Jonathan Strange & o Sr.Norrell (2004) de Susanna Clarke
★★★★★
Sinopse:
Há séculos, quando a magia habitava a Inglaterra, houve um mago que se distinguiu entre todos os outros. Chamou-se Rei Corvo, foi criado por fadas e, como nenhum outro, soube conjugar a sabedoria desses seres com a razão humana.
Há séculos, quando a magia habitava a Inglaterra, houve um mago que se distinguiu entre todos os outros. Chamou-se Rei Corvo, foi criado por fadas e, como nenhum outro, soube conjugar a sabedoria desses seres com a razão humana.
Só que tudo se alterará a partir do momento em que um rei louco e algums poetas mais arrojados fazem com que a Inglaterra deixe de acreditar em magia. O que acontecerá até meados do século XIX, quando o solitário Senhor Norrell, de Hurtfew Abbey, que faz andar e falar as estátuas da catedral de York, acredita que poderá ajudar o governo de Sua Majestade contra Napoleão. Já em Londres, Norrell encontrará Jonathan Strange, um jovem, rico e brilhante (mas também arrogante), que descobre por acaso que é um mago, tornando-se seu discípulo. Os feitos de ambos haverão de maravilhar a velha Inglaterra. Até ao momento, no entanto, em que a parceria, que parecia destinada ao sucessom, virará rivalidade. É que, fascinado pela figura sombria do Rei Corvo e atraído pela sua «insensata busca» por magias há muito esquecidas, Jonathan Strange haverá de pôr em causa tudo o que Norrell mais estimava.
Era inadmissível ainda não ter escrito nada acerca daquele que é um dos meus livros favoritos de todos os tempos, Jonathan Strange & o Sr. Norrell. Comprei-o em Dezembro de 2006 e, desde então, acho que já o devo ter lido umas sete vezes. O pobre coitado já tem areia da Praia de Vila Nova de Milfontes e de Sesimbra agarrada aos sítios onde a capa começou a descolar, umas quantas folhas que ameaçam cair a qualquer momento e uma série de papeis que vão de panfletos de promoções de impressão na reprografia da faculdade, a talões de abastecimento já com alguns anos. Mas, apesar de já ser um livro bastante viajado - entenda-se, lido - é o único que faço questão de reler de tempos em tempos.
Com cerca de 800 páginas, Jonathan Strange & o Sr. Norrell é aquilo que alguns leitores carinhosamente apelidam de calhamaço. Para algumas pessoas isto pode ser desencorajador mas, acreditem quando vos digo que, depois de o começarem a ler, essas páginas vão voar num instante.
Jonathan Strange & o Sr. Norrell começou a ser escrito em 1992 e demorou dez anos a estar concluído. Foi em 2003, depois do manuscrito ter sido recusado por duas editoras, que a Bloomsbury decidiu arriscar e apostar naquilo que, acreditavam, tinha potendial para se tornar num sucesso. E foi assim que, em 2004, foram publicados nada mais, nada menos, do que 250.000 exemplares.
A aposta revelou-se bastante acertada e o livro acabou por arrecadar vários prémios, entre os quais, o Hugo Award (2005), World Fantasy (2005), e ser considerado pela revista New York Times como uma espécie de Hogwarts para adultos (pessoalmente não partilho desta opinião mas, percebo a ideia).
Em Jonathan Strange & o Sr. Norrell, o que a autora, Susanna Clarke faz, é criar uma história alternativa, situada no século XIX, durante a qual dois magos, Strange e Norrell, irão tentar restaurar a magia em Inglaterra, cada um deles à sua maneira.
Ficamos desde logo a saber que, até ao século XVI, a magia era amplamente praticada em Inglaterra. Sobretudo porque, durante mais de trezentos anos, o país foi governado pelo Rei Corvo que, « aos catorze anos, já havia criado o sistema de magia que utilizamos hoje em dia ». Depois disso, a prática da magia entrou em franco declínio, passando a ser vista como algo com « ligações baixas » e « companheira íntima de rostos não barbeados, ciganos, assaltantes de casas, frequentadores de salas sebentas com cortinas amarelas ». Não sendo portanto aceitável que um cavalheiro praticasse magia.
« Oh, não. Um cavalheiro não podia fazer magia. Um cavalheiro talvez estudasse a história da magia (nada podia ser mais nobre), mas não podia fazê-la.»
