O Marciano (2014) de Andy Weir
★★★★☆
Sinopse:
Há exatamente seis dias, o astronauta Mark Watney tornou-se uma das primeiras pessoas a caminhar em Marte. Agora, ele tem a certeza de que vai ser a primeira pessoa a morrer ali.
Depois de uma tempestade de areia ter obrigado a sua tripulação a evacuar o planeta, e de esta o ter deixado para trás por julgá-lo morto, Mark encontra-se preso em Marte, completamente sozinho, sem perspetivas de conseguir comunicar com a Terra para dizer que está vivo. E mesmo que o conseguisse fazer, os seus mantimentos esgotar-se-iam muito antes de uma equipa de salvamento o encontrar.
De qualquer modo, Mark não terá tempo para morrer de fome. A maquinaria danificada, o meio ambiente implacável e o simples « erro humano » irão, muito provavelmente, matá-lo primeiro.
Apoiando-se nas suas enormes capacidades técnicas, no domínio da engenharia e na determinada recusa em desistir - e num surpreendente sentido de humor a que vai buscar força para sobreviver -, ele embarca numa missão obstinada para se manter vivo. Será que a sua mestria vai ser suficiente para superar todas as adversidades impossíveis que se erguem contra si? Fonte: WEIR, Andy. O Marciano. Amadora: Topseller (2014)
Opinião:
Tenho de começar por dizer que comprei este livro por engano. Quando fui à Feira do Livro, ia com ideia de comprar Artemis, também de Andy Weir, mas acabei por confundir os títulos e trazer O Marciano.
Ambos são acerca da exploração espacial e viagens interplanetárias, portanto creio que foi uma confusão perfeitamente legítima, certo? A única parte que me aborrece é que me continua a faltar o Artemis, o que significa que terei de ir novamente às compras (ohhh).
No primeiro dia em que pousei o livro em cima da secretária no emprego, uma das minhas colegas comenta "Já vi esse filme. É UMA SECA!!!" Com ênfase no facto de ser uma seca. Bom, bem vistas as coisas, ela até nem estava totalmente errada visto que a história se passa em Marte e aquilo lá é um bocado árido... Entretanto, junta-se uma outra colega à conversa que também já viu o filme e que é realmente uma seca "porque não se passa nada".
Eu também já eu tinha visto o The Martian (2015) mas, para ser franca, só me lembrava que tinha o Matt Damon num fato espacial, e pouco mais.
Mas de uma coisa vos garanto: o livro está longe de ser "uma seca" e foi um dos melhores que já me passou pelas mãos este ano! Qualquer um que tenha a capacidade de desbloquear os meus sacos lacrimais tem muito que se lhe diga!
O Marciano foi o primeiro livro publicado de Andy Weir. Digo publicado porque, antes dele, o autor dedicou-se durante três anos a um outro chamado The Egg (ler The Egg online) Parece no entanto que, metade do tempo era passado a escrever e a outra metade à procura de um agente ou de uma editora que o quisesse publicar mas, nada feito... Depois disso, Weir decidiu retomar a sua actividade como programador mas manter a escrita como hobbie. Na altura, a internet estava a começar a ficar mais acessível e ele achou que seria boa ideia partilhar aquilo que ia escrevendo no seu website: galactanet
À medida que ia escrevendo aquilo que se viria a tornar O Marciano, ia partilhando os capítulos no site, acessíveis gratuitamente a quem os quisesse ler. Três anos depois, a história estava terminada.
Pouco depois, Andy Weir começou a receber e-mails de leitores que diziam ter gostado bastante d'O Marciano e que lhe perguntavam se seria possível disponibilizar uma versão e-reader. Ele assim fez mas, ainda assim, havia quem sugerisse uma outra solução: colocar o livro no Kindle da Amazon por ser mais prático para descarregar. Mais uma vez, Weir fez-lhes a vontade, e o livro foi posto à venda por 99 cêntimos, o valor mínimo permitido.
Em 3 meses O Marciano vendeu nada mais nada menos do que 35.000 cópias, o que o colocou na lista top best science fiction. Isto chamou a atenção da Crown Publishing Group que acabou por comprar os direitos e, em 2014 publicou a primeira edição hardcover. Pouco depois, a Twentieth Century Fox comprou os direitos do livro para o adaptar ao cinema.
Bom, considerando que o título do livro é O Marciano, e a capa alusiva ao filme diz "agora em filme da Twentieth Century Fox - Perdido em Marte", provavelmente já perceberam qual é a história.
Sim, é sobre um tipo que está perdido - embora eu ache que o termo mais adequado seria abandonado - em Marte.
Tudo começa com o Programa Ares, cujo objetivo consiste em « enviar gente para outros planetas pela primeira vez e expandir os horizontes do género humano e blá blá blá ».
