abordagem suave à obra deste autor, A Máquina Preservadora é uma excelente opção porque vos permitirá ter uma noção abrangente das temáticas que ele normalmente aborda e, a partir daí, verem se é alguma coisa que querem explorar um pouco mais.
Ainda me fica a faltar ler a A Máquina Preservadora - 2 mas vou deixar isso para um dia em que me sinta com mais coragem porque entretanto tenho outros livros na lista de "próximas leituras" que são muito mais apelativos.
O conto começa com a chegada de uma armada de Proxima Centauros, « formada por burocratas e agentes comerciais » (pg.45), e que constituem o Gabinete de Renovação Urbana de Centaurus (GRUC) e que tem como objectivo levar a cabo um projecto de reconstrução. Isto porque, embora tenham chegado alguns bons samaritanos depois do desastre, supostamente carregados de boas intenções, a realidade é que a única intenção que tinham era a de enriquecer.
Como seria de esperar, o Conselho formado por estes "bons samaritanos" opõe-se de imediato a que o GRUC se estabeleça na Terra mas, Peter Hood (GRUC), acaba por se estabelecer precisamente no centro da cidade de Nova York e, como se não bastasse, decide reactivar um dos jornais mais relevantes: o New York Times. Um dos detalhes de que mais gostei, tem precisamente a ver com o jornal. Ao contrário do que acontece actualmente, em que temos jornalistas, redactores, fotógrafos, revisores de texto e toda uma equipa a trabalhar na edição e impressão do produto final, em E se Benny Cemoli Não Existisse? o jornal é auto-suficiente, imprime-se e distribui-se a si mesmo. Essencialmente, o que acontece é que, através de um processo de vigilância contínua e abrangente da sociedade, o jornal capta e filtra a informação mais relevante, divulgando-a depois das duas edições. Ou seja, a ideia é a de que o jornal seria totalmente independente de pressões ou interferências políticas. Mas, será que é mesmo ?
Para mim, este não foi um daqueles contos que me tivesse deixado agarrada ao livro, como aconteceu com O Jogo de Guerra. No entanto, não deixa de apresentar uma perspectiva interessante: o de grandes corporações que, sob o pretexto de ajudar, aquilo que fazem é tomar partido das fragilidades daqueles a que elas estão sujeitos. Vamos sair do mundo da ficção e pegar no exemplo do crédito automóvel, ou crédito pessoal. Sabiam que em 2017 « os bancos e as instituições de crédito disponibilizaram perto de sete mil milhões de euros em empréstimos de consumo? » (Fonte: eco.sapo) atingindo assim um novo recorde ? Com a recuperação económica, as pessoas sentem-se mais confiantes para gastar o que têm - e pelos vistos também o que não têm - e lá vêm as instituições de crédito para ajudar toda a gente a concretizar os seus sonhos a taxas de juro absurdas. E lá estarão para as continuar a aplicar, mesmo quando as pessoas deixarem de ter dinheiro para as pagar. Agora, temos também o Governo que quer aumentar o valor da água por causa da seca mas... não me recordo de alguma vez o terem reduzido devido às cheias ...
Pessoalmente, achei que este E se Benny Cemoli Não Existisse? é um daqueles contos mais virados para a reflexão, como muitos dos contos de Philip K.Dick. Não é especialmente profícuo em acção do género *shot *shot *bang *bang mas é suficientemente animado para não se perder o interesse.
Segundo li, o autor ter-se-á inspirado num cão chamado Snooper, que tinha por hábito ladrar aos homens da recolha do lixo. Neste conto, o que Philip K.Dick faz é, de certa forma, tentar explicar o motivo pelo qual isso acontece, e a explicação que ele encontra é tão ambígua e irrealista - ou será que é mesmo irrealista ? - que se tornou num dos meus contos favoritos.
Ora ao que parece, os senhores da recolha do lixo são da verdade Roogs, criaturas que vasculham o lixo e que, aparentemente, pretendem fazer mal aos humanos. Na realidade, em momento algum do conto me pareceu existir uma ameaça explícita ou direccionada mas, sentimos que ela está lá.
Os cães são vistos pelos Roogs como os Guardiães, representando o último obstáculo entre eles e os seres humanos. Portanto, sempre que o cão ladra, aquilo que ouvimos é « woof woof » mas na verdade, o que ele está a dizer é « roog roog », numa tentativa desesperada de alertar o humano para o perigo que aí vem.