O livro, no entanto, não se fica por aqui. E, embora o conflito entre Jonathan Strange e Mr. Norrel ocupe o palco central, existe uma série de outras personagens que, por consequência directa ou indirecta dos actos praticados pelos magos, se vêem envolvidas em situações que escapam à sua compreensão.
Pessoalmente, gostei particularmente do tipo « do cabelo lanoso », como é descrito durante todo o livro. É, provavelmente, uma das personagens mais assustadoras, imprevisíveis e malévolas que já tive o prazer de ler! Infelizmente, não posso revelar mais pormenores porque, quanto menos souberem, mais chocados vão ficar.
Assim sendo, se gostam de histórias alternativas, de personagens muito bem construídas, de uma boa dose de humor subtil e sarcástico e, sobretudo, se não se deixam intimidar por um calhamaço de quase 800 páginas, Jonathan Strange & Mr. Norrell é uma excelente aposta!
Pessoalmente, considero que este continua a ser um dos melhores livros que já li. Para ser franca, não encontro absolutamente nada de que não goste porque, tanto as personagens como a plausibilidade de tudo, tornam este livro absolutamente perfeito para quem gosta de andar com a cabeça nas nuvens!
E por falar nisso, tenho de explorar mais esta temática das "histórias alternativas" ... Alguma sugestão ?
Poderão querer ler estas reviews:
💻 Resenha | Jonathan Strange & Mr.Norrell @ www.torredevigilancia.com
💻 [Opinião] Jonathan Strange e o Sr. Norrell @ www.estantedelivros.com
Poderão querer espreitar a adaptação pela HBO:
📺 Trailer Jonathan Strange & Mr. Norrell
OPINIÃO
"JONATHAN STRANGE & O SR.NORRELL"
por Cátia Fonseca@UmBlogueSobreLivros
Fotografia de UmBlogueSobreLivros©2018 |
Era inadmissível ainda não ter escrito nada acerca daquele que é um dos meus livros favoritos de todos os tempos, Jonathan Strange & o Sr. Norrell. Comprei-o em Dezembro de 2006 e, desde então, acho que já o devo ter lido umas sete vezes. O pobre coitado já tem areia da Praia de Vila Nova de Milfontes e de Sesimbra agarrada aos sítios onde a capa começou a descolar, umas quantas folhas que ameaçam cair a qualquer momento e uma série de papeis que vão de panfletos de promoções de impressão na reprografia da faculdade, a talões de abastecimento já com alguns anos. Mas, apesar de já ser um livro bastante viajado - entenda-se, lido - é o único que faço questão de reler de tempos em tempos.
Com cerca de 800 páginas, Jonathan Strange & o Sr. Norrell é aquilo que alguns leitores carinhosamente apelidam de calhamaço. Para algumas pessoas isto pode ser desencorajador mas, acreditem quando vos digo que, depois de o começarem a ler, essas páginas vão voar num instante.
Jonathan Strange & o Sr. Norrell começou a ser escrito em 1992 e demorou dez anos a estar concluído. Foi em 2003, depois do manuscrito ter sido recusado por duas editoras, que a Bloomsbury decidiu arriscar e apostar naquilo que, acreditavam, tinha potendial para se tornar num sucesso. E foi assim que, em 2004, foram publicados nada mais, nada menos, do que 250.000 exemplares.
A aposta revelou-se bastante acertada e o livro acabou por arrecadar vários prémios, entre os quais, o Hugo Award (2005), World Fantasy (2005), e ser considerado pela revista New York Times como uma espécie de Hogwarts para adultos (pessoalmente não partilho desta opinião mas, percebo a ideia).
Em Jonathan Strange & o Sr. Norrell, o que a autora, Susanna Clarke faz, é criar uma história alternativa, situada no século XIX, durante a qual dois magos, Strange e Norrell, irão tentar restaurar a magia em Inglaterra, cada um deles à sua maneira.
