O Tempo do Desprezo (1995) de Andrzej Sapkowski

by - janeiro 17, 2021

★★★☆☆
Sinopse:
Geralt, o bruxo, lutou contra monstros e demónios por toda a terra, mas até ele pode não estar preparado para o que está a acontecer com o seu mundo. Há intrigas, divergências e rebeliões por todo o lado. Reis e exércitos estão a posicionar-se, ansiando por guerra e sangue. Os elfos ainda sofrem depois de décadas de repressão e o número de refugiados nas florestas aumenta a cada dia. Os Magos lutam entre si, alguns a soldo dos reis, outros na defesa dos elfos. E, neste caso, Geralt e Yennefer precisam de proteger Ciri, a criança da profecia que todos procuram. Pois quer viva quer morra, Ciri tem o poder de salvar o mundo... ou de o destruir. 


Opinião [contém spoilers]: Em Dezembro de 2019 sucumbi à hype em torno da saga The Witcher depois de ter visto a adaptação da Netflix. Comecei por ler O Último Desejo, e depois A Espada do Destino, ambos antologias de contos que antecedem o desenrolar dos acontecimentos que iremos acompanhar durante os cinco volumes seguintes, que constituem a saga propriamente dita, e que começa com O Sangue dos Elfos
Este último volume terminou com Ciri a abandonar o templo de Melitele na companhia de Yennefer e O Tempo do Desprezo vai retomar a história a partir daí. Vamos encontrar estas duas personagens já a caminho de Gors Velen, cidade a partir da qual Yennefer espera depois partir para a Ilha de Thanned, onde se situa Aretuza, uma escola de magia fortemente guardada e, portanto, um local ideal para garantir que Ciri fica em segurança, ao mesmo tempo que prossegue a sua aprendizagem.

Mas, tal como em tudo o que envolve Ciri, as coisas nunca correm conforme planeado. Felizmente, esse foi um aspeto bastante positivo e, sem dúvida alguma que, apesar do feitio torcido da rapariga, foi a personagem que me proporcionou momentos mais interessantes ao longo de todo o livro. Ainda se percebe que é imatura e não atingiu todo o seu potencial, mas isso apenas acaba por aguçar a curiosidade acerca do que vai acontecer daqui para a frente. Existem vários momentos ao longo da história nos quais, por força das circunstâncias, Ciri tem de pôr em prática algumas das técnicas que aprendeu em Kaer Morhen ou até mesmo alguns feitiços que Yennefer a advertiu para não usar, e é nesses momentos que temos uma amostra de tudo aquilo que ela conseguirá fazer mais tarde. Não sei quanto a vocês, mas para mim isto foi o suficiente para me manter interessada...


Mas nem tudo são truques de magia e lutas emocionantes. Aliás, a maior parte do livro é até relativamente parada e confusa, o que resultou numa leitora irritada por não estar a perceber nada do que raio se estava a passar, e por ter de voltar atrás mais do que uma vez. Os nomes e o número de personagens envolvidos nestas intrigas palacianas também não ajudaram: Sabrina Glevissing de Ard Carraigh, Filippa Eilhart, Gerhart de Aaelle, Francesca Findabair, Vilgeforz de Roggeveen. Quem é que decora isto?! Não me restou outra opção que não fosse pegar no caderno, tomar nota dos nomes e de quem estava aliado com quem. Claro que isto me estragou um bocadinho a leitura mas, era isso ou não perceber absolutamente nada. 


Aquilo que está por detrás das alianças que se formaram remonta à Batalha do Monte Sodden, acerca da qual podem ler mais em A Espada do Destino, que opôs os Reinos do Norte e o Império Nilfgaardiano. Tudo começou com o ataque a Cintra, após o qual Nilfgaard continuou a sua expandir-se e a destruir tudo à sua passagem. Os reinos de Temeria, Redânia, Aerdin e Kaedwen decidiram então unir-se, sob o comando do rei Vizimir da Redânia, contra este inimigo comum. Infelizmente, apesar do esforço conjunto dos reinos do norte, Nilfgaard levava a melhor e teria saído vencedor se não fosse o Capítulo dos Feiticeiros que, sob a liderança militar de Vilgefortz de Roggeveen, decidiu intervir e defender a posição na montanha, garantindo assim a vitória. 