O astronauta Mark Watney integra a missão Ares-3 (a terceira missão tripulada com destino ao planeta vermelho) mas, devido a uma « ridícula sequência de acontecimentos », que começou com ventos a 175 km/hora e acabou com o resto da sua equipa a regressar ao VSM (veículo de saída de Marte) e a abandonar o planeta, deixando-o para trás.
O livro chega-nos na forma de "entradas de registo", um diário onde o astronauta nos vai relatando o seu dia a dia, as dificuldades com que se depara, a forma como planeia ultrapassar esses obstáculos, e algumas considerações pessoais, sempre com um humor mordaz que ocasionalmente despoleta um sorriso e nos faz esquecer da situação de merda em que ele está.
Percebo que possa ser o género de narrativa que não agrade a toda a gente, e que leve algumas pessoas a considerar o livro uma seca. Afinal de contas, o tipo está sozinho em Marte, e Marte não é propriamente conhecido pela sua animação noturna e atividades recreativas para toda a família.
Também não há lutas com alienígenas.
Nem lasers.
Nem homenzinhos verdes a planear invadir a Terra.
Aquilo que vamos encontrar é, bem vistas as coisas, a narrativa na primeira pessoa, se um botânico-astronauta-handyman que tenta descobrir como sobreviver em Marte.
Não vos vou mentir: grande parte do diário é Watney a calcular de quantas calorias precisa para sobreviver, de quantas batatas precisa de cultivar para assegurar esse fornecimento de calorias, qual a quantidade de terra, de água, como reparar uma rotura no Hab e por aí fora ... e tudo isto, segundo o autor, baseado em princípios científicos explicados de forma plausível.
A parte do cientificamente correto pode, para algumas pessoas, ser sinónimo de aborrecimento. Pessoalmente não achei, sobretudo porque foi uma boa forma de transmitir as dificuldades com que ele se deparava.
Outras pessoas, acham que o cientificamente correto tem muito que se lhe diga, e que há uma série de detalhes que não estão certos. Para quem não percebeu, O Marciano é um livro de ficção científica. Com ênfase na parte da ficção. Portanto, da mesma forma que ninguém crítica as explosões no espaço e lasers que fazem "pew pew", não vejo porque raio ficam tão ofendidos com aspectos do livro que não são cientificamente corretos. Adiante.
Seja como for, tendo a concordar que se o livro fosse só o Watney a descrever o dia a dia, talvez fosse um bocadinho aborrecido e previsível. Deprimente até, visto que o único desfecho possível era a morte do astronauta, e a única incógnita seria a forma e a velocidade com que tal aconteceria. Mas, como já devem ter imaginado, o livro não é só isso.
O Marciano foi um daqueles livros que me foi praticamente impossível de pousar porque, como estava sempre a acontecer alguma coisa, eu estava constantemente na expetativa de descobrir o que viria a seguir.
Por outro lado, e embora o autor não entre em grandes descrições acerca da personagem - algo que, pelo que li em algumas entrevistas, é propositado - foi impossível não sentir uma grande empatia pelo astronauta. Vou mais longe, e diria até que, a história está de tal forma bem construída que, a determinado ponto, nos sentimos o Mark Watney, e começamos a temer seriamente pela integridade física sempre que a história sofre algum tipo de revés.
Mas o melhor de tudo é a forma como Andy Weir nos consegue manter com os pés bem assentes na Terra - neste caso, em Marte - ao longo de todo o livro, o que nos faz estar sempre bem cientes de que, a qualquer momento, tudo pode começar a correr terrivelmente mal e que basta uma pequena coisa... uma pequena anomalia neste ou naquele sistema ... uma pequena fissura no Hab ... e podem esquecer toda a qualquer esperança de sobrevivência.
Para mim, esse foi o aspecto mais marcante do livro: nunca me ter conseguido abstrair do facto de Mark Watney estar preso em Marte. Pode parecer estranho eu apontar isto como uma coisa positiva quando, pelo título, é óbvio que ele está em Marte. É verdade. Mas reparem no seguinte, temos livros passados em naves espaciais, em barcos, submarinos ... mas em que a acção descrita poderia passar-se em qualquer outro local e, a determinado ponto, o local não parece ser assim tão decisivo. N'O Marciano isso não acontece e mesmo que tenhamos tendência a começar a esquecer, rapidamente nos deparamos com um obstáculo que nos trás de volta à realidade árida de Marte.
Perdido em Marte ... Caramba.
Nem sequer consigo imaginar como será...
Uma coisa é certa: o Bear Grylls ao pé do Mark Watney é um menino do coro.
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Tenho de começar por dizer que comprei este livro por engano. Quando fui à Feira do Livro, ia com ideia de comprar Artemis, também de Andy Weir, mas acabei por confundir os títulos e trazer O Marciano.
