Solaris (1961) de Stanislaw Lem

by - março 22, 2019

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★★☆☆☆

Sinopse: 
Kris Kelvin, um psicólogo astronauta, após dezasseis meses de viagem vindo da Terra na nave Prometheus, chega à Estação Solaris. Enviado para averiguar por que é que ocorreram assassínios, suicídios e terríveis aparições a bordo da Estação, em órbita do estranho planeta Solaris - o planeta completamente coberto por um oceano orgânico -, Kelvin depressa terá de se confrontar, também ele, com uma nova espécie de vida. Em Solaris, à decadência da teoria antropocêntrica, junta-se a busca psicossexual por Deus [Fonte: LEM, Stanislaw. Solaris. Mem-Martins: Publicações Europa-América, 2003].


Opinião: 
Este é um daqueles livros que nunca me despertou especial atenção e não fazia sequer parte da minha lista de próximas leituras. Mas, numa tarde solarenga em que calhou passar à porta da livraria Europa-América depois de ter enfardado um cozido à portuguesa no Padeiro, chamou-me a atenção uma caixa que eles tinham cá fora com uma placa a dizer « tudo a 2 euros ». Como imaginam, isto não é propriamente algo a que se consiga passar ao lado, certo ?

Bom, lá fui enfiar a cabeça no meio daquilo para ver se encontrava algum livro e encontrei o Solaris. Não sabia muito sobre o livro, para além do facto de ser considerado um clássico da ficção científica e ter dado origem a um filme com o mesmo nome. Por dois euros ... porque não ?

O preço original do livro eram 17.67 € mas, como já apresentava alguns sinais de manuseamento, optaram por fazer esta mega promoção. E eu, por dois euros, não me importo de fechar os olhos a pequenos detalhes na capa. Afinal de contas, não estamos a falar de nenhuma capa artística ou especialmente bonita que valha a pena contemplar durante grandes períodos de tempo.

Infelizmente, nem a capa, nem o conteúdo. 

Se algum dia eu tiver um acidente em que acabe em coma ou coisa do género, basta começaram a ler o livro à cabeceira da minha cama e podem ter a certeza que regresso logo ao mundo dos vivos para vos atirar com qualquer coisa.

Por outro lado, se tiverem filhos e estiverem com dificuldade em que eles durmam, podem esquecer coisas como O Método Estivill ou Os Bebés Também Querem Dormir. A solução é Solaris. Garanto que ao fim de três páginas o puto está a dormir! Por outro lado, sempre que ele se portar mal podem ameaçá-lo com um « Se não te portas bem vou ali buscar o Solaris! ». Remédio Santo.


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Sim... Sim... Eu sei que este livro é considerado um must read a ficção científica mas, como diz uma colega minha, "Valha-me o Cristo!". Olhem que é preciso ter bebido realmente muita cafeína para conseguir ler isto sem começar a marcar golos de cabeça.

A ideia por detrás da história não é má: existe um planeta chamado Solaris, totalmente coberto por um oceano que, aparentemente, tem algum tipo de consciência e é capaz de criar formas de vida que, por sua vez, interagem com os cientistas a bordo da estação espacial que orbita o planeta. 

Lembrei-me logo do LIFE, um filme de 2017 com Jake Gyllenhaal (se não conhecem, vão investigar porque vale mesmo a pena) que também envolve uma forma de vida alienígena, aparentemente inofensiva ...


Life

Life

O livro teria tudo para correr bem, certo ?

Um planeta desconhecido.
Criaturas alienígenas que se infiltram na estação espacial.
Um grupo de pessoas completamente à mercê destas formas de vida.

Mas então, porque é que não resultou ?

Na minha opinião, é muito simples: a história não nos leva a lado nenhum, e o autor simplesmente anda ali às voltas, ora com considerações nas quais tenta explicar a ciência ficcional que se ocupa do estudo de Solaris, ora com monólogos internos e filosóficos por parte da personagem central. Acredito que algumas pessoas possam achar esta abordagem interessante. Eu não achei, e acabei a ler alguns nos capítulos na diagonal...


« Em desafio a esta atitude conservadora, foram apresentadas novas hipóteses - das quais a de Civitto-Vitta era das mais elaboradas -, que proclamavam que o oceano era um produto de um desenvolvimento dialéctico: na base da sua primeira forma pré-oceânica estava uma solução de elementos químicos de reacção lenta (...), atingira num único salto a fase de « oceano homeostático », sem passar por todas as fases (...) » (pág.27)



A história começa com a chegada do Dr. Kevin à estação Solaris. Qual o intuito, é algo que não percebi. Sabemos que vem para falar com um dos investigadores, um tal de Gibarian mas, quando sabe que ele afinal já está morto, começa a fazer perguntas como se fosse um agente da polícia judiciária, ou coisa que o valha. Assim que ele entra, percebemos que paira um ambiente estranho ...