O Imperador Emhyr (Nilfgaard) nunca esqueceu que foi a participação dos feiticeiros que ditou a sua derrota e, por essa razão, pretende acabar de vez com o Capítulo dos Feiticeiros. E que melhor forma de o fazer do que aliciando-os com promessas? Não há dúvida de que o império de Nilfgaard é mais poderoso e o vencedor mais provável em caso de conflito. Por outro lado, os feiticeiros também sabem que em Nilfgaard os feiticeiros têm o mesmo estatuto de cavalariços. A solução mais sensata será juntarem-se,  o mais rapidamente possível, àquele que julgam vir a ser o lado vencedor e assegurar algumas regalias. Assim o fizeram alguns magos do Capítulo e até um rei que, através de um pacto firmado com o inimigo, conseguiu manter o seu reino. Assim, enquanto alguns dos monarcas do norte conspiravam para preparar um pretexto para entrar em guerra com Nilfgaard, já o Imperador Emhyr tinha o seu próprio plano em curso, visto estar bem ciente destas jogadas.


Vilgefortz de Roggeveen, que na Batalha do Monte Sodden liderou o Capítulo dos Feiticeiros contra o Império de Nilfgaard, é agora um aliado daquela que outrora considerou seu inimigo. A sua ambição e sede de poder, leva-o a conspirar contra o Capítulo e até a tentar atrair Geralt que, como já seria de esperar, respondeu com um « hummm... fuck ». 

Depois de se identificar os bons e os maus, assim como as suas motivações e antecedentes, a história até se torna interessante. A parte mais complicada foi mesmo arrumar estas ideias todas. Felizmente o fandom.com estava lá para ajudar! 

Voltando à conspiração: o palco de tudo é um encontro anual de feiticeiros, ao qual comparecem também os membros do Capítulo e alguns monarcas que, estranhamente, se encontravam ausentes naquele ano. Em contrapartida, parecia haver espiões por todo o lado, entre os quais Dijkstra, espião do rei da Redânia que alertou Geralt para o facto de algo de estranho se estar a passar, dando a entender que poderia estar em curso uma possível traição. Alguns dos membros do Capítulo acabam por ser atacados por homens da Redânia que deixam bem claro que, entre os feiticeiros, existem apenas os « decentes e leais aos seus reis » e os traidores, comprados por Nilfgaard e encabeçados por Vilgeforz. Como em tudo na vida, uns traidores tiveram mais sorte do que outros...

Tirando o facto de ter ficado super confusa durante a leitura, tenho de reconhecer que a conspiração está muito em construída. Acredito que, à medida que for avançando nos livros e conhecendo mais acerca do passado e motivações das personagens, vá ficando ainda mais interessante. Terei de continuar a ler para descobrir.


E para terminarmos, claro que não podia faltar o já muito falado caso amoroso entre Yennefer e Gerald. Ainda não percebi muito a dinâmica entre aqueles dois porque, ora estão a discutir, ora a dizer que se amam. Seja como for, tira-me do sério a forma quase "apalermada" como Gerald é descrito quando está com a feiticeira. Quer dizer... há todo aquele trabalho a construir uma personagem máscula e forte, mas depois, sempre que Yennefer entra em cena só lhe falta entrançar flores no cabelo e pôr-se de joelhos. Aquela cena em que estão os dois deitados e ele começa a pensar numa casinha para os dois, em que ele trabalharia na agricultura e depois iam para o mercado vender as coisas... Querem cenário mais lamechas do que isto? Sinceramente Gerald....

Já deu para perceber que não acho grande piada ao Gerald, não deu? Não tenho grande paciência para aquela postura sou-um-macho-másculo-mas-sensível-por-dentro. Felizmente a Yennefer ajuda a equilibrar as coisas e, juntamente com Ciri, é a minha personagem favorita.

Fiquei curiosa com o que vem a seguir e já tenho aqui o livro a postos. Se gostarem de literatura fantástica, a saga The Witcher, parece ser uma boa aposta. Atualmente os livros já estão todos traduzidos para português pela Saída de Emergência, pelo que não corremos o risco de começar a ler e ficarmos pelo caminho. Deixava só uma sugestão: tentem ler os volumes com pouco intervalo de tempo entre eles porque há certos detalhes que poderão escapar se não o fizerem, e tornar assim a leitura mais confusa.

Boas Leituras!

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