O Prémio (1962) de Irving Wallace

by - março 02, 2024

 
Sinopse: O romancista Andrew Craig não está sóbrio há muito tempo. Depois de ter perdido a mulher num acidente de viação que acredita ter sido culpa sua, voltou-se para a garrafa e para a cunhada, Leah, que é a sua cuidadora e enfermeira residente. Depois, quando recebe o Prémio Nobel da Literatura pelo seu romance "O Estado Perfeito", um golpe histórico no comunismo, parte para Estocolmo, na esperança de encontrar uma razão para viver e para escrever. Os outros laureados têm os seus próprios problemas, um cirurgião cardíaco que acredita que partilhar o prémio com um colega italiano lhe rouba a glória, um casal a quem é atribuído o prémio de medicina no meio de uma grave crise conjugal, e outros - incluindo Max Stratman, cujo coração não está à altura da viagem, mas que precisa do dinheiro do prémio para sustentar a sobrinha Emily.

Este romance mergulha nas vidas, nos amores, nos sonhos e nos pesadelos destas e de outras personagens, construindo uma visão panorâmica do Prémio Nobel, da vida em Estocolmo e do estado da política mundial nos anos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial. É rico e envolvente, conduzindo o leitor das profundezas do desespero às alturas da inspiração. Um romance maravilhoso de um dos melhores romancistas americanos. O Prémio foi transformado num filme protagonizado por Paul Newman.



Opinião: Estamos em Março de 2024 e esta é a minha primeira review desde 31 de Outubro. Curiosamente, tenho lido bastante, mas como têm sido uns livros a seguir aos outros, acabei por deixar acumular as reviews pendentes e agora já vou tarde para retomar tudo. Seja como for, nada como voltar ao Irving Wallace para (re)ganhar o embalo. 

Este é um daqueles autores que descobri por puro acaso, na Associação Reto à Esperança. Gostei tanto do primeiro livro que li, o Fan Club, que acabei a comprar os livros todos que consegui encontrar. O Prémio era um dos que ainda tinha aqui na prateleira e, à semelhança dos anteriores, não desiludiu.

A história passa-se em Estocolmo, local onde se reúnem os vencedores do prémio nobel. São eles: 

Dr. Claude Marceau e Dr.ª Denise Marceau, vencedores do Prémio Nobel da Química, « em virtude das investigações sobre a estrutura do esperma e a descoberta acerca da revivificação dos espermatozoides para a fecundação artificial na seleção das raças ». O casal encontra-se em plena crise conjugal, cujos detalhes vamos ficando a conhecer ao longo da história.

Dr. Max Stratman, vencedor do Prémio Nobel da Física, « pela descoberta de uma conversão fotoquímica e do processo de acumular energia solar bem como da aplicação prática da mesma energia para produzir carburantes sólidos e sintéticos utilizados nos foguetões ». Stratman é um físico simpático e judeu, já com uma certa idade, que conseguiu escapar de um campo de concentração e levar com ele a sua sobrinha, que tem criado como se fosse sua filha. Será ela quem o irá acompanhar à entrega do prémio, e será ao longo dessa viagem que iremos descobrir que também ela tem um segredo chocante.

Ao Dr. John Garret foi atribuído o Prémio Nobel da Fisiologia e da Medicina, « como recompensa da sua participação na descoberta de substâncias anti reativas destinadas a transpor a barreira imunológica na transplantação cardíaca e da invenção na sua técnica cirúrgica que permite realizar com êxito um heterógrafo do coração num corpo humano ». A sensação de estar nas luzes da ribalta e ter finalmente alcançado o merecido reconhecimento teve, no entanto, uma duração curta. Ao descobrir que o prémio foi atribuído a si e a um tal de Dr. Farelli, John Garret foca-se em encontrar formas de desmascarar aquele que ele considera ser nada mais, nada menos, do que um plagiador. Mas as coisas nem sempre são o que parecem...

A Andrew Craig coube o Prémio Nobel da Literatura, por uma obra escrita antes de ter entrado numa espiral descendente, que o atirou para a miséria, para o álcool e para uma relação de dependência com a sua cunhada, Leah. Mas as aparências podem por vezes ser enganadoras, e aqueles que parecem estar focados em praticar o bem, nem sempre têm as melhores motivações para o fazerem. 

Agora que têm uma ideia das personagens que vão encontrar, o que vos posso dizer? Essencialmente que, à semelhança dos outros livros deste autor, há muitos podres escondidos que são postos a descoberto. Para mim, essa é uma das caraterísticas de que mais gosto: a forma como Irving Wallace consegue começar por nos dar uma determinada imagem das personagens, que nos leva a formar um determinado juízo de valor, e depois vai retirando camada a camada, revelando algo que estava muito para além do óbvio e que, por norma, difere bastante da ideia inicial que formámos. 

Outra caraterística que não podia faltar era... uma conspiração que envolvesse russos. E que bem conseguida ela está! Temos o prémio nobel, misturado com esquemas de bastidores para garantir a nomeação de determinado vencedor, misturado por sua vez com um esquema ainda maior através do qual os russos pretendem combater o ocidente capitalista. Um cenário típico nos livros deste autor.

O livro é longo (741 páginas), mas como está sempre a acontecer alguma coisa, não diria que seja penoso de ler. Sobretudo porque temos capítulos dedicados a cada um dos nomeados, onde acompanhamos os seus dramas e deambulações, e momentos onde as histórias se cruzam, tornando tudo muito mais interessante.

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