Estação Onze (2014) de Emily St.John Mandell
★★★☆☆
Sinopse:
Um romance em torno de um acontecimento que abalou o mundo, Estação Onze conta-nos a história de um grupo de pessoas que arriscam tudo em nome da arte e da sociedade humana.
Kirsten Raymonde nunca conseguiu esquecer a noite em que Arthur Leander, um ator famoso, morre no palco quando representava O Rei Lear. Foi nessa fatídica noite que teve início uma pandemia de gripe que veio a destruir, quase por completo, a humanidade.
20 anos depois, Kirsten é uma atriz de uma pequena trupe que se desloca por entre as comunidades dispersas de sobreviventes a representar peças de Shakespeare e a tocar música. No entanto, tudo irá mudar quando a trupe chega a St. Deborah by the Water. Abrangendo várias décadas e retratando de forma fulgurante a vida antes e depois da pandemia de gripe, este romance de suspense e emoção confronta-nos com os estranhos acasos do destino que ligam os seus personagens. Estação Onze fala-nos das relações que nos sustentam, da natureza efémera da fama e da beleza do mundo tal como o conhecemos.
Kirsten Raymonde nunca conseguiu esquecer a noite em que Arthur Leander, um ator famoso, morre no palco quando representava O Rei Lear. Foi nessa fatídica noite que teve início uma pandemia de gripe que veio a destruir, quase por completo, a humanidade.
20 anos depois, Kirsten é uma atriz de uma pequena trupe que se desloca por entre as comunidades dispersas de sobreviventes a representar peças de Shakespeare e a tocar música. No entanto, tudo irá mudar quando a trupe chega a St. Deborah by the Water. Abrangendo várias décadas e retratando de forma fulgurante a vida antes e depois da pandemia de gripe, este romance de suspense e emoção confronta-nos com os estranhos acasos do destino que ligam os seus personagens. Estação Onze fala-nos das relações que nos sustentam, da natureza efémera da fama e da beleza do mundo tal como o conhecemos.
Fonte: Mandell, Emily St.John. Estação Onze. Barcarena: Editorial Presença (2015)
Opinião (contém spoilers): Como fã de distopias e cenários pós-apocalíticos, ando sempre a ver se descubro alguma que me desperte a atenção, e a Estação Onze é uma daquelas com que já me tinha cruzado várias vezes. A única grande questão era que as opiniões divergiam bastante e, acabei por dar comigo dividida sobre se comprava o livro ou não. Entretanto a Editorial Presença teve umas promoções fantásticas no site, e fiquei com o dilema resolvido.
Estação Onze passa-se vinte anos depois da Gripe da Geórgia, uma pandemia que dizimou cerca de 99% da população mundial. Os sintomas são semelhantes com os da SARS, mas com um período de incubação muito inferior e, « uma pessoa que seja exposta a isto adoece dentro de poucas horas ».
Mas, de todos os cenários que poderiam conduzir à quase extinção da humanidade, porquê uma gripe? Segundo a autora, Emily St. John Mandell, o motivo é simples: porque é plausível. Sim, podia inventar qualquer outra doença mas, para quê fazê-lo quando temos uma que serve o propósito? E a verdade é que, à luz daquilo a que assistimos com o COVID-19, as coisas facilmente escapam ao controlo. No entanto, apesar da quarentena, de todas as restrições que nos foram impostas, dos raids ao supermercados, houve coisas que sempre pudemos tomar como garantidas: carregamos no interruptor e temos luz, abrimos torneira e temos água, acedemos ao wi-fi e estamos ligados ao mundo. Mas como seria se, em consequência da pandemia, tudo isso deixasse de funcionar ? Estação Onze explora precisamente esse cenário: a ausência destas coisas abstratas que atualmente damos como garantidas.
A transição de uma realidade para a outra, é muito bem conseguida logo no primeiro capítulo, que começa com a morte de um ator em palco, lança as primeiras suspeitas para a possibilidade de uma epidemia e termina com « uma lista incompleta » das coisas que acabaram.
