O Diabo, O Relojoeiro e a Máquina dos Sacrifícios (2017) de Michael Marshall Smith
★★☆☆☆
Sinopse:
Imagine, caro leitor, a oficina de um relojoeiro. Imagine ainda que esta história de passa num mundo banal e que o relojoeiro é, também ele, um homem normal... com um talento extraordinário.
Até ao dia em que alguém entra na oficina com o mais invulgar dos pedidos: uma máquina para converter a maldade do mundo em energia.
Quem (pergunta-se o leitor) quererá esta bizarra extravagância? Ora, ninguém mais do que o próprio Diabo... Que, como se sabe, tem formas muito persuasivas de obter o que deseja.
Passaram-se séculos, e o Diabo e a sua máquina estão a ter problemas. É então que, acidentalmente (embora se suspeite de uma certa influência maligna), a pequena Hannah Green é arrastada para uma tenebrosa aventura maquinada pelo Diabo.
Preste bem atenção, estimado leitor, pois aqui começará também a sua história, num mundo onde as aparências enganam e as coincidências não existem. Fonte: SMITH, Michael Marshall. O Diabo, O Relojoeiro e a Máquina dos Sacrifícios. Amadora: Topseller, 2017
Opinião:
Detestei tantas coisas neste livro que nem sei bem por onde começar...
Personagens desinteressantes.
Drama familiar a mais. A mais mesmo.
Infantilização da história.
Ações sem um propósito claro.
Já falei das personagens desinteressantes? Pois...
Enquanto avançava na leitura, ia ficando cada vez mais intrigada ...
Alguma coisa havia de me estar a passar completamente ao lado porque a capa dizia "vencedor do British Fantasy Award e do Philip K. Dick Award" e eu achava impossível que um livro destes tivesse ganho qualquer um destes prémios. Se assim fosse, o que é que se seguiria? "Anita vai à Escola"? "Ruca Veste-se Como os Crescidos?"
Parece que afinal, a única coisa que me passou ao lado foi a construção da capa, pois quando referem "vencedor do British Fantasy Award e do Philip K. Dick Award", estão a falar do autor, Michael Marshall Smith - que entre 1991 e 2005 galardoado com alguns destes prémios - e não do livro.
Senti-me só um bocadinho enganada. Afinal de contas, comprei o livro a julgar que tinha vencido os prémios mas, a culpa é totalmente minha. Cada um vê o que quer e comprar livros por impulso dá nisto. Ainda assim, é uma belíssima capa!
Vamos então falar um pouco da história d'O Diabo, O Relojoeiro e A Máquina dos Sacrifícios.
O autor começa por nos dar a conhecer a personagem central (que na versão original dá nome ao título: "Hannah Green and Her Unfeasibly Mundane Existence"): Hannah é uma rapariga com 11 anos que vive com os pais em Santa Cruz, e cuja vida passou a ser dominada « por uma história antiga, triste e confusa chamada A Mãe e o Pai Já Não Vivem Juntos ». Acho que por esta referência já dá para perceber porque é que acho que há alguma infantilização da história. Porque não dizer simplesmente que os pais estão separados? E porque é que isso é tão importante para a história? Porque ao longo de todo o livro vai estar sempre presente o drama familiar e o choradinho dos pais já não estarem juntos. Como disse ao início: drama familiar a mais.
Passamos depois para um outro indivíduo que o leitor tem de conhecer, um velhote de fato de linho preto, e que é nada mais, nada menos, do que o Diabo. Do leque entediante de personagens, esta foi uma daquelas que me deixou ligeiramente expetante...
Infelizmente, apesar desta incrível capacidade de fazer explodir pessoas com um estalar de dedos, as minhas expetativas não deram em nada...
Ora, e como é que os caminhos destes dois se cruzam ? Porque Steve e Kristen, os pais de Hannah, se separaram e ela acabou por ser recambiada para casa do avô, um velhote cuja idade ninguém sabe ao certo, que não tem uma residência fixa e que, ficamos nós depois a saber - embora não haja propriamente um grande mistério à volta disso - que ele é também conhecido como « O Engenheiro » e um servo de longa data do Diabo. Foi ele, aliás , o responsável pela construção da Máquina dos Sacrifícios, uma máquina cujo propósito é canalizar a maldade do mundo através do Inferno, de volta à alma do Diabo - porque, pasme-se!, o Diabo deste livro acha que é importante que a maldade não se acumule no mundo -.
O problema surge quando o Diabo se apercebe que, por algum estranho motivo, o fluxo de maldade que recebe parece ter sido interrompido e decide então consultar O Engenheiro para que este analise a máquina e descubra onde está a anomalia. No entanto, a máquina parece estar a funcionar na perfeição...