Ficamos desde logo a saber que, até ao século XVI, a magia era amplamente praticada em Inglaterra. Sobretudo porque, durante mais de trezentos anos, o país foi governado pelo Rei Corvo que, « aos catorze anos, já havia criado o sistema de magia que utilizamos hoje em dia ». Depois disso, a prática da magia entrou em franco declínio, passando a ser vista como algo com « ligações baixas » e « companheira íntima de rostos não barbeados, ciganos, assaltantes de casas, frequentadores de salas sebentas com cortinas amarelas ». Não sendo portanto aceitável que um cavalheiro praticasse magia.
« Oh, não. Um cavalheiro não podia fazer magia. Um cavalheiro talvez estudasse a história da magia (nada podia ser mais nobre), mas não podia fazê-la.»
Jonathan Strange & o Sr. Norrell
Em vez disso, aquilo que passamos a ter são sociedades de magos.
De magos teóricos, entenda-se. Pois nenhum deles alguma vez lançou o mais pequeno feitiço.
A nossa história começa então em 1806, quando John Segundus, recém chegado a York, coloca uma questão que, até àquele momento, ninguém se lembrara de colocar: « porque é que os magos modernos não eram capazes de efectuar a magia sobre a qual escreviam ».
Mas a realidade é que, algures, havia magos capazes de a efectuar.
De magos teóricos, entenda-se. Pois nenhum deles alguma vez lançou o mais pequeno feitiço.
A nossa história começa então em 1806, quando John Segundus, recém chegado a York, coloca uma questão que, até àquele momento, ninguém se lembrara de colocar: « porque é que os magos modernos não eram capazes de efectuar a magia sobre a qual escreviam ».
Mas a realidade é que, algures, havia magos capazes de a efectuar.
E não apenas um, mas sim dois: Jonathan Strange & Mr. Norrell.
Jonathan Strange & Mr. Norrell |
A primeira parte do livro é dedicada a um desses magos, Mr. Norrell.
Um tipo avarento, que « quase nunca falava de magia e, quando o fazia, era como uma lição de história e ninguém tinha paciência para o ouvir » e que se considera a si mesmo como « um mago praticante bastante razoável ». Curiosamente, apesar de todas as suas artimanhas e do facto de não olhar a meios para atingir os fins, é uma das minhas personagens favoritas do livro, talvez porque me identifico com ele em algumas coisas (acreditem que, se pudesse, também eu lançava um feitiço às minhas estantes, para que quem cá viesse não se lembrasse dos livros que viu e não mos pedisse emprestados).
Nesta parte, que algumas pessoas consideraram ser a mais aborrecida (pessoalmente, não partilho dessa opinião), vamos assistir às tentativas de Norrell para para tornar a magia em algo respeitável e, sobretudo, numa ferramenta valiosa que possa ser utilizada para combater a França de Napoleão. Claro que, para o fazer, este cavalheiro com uma predilecção pelo isolamento vai ter de participar nuns quantos eventos sociais e, acreditem, é absolutamente hilariante.
A segunda parte do livro é dedicada a Jonathan Strange, um cavalheiro que vivia numa espécie de férias permanentes até que, durante uma viagem a cavalo se cruza com Vinculus, considerado pelos habitantes da cidade como um mago intrujão, e que lhe diz estar destinado a tornar-se num dos magos que irá restaurar a magia em Inglaterra.
A verdade é que parece que, afinal, Mr. Strange parece ter um talento nato. Mas enquanto que Mr. Norrell assume uma postura cautelosa, e defende que a prática da magia deve obedecer a regras e restrições, Strange tem uma postura bastante mais arrojada, e será esse conflito de ideias e ideais entre os dois magos que constituirá o cerne da história.
Um tipo avarento, que « quase nunca falava de magia e, quando o fazia, era como uma lição de história e ninguém tinha paciência para o ouvir » e que se considera a si mesmo como « um mago praticante bastante razoável ». Curiosamente, apesar de todas as suas artimanhas e do facto de não olhar a meios para atingir os fins, é uma das minhas personagens favoritas do livro, talvez porque me identifico com ele em algumas coisas (acreditem que, se pudesse, também eu lançava um feitiço às minhas estantes, para que quem cá viesse não se lembrasse dos livros que viu e não mos pedisse emprestados).
Nesta parte, que algumas pessoas consideraram ser a mais aborrecida (pessoalmente, não partilho dessa opinião), vamos assistir às tentativas de Norrell para para tornar a magia em algo respeitável e, sobretudo, numa ferramenta valiosa que possa ser utilizada para combater a França de Napoleão. Claro que, para o fazer, este cavalheiro com uma predilecção pelo isolamento vai ter de participar nuns quantos eventos sociais e, acreditem, é absolutamente hilariante.