E porque é que uma história, aparentemente tão básica, é uma das minhas favoritas do livro ?
Porque é ambígua e porque cria a dúvida ...
Será que o cão era maluco ?
Ou seriam os Roogs reais ?
O conto começa quando Jim Briskin, um pivot bastante conhecido - que pela descrição me fez lembrar o Conan O'Brien - é informado pelo presidente que uma frota alienígena composta por 800 naves está prestes a chegar à Terra.
Não fosse isto suficiente, o Presidente, que agora é um super computador chamado Unicephalon 40-D, é desactivado remotamente pelos alienígenas e, o seu substituto, Gus Schatz, morre.
Entra então em cena Maximilian Fischer, um tipo ocioso e obeso, que seria o substituto de Gus Schatz caso alguma coisa acontecesse. Ora, reparem que o Gus era o substituto do Presidente que, por esta altura, também estava fora de cena. Portanto, Maximilian é catapultado do anonimato e ócio total para a presidência do país e, como Lord Actoon diria: power corrupts, absolute power corrupts absolutely.
Conta-nos a história de uma nave que anda em expedição interplanetária e que, numa das suas paragens, um dos tripulantes leva para bordo um wub: uma espécie de porco peludo com cerca de 200 quilos.
Após a descolagem, começam a surgir algumas quezílias entre a tripulação e o Capitão Franco porque, enquanto que os primeiros se sentem curiosos em relação àquela nova criatura, o Capitão apenas vê nela a sua próxima refeição.
Esta discórdia ainda se acentua mais quando descobrem que o wub é, afinal, uma criatura senciente pois, senciente ou não, o capitão está determinado em descobrir se fica melhor com batatinhas a murro ou com arroz de grelos.
Não vou entrar em grandes detalhes relativamente a este conto para não vos estragar a surpresa mas, na opinião de algumas pessoas, o wub dá voz a algumas das críticas de Philip K.Dick relativamente ao facto da humanidade ter evoluído tanto em certos aspectos, como por exemplo, a descoberta da bomba atómica, mas que, por outro lado, ignorou completamente o desenvolvimento ético e moral, levando a que nos tenhamos tornado em serem com um tremendo poder entre as mãos mas, sem um limite moral que nos impeça de o utilizar.
Eu não fazia ideia que o filme tinha sido inspirado num conto. Quer dizer, sabia que era baseado em qualquer coisa do Philip Dick, mas tinha ideia que era um livro e não um conto com meia dúzia de páginas. De qualquer modo, foi uma excelente forma de terminar o livro.
Para aqueles que não conhecem a história, há um tipo chamado Douglas Quail cujo sonho é viajar até Marte. O problema é que Douglas não tem capacidade financeira para visitar o planeta e portanto, acaba por recorrer à REKAL, uma empresa especializada em implantar memórias. Essencialmente, a ideia que vendem é a de que as memórias são te tal modo realistas, que o cérebro não consegue distinguir entre o que é real e o que é implantado e assim, para todos os efeitos, as pessoal que a eles recorram irão realmente acreditar que a memória implantada é real.
O problema começa quando, durante a implantação da memória da viagem a Marte, descobrem que afinal de contasm Douglas já lá esteve enquanto agente secreto ao serviço da Interplan mas, de alguma forma, essa sua memória tinha sido apagada, ou pelo menos afastada para um canto mais recôndido da sua memória.
Concluindo: decididamente não gosto de contos. O facto de serem do Philip K.Dick amenizou esse aspecto, porque realmente o homem tinha umas ideias muito fora da caixa mas, ainda assim, não consigo tirar verdadeiro prazer da leitura. Contudo, tenho perfeita noção que isso tem a ver com o formato e não com o conteúdo porque, na maioria dos contos, a leitura até foi agradável. Por isso, se até nem desgostam de contos, e querem fazer uma primeira abordagem suave à obra deste autor, A Máquina Preservadora é uma excelente opção porque vos permitirá ter uma noção abrangente das temáticas que ele normalmente aborda e, a partir daí, verem se é alguma coisa que querem explorar um pouco mais.
Ainda me fica a faltar ler a A Máquina Preservadora - 2 mas vou deixar isso para um dia em que me sinta com mais coragem porque entretanto tenho outros livros na lista de "próximas leituras" que são muito mais apelativos.
E vocês, o que acham de Philip K.Dick ?
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