Descobrimos então que há um grupo de onze Anjos Caídos que são quem está a impedir que a Máquina dos Sacrifícios cumpra a sua função, para depois atacarem e reclamarem o mundo para si. Nunca ficamos no entanto a saber como é que estes anjos estão a impedir a máquina de funcionar corretamente, como é que vão reclamar o mundo para si, nem para quê. Ou seja, o modus operandi das forças antagónicas que motivam toda a ação do livro é-nos totalmente desconhecido. Se dissessem que a máquina não funcionava porque lhe faltava um parafuso, toda a história se poderia desenrolar da mesma forma que não faria grande diferença. A impressão com que fiquei foi que o enredo tem demasiadas pontas soltas, quase como se o autor fosse escrevendo à medida que as ideias iam surgindo, sem ter propriamente uma ideia previamente estruturada do desenlace da história e da forma como os acontecimentos se deviam relacionar entre si.
O mesmo se aplica às personagens.
Há aquelas que são tão inócuas, que nem sequer se percebe bem qual o seu contributo para a história. A tia de Hannah, Zoë, podia nem sequer aparecer que tudo decorreria da mesma maneira, com a diferença que, se assim fosse, não teríamos demónios a fazer comentários como « adoro o teu cabelo ».
Depois, e tal como já tinha acontecido com o enredo, também aqui vamos encontrar alguma incoerência. Para mim, não faz qualquer sentido, começar por apresentar uma personagem como « um demónio muito estúpido » que « vinha de uma família estúpida, uma linhagem de demónios conhecidos por serem mais embotados do que o normal », dedicar três páginas a reforçar a ideia da magnitude da estupidez, e depois, páginas mais tarde, pôr essa mesma personagem a dizer coisas como: « Não sei amor, mas se os Anjos Caídos se tornarem um nadinha mais irascíveis, acabou-se. Eles são bastante presunçosos e conflituosos (...) ».
Como é que se passa de « o raciocínio não é o meu forte. Para ser franco, nunca entendi sequer o que isso é » para isto? E ... « amor » ?! Porque raio é que um demónio havia de tratar alguém por amor ?
No meio disto tudo, a única personagem que ainda me conseguiu despertar algum interesse foi O Engenheiro, sobretudo porque tem uma história de vida muito interessante, mas também porque é aquele tipo de avô que creio que toda a gente idealiza ter.
De resto, não consigo apontar nada de positivo.
Acho que foi um livro que falhou em termos de enredo e de personagens, com um final muito mal amanhado e com um Diabo que não faz justiça ao nome.
Outro ponto menos positivo foram as gralhas. Não sou nenhuma grammar nazi mas estes pequenos detalhes saltam à vista, o que acaba por transmitir a ideia de uma edição pouco cuidada. Gosto bastante desta editora, e têm realmente publicado livros de grande qualidade mas esta falta de atenção ao detalhe acaba, julgo eu, por comprometer a qualidade final do produto.
« Quanto terminei e o estendi-o no chão »
« Parecia que já não conseguir libertar-se »
« Iam subindo cada vez mais alto até que alcançarem o topo »
Opinião:
Detestei tantas coisas neste livro que nem sei bem por onde começar...
Personagens desinteressantes.
Drama familiar a mais. A mais mesmo.
Infantilização da história.
Ações sem um propósito claro.
Já falei das personagens desinteressantes? Pois...
Enquanto avançava na leitura, ia ficando cada vez mais intrigada ...
Alguma coisa havia de me estar a passar completamente ao lado porque a capa dizia "vencedor do British Fantasy Award e do Philip K. Dick Award" e eu achava impossível que um livro destes tivesse ganho qualquer um destes prémios. Se assim fosse, o que é que se seguiria? "Anita vai à Escola"? "Ruca Veste-se Como os Crescidos?"
Parece que afinal, a única coisa que me passou ao lado foi a construção da capa, pois quando referem "vencedor do British Fantasy Award e do Philip K. Dick Award", estão a falar do autor, Michael Marshall Smith - que entre 1991 e 2005 galardoado com alguns destes prémios - e não do livro.
Senti-me só um bocadinho enganada. Afinal de contas, comprei o livro a julgar que tinha vencido os prémios mas, a culpa é totalmente minha. Cada um vê o que quer e comprar livros por impulso dá nisto. Ainda assim, é uma belíssima capa!
Vamos então falar um pouco da história d'O Diabo, O Relojoeiro e A Máquina dos Sacrifícios.