« Aqui a desordem era ainda maior. Escorrendo de debaixo de uma pilha de bidões de óleo, espalhava-se uma poça de um líquido oleoso; no ar pairava um cheiro nauseabundo. Viam-se pegadas em todas as direcções, formando uma série de manchas de aspecto glutinoso. » (pág. 14)

Da equipa inicial, composta por Gibarian, Snow e Sartorius, restam apenas dois: Snow, o perito em cibernética e assistente de Gibarian, « um homem pequeno e magro » , que parece « bêbedo e em desvario » (pág.15); e Sartorius, um tipo com « a face magra, inteiramente composta por planos verticais » (pág. 52) e que passa o tempo fechado no laboratório.

O mistério começa a adensar-se e posso dizer-vos que nos primeiros capítulos até que fiquei bastante interessada. O que é feito do resto da tripulação ? Porque é que o informático está com uns laivos de loucura ? Porque raio é que o Sartorius está fechado na sala e, mais sinistro ainda, com quem - ou com o quê - ? Mas rapidamente o interesse se começa a desvanecer quando, em vez de explorar o que se passa na estação, o autor opta por nos bombardear com montes de informação (in)útil sobre a solarística e os solaristas, as teorias acerca de solaris, as contradições acerca dessas mesmas teorias, a história do planeta ... e por aí fora.

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Os tipos que estão na estação, e que foram naquela missão para, supostamente, estudarem o planeta de perto, passam a maior parte do tempo a discutir e a esconderem-se uns dos outros. Imaginava eu que, quem aceita ir numa missão PARA A PORRA DE UM PLANETA DESCONHECIDO teria alguma curiosidade. Mas enganei-me redondamente.

- Mas se calhar eles escondiam-se porque tinham medo dos visitantes ! 

Talvez tenham razão ! Se calhar os tais visitantes são criaturas assustadoras que andam por ali a emboscar e a esventrar os cientistas, ou a usá-los como incubadoras para os alienígenezinhas bebés... 


Mas não.

Os visitantes são criados a partir das memórias dos investigadores que se encontram na nave, gerando assim réplicas de pessoas que eles conheceram. Os únicos aspectos sinistros são o facto de serem praticamente indestrutíveis, de sentirem uma necessidade visceral de se manterem perto das pessoas a quem estão ligadas e o facto de voltarem. Sempre. Ou seja, mesmo que nos consigamos livrar da réplica - por exemplo, pondo-a num foguetão em direcção ao infinito -, à noite vai aparecer outra. Se conseguirmos destruir essa, aparece outra. E por aí fora ... Portanto, basicamente, a partir do momento em que o visitante é gerado, não temos como nos livrar dele.

Assim, os visitantes acabam por ser uma espécie de fantasma que vêm assombrar os tipos que estão na estação espacial mas, com a variante de que, neste caso, os fantasmas estão vivos. Acho que deu para ficarem com uma ideia...

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Mas, por incrível que pareça, assim que fica desvendado o que são as réplicas, pouco mais acontece. As memórias do tal Dr. Kevin dão origem a uma réplica da falecida esposa, que acaba por se revelar um pãozinho sem sal, e acabamos por descobrir que os outros ocupantes da estação espacial estão também acompanhados das réplicas que geraram, embora nunca se venha a saber quem são porque estes tipos, apesar de serem homens da ciência, não trocam ideias nem falam acerca dos seus visitantes. Porquê ? Não faço a mínima ideia.

Com tanta conversa filosófica e capítulos inteiros dedicados a filosofias e teorias sobre Solaris, esperava-se que alguma coisa ficasse explicada, mas na realidade acabei o livro com uma série de perguntas que permanecem sem resposta...

Porque é que se gera a réplica de uma determinada memória e não de outra ?

Porque é que as réplicas são apenas de pessoas já falecidas ? 

Como raio é que as réplicas entram na estação ? 

O oceano pode gerar várias réplicas em simultâneo ? Se sim, quantas?


Portanto, tendo tudo isto em conta, não diria que Solaris é um livro do qual tenha gostado. Achei-o enfadonho, em grande parte por causa das personagens. Reparem que estamos a falar de terem encontrado vida inteligente num planeta ... e o que é que fazem? Nada! Andam ali fechados nas salas, não comunicam a descoberta a ninguém. Ninguém se lembrou de tirar uma fotografia ?! Porra, eu sei que o livro é de 1961 mas nessa altura já existiam máquinas fotográficas e certamente outras formas de captar imagem. E mesmo que não existisse, isto é um livro de ficção científica, portanto o autor tinha liberdade para inventar qualquer coisa.

Não obstante tudo isto, não me interpretem mal. Acho que a ideia das réplicas está muito interessante mas, pelo menos para mim, falta ali uma componente sinistra, tripas pelo chão e pessoas degoladas.



        

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