« Acabaram-se os mergulhos em piscinas com águas cheias de cloro (...). Acabaram-se os jogos de futebol sob holofotes. (...) Acabaram-se as cidades. (...) Acabaram-se os ecrãs a brilhar à meia luz enquanto as pessoas levantam os telemóveis para tirarem fotografias do palco nos concertos. (...) Acabaram-se as companhias farmacêuticas. Acabou-se a certeza de que vamos sobreviver a um arranhão numa mão, a um golpe num dedo enquanto cortamos legumes para jantar, a uma dentada de um cão. Acabaram-se os voos (...). Acabaram-se os bombeiros, a polícia. Acabou-se a manutenção das estradas e a recolha do lixo. Acabou-se a internet. Acabou-se o ler ou o comentar a vida dos outros e, com isso, o sentirmo-nos um pouco menos sós naquele quarto. Acabaram-se os avatares. »
O capítulo seguinte já se passa vinte anos depois da pandemia mas, não vamos ficar por aqui. Ao longo de toda a história, iremos alternar entre diferentes linhas temporais que envolvem várias personagens e que, por vezes se cruzam. Ao início não estava a perceber a ligação e o livro parecia uma manta de retalhos com pedaços da história deste e daquele mas, à medida que fui avançando, comecei a perceber de que forma as histórias das diferentes personagens se encaixavam e do quão intrincadas elas estavam. Portanto, um aspeto que começou por ser algo que me desagradou, acabou por ser aquilo de que mais gostei no livro porque, em vez de revelar logo tudo sobre todas as personagens, somos nós quem as vai conhecendo, a pouco e pouco, através destas incursões ao seu passado.
E a história é muito isto: incursões ao passado, histórias de vida, onde as pessoas estavam e onde é que o caminho as levou. Por isso, se estão à procura de uma história emocionante passada num cenário pós-apocalítico, Estação Onze poderá não ser exatamente o que procuram. Não deixa de ser um livro interessante, mas é mais filosófico do que propriamente excitante e não é, nem de longe, um daqueles livros que não se consegue pousar. Os capítulos passados no Presente não são propriamente tensos e centram-se, essencialmente, na Sinfonia Itinerante, um grupo de artistas que passa pelas diferentes cidades, onde representa diferentes peças de Shakespeare. Os primeiros capítulos do livro são muito dedicados a eles e eu já estava a pensar que, se fosse só aquilo, então as 331 páginas iriam ser bastante penosas.
Mas depois lá começam as linhas temporais, e a história fica mais interessante. Ainda assim, não interessante-emocionante ao estilo The Walking Dead porque, quando regressamos ao Passado desta ou daquela personagem, voltamos ao período pré-epidemia, logo, a um mundo tal e qual como o conhecemos e bem longe do cenário pós apocalítico. Por isso, será que podemos dizer que este livro é uma distopia pós apocalítica se grande parte da história se passa antes da pandemia que dizimou a população?
Quanto ao Passado, as coisas já ficam um pouco mais interessantes.Como referi no início, todas as personagens estão direta ou indiretamente ligadas entre si, sendo o elo de ligação Arthur Leander, um ator que morre logo na primeira página. Depois, ao longo do livro, aquilo que vai acontecendo é darmos vários saltos no tempo, durante os quais vemos a história de diferentes pontos de vista, mas que basicamente vão desde a época pré-pandemia até ao momento atual, isto é, 20 anos depois do fim. Há uns que sobrevivem e outros que morrem, mas o que é realmente interessante é o percurso, o antes e o depois.
A própria autora foca isso numa entrevista que deu, onde diz que somos muito distraídos e demasiado dependentes de coisas como o wifi ou os telemóveis, e o quão bizarro seria tudo isso para uma pessoa de um futuro pós apocalítico onde nada disso houvesse. Como explicar a alguém que não sabe o que é a internet, a eletricidade ou os telemóveis, que em tempos perdíamos horas absortos a olhar para este pequeno ecrã ?
Que Legado deixamos quando tudo acaba ?
Qual o nosso objetivo na vida ?
Será que vivemos em auto-piloto, e desistimos dos nossos sonhos ?
São estas as questões a que as histórias de vida de cada uma das personagens irão dar respostas. É verdade que não são histórias de vida de cortar a respiração - pessoalmente até achei tudo bastante banal - mas sem dúvida que nos mantém interessados ao longo de todo o livro, sobretudo quando as peças começam a encaixar e começamos a ver de que forma tudo está interligado.
Portanto, como vêem, este livro é mais do género filosófico do que propriamente de ação. Por isso, se estão à procura de um livro pós apocalítico mais negro e tenso, sugeria talvez qualquer coisa como o Metro 2033 ou O Silo.
Se no entanto estão mais virados para coisas mais filosóficas, a Estação Onze será certamente uma boa opção, embora não tanto emocionante. Em qualquer um dos casos, o que interessa é que apreciem a leitura! Se por acaso já leram, adorava saber a vossa opinião!
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