O autor começa por nos dar a conhecer a personagem central (que na versão original dá nome ao título: "Hannah Green and Her Unfeasibly Mundane Existence"): Hannah é uma rapariga com 11 anos que vive com os pais em Santa Cruz, e cuja vida passou a ser dominada « por uma história antiga, triste e confusa chamada A Mãe e o Pai Já Não Vivem Juntos ». Acho que por esta referência já dá para perceber porque é que acho que há alguma infantilização da história. Porque não dizer simplesmente que os pais estão separados? E porque é que isso é tão importante para a história? Porque ao longo de todo o livro vai estar sempre presente o drama familiar e o choradinho dos pais já não estarem juntos. Como disse ao início: drama familiar a mais.
Passamos depois para um outro indivíduo que o leitor tem de conhecer, um velhote de fato de linho preto, e que é nada mais, nada menos, do que o Diabo. Do leque entediante de personagens, esta foi uma daquelas que me deixou ligeiramente expetante...
« - Um grave problema. Não sei a quem tens oferecido os teus sacrifícios, meu amigo, mas ele não é o Diabo.
- Ah sim? Como sabes que não é?
- Porque o Diabo sou eu - disse o velho.
Dito isto, virou-se para o homem escondido na penumbra, que continuava com a carteira dele na mão, ergueu uma mão e estalou os dedos.
O homem explodiu.»
Infelizmente, apesar desta incrível capacidade de fazer explodir pessoas com um estalar de dedos, as minhas expetativas não deram em nada...
O problema surge quando o Diabo se apercebe que, por algum estranho motivo, o fluxo de maldade que recebe parece ter sido interrompido e decide então consultar O Engenheiro para que este analise a máquina e descubra onde está a anomalia. No entanto, a máquina parece estar a funcionar na perfeição...
« - O problema deve estar noutro sítio. No... no local para onde a máquina transporta a energia, antes de esta ser canalizada para ti. »
Descobrimos então que há um grupo de onze Anjos Caídos que são quem está a impedir que a Máquina dos Sacrifícios cumpra a sua função, para depois atacarem e reclamarem o mundo para si. Nunca ficamos no entanto a saber como é que estes anjos estão a impedir a máquina de funcionar corretamente, como é que vão reclamar o mundo para si, nem para quê. Ou seja, o modus operandi das forças antagónicas que motivam toda a ação do livro é-nos totalmente desconhecido. Se dissessem que a máquina não funcionava porque lhe faltava um parafuso, toda a história se poderia desenrolar da mesma forma que não faria grande diferença. A impressão com que fiquei foi que o enredo tem demasiadas pontas soltas, quase como se o autor fosse escrevendo à medida que as ideias iam surgindo, sem ter propriamente uma ideia previamente estruturada do desenlace da história e da forma como os acontecimentos se deviam relacionar entre si.
O mesmo se aplica às personagens.
Há aquelas que são tão inócuas, que nem sequer se percebe bem qual o seu contributo para a história. A tia de Hannah, Zoë, podia nem sequer aparecer que tudo decorreria da mesma maneira, com a diferença que, se assim fosse, não teríamos demónios a fazer comentários como « adoro o teu cabelo ».
Depois, e tal como já tinha acontecido com o enredo, também aqui vamos encontrar alguma incoerência. Para mim, não faz qualquer sentido, começar por apresentar uma personagem como « um demónio muito estúpido » que « vinha de uma família estúpida, uma linhagem de demónios conhecidos por serem mais embotados do que o normal », dedicar três páginas a reforçar a ideia da magnitude da estupidez, e depois, páginas mais tarde, pôr essa mesma personagem a dizer coisas como: « Não sei amor, mas se os Anjos Caídos se tornarem um nadinha mais irascíveis, acabou-se. Eles são bastante presunçosos e conflituosos (...) ».
Como é que se passa de « o raciocínio não é o meu forte. Para ser franco, nunca entendi sequer o que isso é » para isto? E ... « amor » ?! Porque raio é que um demónio havia de tratar alguém por amor ?
No meio disto tudo, a única personagem que ainda me conseguiu despertar algum interesse foi O Engenheiro, sobretudo porque tem uma história de vida muito interessante, mas também porque é aquele tipo de avô que creio que toda a gente idealiza ter.
De resto, não consigo apontar nada de positivo.
Acho que foi um livro que falhou em termos de enredo e de personagens, com um final muito mal amanhado e com um Diabo que não faz justiça ao nome.
Outro ponto menos positivo foram as gralhas. Não sou nenhuma grammar nazi mas estes pequenos detalhes saltam à vista, o que acaba por transmitir a ideia de uma edição pouco cuidada. Gosto bastante desta editora, e têm realmente publicado livros de grande qualidade mas esta falta de atenção ao detalhe acaba, julgo eu, por comprometer a qualidade final do produto.
« Quanto terminei e o estendi-o no chão »
« Parecia que já não conseguir libertar-se »
« Iam subindo cada vez mais alto até que alcançarem o topo »
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