Factotum (1975) de Charles Bukowski

by - janeiro 12, 2021

★★★☆☆
Sinopse:
Uma cerveja, um engate. Mais um copo, mais uma mulher.

Henry Chinaski, um jovem marginal, desconsoladamente solitário e irremediavelmente bêbedo, vagueia pela América dos tempos da Segunda Guerra, saltando de cidade em cidade, de emprego em emprego, cada um mais degradante que o anterior, apenas para poder sustentar as noites de mulheres e álcool. Enquanto se afunda numa espiral de vícios, vai alimentando (ou adiando) o sonho de ser escritor.

Chinaski, alter ego de Bukowski, é a perfeita encarnação de um factotum, um moço de recados ou pau-para-toda-a-obra, tão inconstante e volúvel quanto é eterno o seu criador. 

Aventuroso e obsceno, divertido e desesperado, desbocado e ao mesmo tempo lírico, Factotum é o segundo romance do grande Charles Bukowski, nunca antes publicado em Portugal. Uma espécie de retrato do artista enquanto jovem, este é, decididamente, um dos melhores e mais marcantes escritos do autor americano.


Opinião: Factotum, publicado em 1975, é o segundo romance de Charles Bukowski, escrito quando este tinha 52 anos, e precedido por Correios (1971). 

Ao longo de toda a história, vamos seguir os passos de Henry Chinaski, o alter ego ficcional e degenerado de Bukowski, numa América fortemente afetada pela Segunda Guerra Mundial.


Bukowski, conhecido pelo seu estilo agressivo e sem censura, é considerado o Dirty Old Man da literatura, e é isso que me faz gostar tanto dele. Se vão ler Bukowski, não contem com palavras bonitas ou frases cheias de floreado. Este é um homem que vai direito ao assunto e não receia chamar as coisas pelo nome, o que confere à sua escrita um realismo decadente que não seria possível de outra forma.

ແ Em seguida, as cuecas foram parar ao chão, junto da camisa e ela começou a roçar-se em mim. O triângulo de pentelhos quase ficava escondido sob a barriga pendente e saltitante. 
O suor estava a esborratar-lhe o rímel. De repente, os olhos minguaram. Eu estava sentado na beira da cama. Ela saltou para cima de mim sem que eu pudesse mexer-me. Encostou a boca aberta à minha. Sabia a cuspo e cebola e vinho passado e (imaginei eu) ao esperma de quatrocentos homens. 

Tendo eu já lido todos os outros romances do autor, já tinha uma ideia do que me esperava e por essa razão estava com grandes expetativas relativamente a Factotum mas, acabei por ficar desiludida. A impressão inicial foi que este livro não divergia muito de CorreiosPão com Fiambre, e outros livros autobiográficos de Bukowski. Isto é, um ciclo interminável de vinho barato, ressacas, sexo e empregos mal pagos. A impressão final foi que, realmente, Factotum não trazia nada de novo.

A forma como o livro está estruturado também não ajudou pois não temos propriamente uma continuidade, mas sim oitenta e sete pequenos capítulos que descrevem a vida de Chinaski nas várias cidades por onde vai passando. E, apesar de o autor afirmar que cerca de 93% da sua escrita é uma representação realista e honesta de si e das suas experiências, o exagero das situações é tal que, a determinado ponto, se torna repetitivo e, em certo ponto, gabarolas.


Há gostos para tudo, é certo, mas não me parece que Bukowski fosse o tipo de homem com que as mulheres perdessem a cabeça. Se nos fiarmos nos relatos que aparecem em Factotum, não  havia mulher que lhe resistisse. Foi para uma pensão em Los Angeles, e acabou praticamente a ser abusado por uma prostituta. Mudou-se para uma pensão em Saint Louis, e duas das residentes, a Gertrude e a Hilda, ofereceram-se-lhe descaradamente. Em Los Angeles, engatou uma tipa num bar e acabou por se enrolar com ela e duas amigas. É como se ele fosse um íman sexual e as mulheres perdessem o controlo quando estavam perto dele. Tem uma certa piada, é certo, e sem dúvida que mantém o livro interessante, mas a verdade é que o tipo é cheio de tangas!

Depois temos a parte dos empregos. Henry Chinaski é, ao longo de todo o livro, um verdadeiro Factotum, isto é, um faz tudo. Pessoalmente, diria que é mais uma espécie de faz nada, visto que é exímio em escapar às tarefas. À semelhança do que acontece com as mulheres, também aqui é um exagero descomunal. O tipo aparece nas entrevistas mal vestido, não mostra o mínimo interesse, e muitas vezes tem a distinta lata de dar a entender que só ali está porque já se lhe acabou o dinheiro e, mesmo assim, é sempre selecionado! Claro que acaba despedido pouco depois, mas entretanto já conseguiu dinheiro para mais umas garrafas de vinho e panquecas de farinha e água.


Factotum não foi um dos meus favoritos, mas Bukowski continua a sê-lo, e por isso não poderia deixar de recomendar este livro. Ainda que, se ainda não conhecem nada dele, sugeria começarem por Correios.

No entanto, e não é de mais relembrar: não é o tipo de literatura que vá agradar a toda a gente. É porca, suja, decadente, machista e, precisamente por isso, bastante diferente daquilo a que estamos habituados. Se nada disto te incomoda, então lança-te de cabeça porque de certeza que vais gostar!

Boas Leituras!

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