Mr. Norrell |
A segunda parte do livro é dedicada a Jonathan Strange, um cavalheiro que vivia numa espécie de férias permanentes até que, durante uma viagem a cavalo se cruza com Vinculus, considerado pelos habitantes da cidade como um mago intrujão, e que lhe diz estar destinado a tornar-se num dos magos que irá restaurar a magia em Inglaterra.
A verdade é que parece que, afinal, Mr. Strange parece ter um talento nato. Mas enquanto que Mr. Norrell assume uma postura cautelosa, e defende que a prática da magia deve obedecer a regras e restrições, Strange tem uma postura bastante mais arrojada, e será esse conflito de ideias e ideais entre os dois magos que constituirá o cerne da história.
Jonathan Strange |
A terceira e última parte do livro é dedicada ao Rei Corvo que, no fundo representa o antagonismo entre as duas personagens principais. Como referi antes, durante o sei reinado, a magia estava em toda a parte... A questão, e aquilo que irá opor os dois magos, é: deve tudo o que pertenceu a John Uskglass ser espanejado da magia « tal como espanejaríamos as traças e o pó de um velho casaco ? » e, se o fizermos, o que é que resta ?
John Uskglass, conhecido como Rei Corvo |
O livro, no entanto, não se fica por aqui. E, embora o conflito entre Jonathan Strange e Mr. Norrel ocupe o palco central, existe uma série de outras personagens que, por consequência directa ou indirecta dos actos praticados pelos magos, se vêem envolvidas em situações que escapam à sua compreensão.
Pessoalmente, gostei particularmente do tipo « do cabelo lanoso », como é descrito durante todo o livro. É, provavelmente, uma das personagens mais assustadoras, imprevisíveis e malévolas que já tive o prazer de ler! Infelizmente, não posso revelar mais pormenores porque, quanto menos souberem, mais chocados vão ficar.
« O senhor do cabelo lanoso » |
Portanto, como já devem ter reparado, as personagens são um dos pontos fortíssimos deste livro. De tal forma, que se torna impossível escolher apenas uma.
Mas, não só de personagens vive o livro e, tratando-se de uma história alternativa, serão várias as referências a acontecimentos e personagens reais, como é o caso da invasão francesa (inserida num conflito mais abrangente, as Guerras Napoleónicas), a retirada para as Linhas de Torres e o papel desempenhado por Lord Wellington. Claro que, uma vez que estamos perante uma história alternativa com alguma magia à mistura, o desfecho será o mesmo mas, a explicação para o resultado será bem diferente.
Pessoalmente, considero que este continua a ser um dos melhores livros que já li. Para ser franca, não encontro absolutamente nada de que não goste porque, tanto as personagens como a plausibilidade de tudo, tornam este livro absolutamente perfeito para quem gosta de andar com a cabeça nas nuvens!
E por falar nisso, tenho de explorar mais esta temática das "histórias alternativas" ... Alguma sugestão ?
💻 Resenha | Jonathan Strange & Mr.Norrell @ www.torredevigilancia.com
💻 [Opinião] Jonathan Strange e o Sr. Norrell @ www.estantedelivros.com
Poderão querer espreitar a adaptação pela HBO:
2 comments
Olá!
ResponderEliminarJá vi este livro tantas vezes à venda...a capa apesar de muito simples, fascina-me. Mas ficava sempre com receio de que a história não valesse a pena.
Depois da tua opinião percebi que já o devia ter trazido para casa!
Adorei a opinião!
Acho que vou aproveitar a Feira do Livro e arranjar este livrinho :D
Beijinhos e boas leituras!
Olá Raquel,
EliminarMuito obrigado pela tua visita ao blogue e por teres partilhado a tua opinião! :)
Fico muito contente que a review te tenha convencido a incluí-lo na lista de "próximas leituras" visto que, Jonathan Strange & Mr. Norrell é talvez o meu livro favorito e fico sempre contente quando converto alguém :p
Se depois avançares para a leitura, passa por aqui para dizeres o que achaste! Adorava saber a tua opiniao :D
Beijinhos e boas leituras!