Sweet Home (2017) de Carnby Kim & Youngchan Hwang

by - fevereiro 14, 2021


Sinopse:
Depois de uma inesperada tragédia familiar, um estudante recluso do ensino médio é forçado a deixar a sua casa, apenas para enfrentar algo muito mais assustador: uma realidade onde os monstros estão a tentar exterminar a humanidade. Agora, ele ver-se-á forçado a lutar lado a lado com um grupo de heróis relutantes para tentar salvar o mundo antes que seja tarde de mais.



Sweet Home
★★★★☆

Opinião [contém spoilers]:
Com estado de emergência atrás de estado de emergência, e num confinamento que parece nunca mais ter fim, cheguei a um ponto em que já não tinha nada para ler, e pouco interesse em ver as mesmas séries de sempre. Até calhou bem, porque coincidiu precisamente com a altura em que a Netflix decidiu criar toda uma secção de séries asiáticas e foi assim que descobri Sweet Home.

Sweet Home

Ao início, a série não me convenceu especialmente mas, quanto mais avançava, mais interessante ia ficando e tinha ainda a vantagem de se basear numa manhwa. Não vou dizer que sou uma fã do género, e a verdade é que até ao momento, o mais parecido que tinha lido foi Shiver de Junji Ito. Não por não gostar, mas porque nunca tinha calhado. Mas o lado positivo de se estar recetivo a ler coisas diferentes do habitual, é que por vezes se fazem excelentes descobertas, como aconteceu neste caso.

Se acham que não vale a pena lerem a manhwa porque já viram a série: esqueçam! A série mantem-se fiel à história original até certo ponto, e é interessante para vermos os monstros que andam pelo edifício, mas há muita coisa que é pura invenção, e muita pieguice que era absolutamente desnecessária. Isto tendo sido dito, vamos à história original.

Antes de mais, é importante dizer que Sweet Home é considerada pela Bleeding Cool como « the horror webtoon comic of the moment » com 1.2 biliões de views numa das plataformas onde está disponível e, sendo uma webtoon, está pensada e concebida para poder ser lida de forma prática em smartphones (eu fiz o download da app WEBTOON). Até aqui, estamos bem encaminhados, não acham ?

Sweet Home

A história gira em torno de um grupo de residentes de um complexo habitacional que tenta sobreviver depois de, no exterior, todos terem sofrido o chamado processo de monsterização, isto é, terem-se transformado em monstros.

À medida que a ação se vai desenrolando vamos percebendo que, afinal, esta transformação não afetou apenas aqueles que se encontravam no exterior do complexo. Alucinações, sangramento nasal e perda de sentidos, são alguns dos sintomas que indiciam estar em curso o processo de monsterização e, em breve, alguns dos residentes começarão a apresentar estes sintomas...

Portanto, se saírem do edifício são mortos pelos monstros. 
Se ficarem dentro do edifício podem, eles mesmos, transformar-se.

É caso para dizer que, se não morrerem da doença, morrem da cura. Só que neste caso, não há cura à vista e a única forma que têm de sobreviver é racionar a comida, não fazer barulho, e em caso de confronto, matar para sobreviver. Só que há aqui alguns pormenores: a comida está a acabar, alguns dos moradores estão a começar a ficar histéricos e paranóicos e... os monstros têm uma incrível capacidade de autorregeneração. 

Sweet Home

Entre os moradores está Hyun Cha, um jovem que perdeu os pais num trágico acidente e que acabou ali a morar sozinho. Destaca-se porque, apesar de infetado, é dos poucos que consegue lutar contra a mutação, tornando-se assim uma arma perfeita na luta contra os monstros. Não se esqueçam que, tal como eles, tem uma excelente capacidade de regeneração. Por isso, mesmo que seja estropiado, recupera e está pronto para outra.

E a manhwa acaba por ser muito isto: humanos contra monstros, lutas tensas e a sensação constante de que ninguém sairá de lá vivo. Bom... e a respeito de ninguém sair vivo, houve momentos em que quase senti estar a ler alguma coisa com a participação do George Martin: os autores não poupam ninguém e há várias personagens centrais que morrem, ou sucumbem ao processo de monsterização. 

O processo em si também está muito bem pensado. A maioria de nós haverá de ter desejos não concretizados, certo ? Aquilo que acontece neste caso é que os "infetados" (não será bem esta a pressão porque aquilo não é nenhuma infeção, nem nenhum vírus) começam a ter uma espécie de alucinação onde um sósia deles os alicia a deixarem-se levar e verem todos os seus sonhos realizados. Pelo menos na mente deles porque, a partir do momento em que aceitam o negócio, ficam a viver na fantasia que mais querem mas os seus corpos transformam-se em monstros que representam esses mesmos desejos. Por exemplo, temos o speed monster que era um dos residentes e cujo sonho era ser velocista, o Seok Kim monster era o dono da mercearia e o seu desejo mais profundo era não ser careca....

  

Temos também um monstro com tentáculos, um musculado que só grita PROTEINS, um com uma cara gigante que pergunta constantemente se é bonito... Por isso, como se pode ver, temos uns que não são especialmente assustadores (quer dizer... não são assustadores para quem está a ler no conforto do lar) e outros que proporcionam momentos bastante tensos.

Pessoalmente achei a história bastante tensa, de tal modo que acabei por ler os 141 episódios praticamente de seguida. Os autores introduzem constantemente novas variáveis e, se não são os monstros a pôr em causa a coesão do grupo, é outra coisa qualquer, e opções não faltam! Gostei especialmente da forma como as personagens são apresentadas, sobretudo porque não temos heróis. Já repararam que, por norma, as personagens são todas super corajosas e destemidas ? Aqui não. Em Sweet Home temos aquilo que eu penso que seria a realidade: pessoas com medo, que não querem tomar a iniciativa de fazer seja o que for, que reagem pelo medo e não pela racionalidade. Claro que são super irritantes mas, ao mesmo tempo, igualmente realistas. 

sweet home

A única coisa que não gostei foi só mesmo o final, porque fiquei com a sensação que foi demasiado apressado e, para ser franca, teria preferido uma versão em que, depois de tudo aquilo que atravessaram, tivessem chegado à conclusão que não havia salvação possível e que todos eles acabariam por se transformar em monstros. Em vez disso, optou-se por um final que deixa em aberto a possibilidade de salvação, mesmo para os monstros. O que dizer? Depois de toda a tensão e mini ataques cardíacos, esperava algo mais mórbido. 

Ainda assim, achei a webtoon genial e recomendo a quem goste de ferir a sua própria suscetibilidade. Há alguns episódios que têm aviso de conteúdo violento, por isso, fica ao critério de cada um ler, ou não. Pessoalmente, não me deparei com data de especialmente chocante, mas ainda verbalizei uns quantos « eishhh » em cenas mais invulgares. 

Boas Leituras !

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