Ambos são acerca da exploração espacial e viagens interplanetárias, portanto creio que foi uma confusão perfeitamente legítima, certo? A única parte que me aborrece é que me continua a faltar o Artemis, o que significa que terei de ir novamente às compras (ohhh).
No primeiro dia em que pousei o livro em cima da secretária no emprego, uma das minhas colegas comenta "Já vi esse filme. É UMA SECA!!!" Com ênfase no facto de ser uma seca. Bom, bem vistas as coisas, ela até nem estava totalmente errada visto que a história se passa em Marte e aquilo lá é um bocado árido... Entretanto, junta-se uma outra colega à conversa que também já viu o filme e que é realmente uma seca "porque não se passa nada".
Eu também já eu tinha visto o The Martian (2015) mas, para ser franca, só me lembrava que tinha o Matt Damon num fato espacial, e pouco mais.
The Martian (2015) |
Mas de uma coisa vos garanto: o livro está longe de ser "uma seca" e foi um dos melhores que já me passou pelas mãos este ano! Qualquer um que tenha a capacidade de desbloquear os meus sacos lacrimais tem muito que se lhe diga!
O Marciano foi o primeiro livro publicado de Andy Weir. Digo publicado porque, antes dele, o autor dedicou-se durante três anos a um outro chamado The Egg (ler The Egg online) Parece no entanto que, metade do tempo era passado a escrever e a outra metade à procura de um agente ou de uma editora que o quisesse publicar mas, nada feito... Depois disso, Weir decidiu retomar a sua actividade como programador mas manter a escrita como hobbie. Na altura, a internet estava a começar a ficar mais acessível e ele achou que seria boa ideia partilhar aquilo que ia escrevendo no seu website: galactanet
À medida que ia escrevendo aquilo que se viria a tornar O Marciano, ia partilhando os capítulos no site, acessíveis gratuitamente a quem os quisesse ler. Três anos depois, a história estava terminada.
Pouco depois, Andy Weir começou a receber e-mails de leitores que diziam ter gostado bastante d'O Marciano e que lhe perguntavam se seria possível disponibilizar uma versão e-reader. Ele assim fez mas, ainda assim, havia quem sugerisse uma outra solução: colocar o livro no Kindle da Amazon por ser mais prático para descarregar. Mais uma vez, Weir fez-lhes a vontade, e o livro foi posto à venda por 99 cêntimos, o valor mínimo permitido.
Em 3 meses O Marciano vendeu nada mais nada menos do que 35.000 cópias, o que o colocou na lista top best science fiction. Isto chamou a atenção da Crown Publishing Group que acabou por comprar os direitos e, em 2014 publicou a primeira edição hardcover. Pouco depois, a Twentieth Century Fox comprou os direitos do livro para o adaptar ao cinema.
Sim, é sobre um tipo que está perdido - embora eu ache que o termo mais adequado seria abandonado - em Marte.
Tudo começa com o Programa Ares, cujo objetivo consiste em « enviar gente para outros planetas pela primeira vez e expandir os horizontes do género humano e blá blá blá ».
O astronauta Mark Watney integra a missão Ares-3 (a terceira missão tripulada com destino ao planeta vermelho) mas, devido a uma « ridícula sequência de acontecimentos », que começou com ventos a 175 km/hora e acabou com o resto da sua equipa a regressar ao VSM (veículo de saída de Marte) e a abandonar o planeta, deixando-o para trás.
« Portanto, é esta a situação. Estou encalhado em Marte. Não tenho maneira de comunicar com a Hermes ou com a Terra. Todos julgam que morri, Estou num Hab concebido para subsistir durante 31 dias.
Se o oxigenador avariar, morro sufocado. Se o destilador de água se avariar, morro à sede. Se se abrir alguma fissura no Hab, expludo, por assim dizer. Se nada disto acontecer, a comida acabará por se esgotar e então morro à fome. Portanto, sim, estou tramado.»
Percebo que possa ser o género de narrativa que não agrade a toda a gente, e que leve algumas pessoas a considerar o livro uma seca. Afinal de contas, o tipo está sozinho em Marte, e Marte não é propriamente conhecido pela sua animação noturna e atividades recreativas para toda a família.
Também não há lutas com alienígenas.
Nem lasers.
Nem homenzinhos verdes a planear invadir a Terra.
The Martian (2015) |
Aquilo que vamos encontrar é, bem vistas as coisas, a narrativa na primeira pessoa, se um botânico-astronauta-handyman que tenta descobrir como sobreviver em Marte.
Não vos vou mentir: grande parte do diário é Watney a calcular de quantas calorias precisa para sobreviver, de quantas batatas precisa de cultivar para assegurar esse fornecimento de calorias, qual a quantidade de terra, de água, como reparar uma rotura no Hab e por aí fora ... e tudo isto, segundo o autor, baseado em princípios científicos explicados de forma plausível.
A parte do cientificamente correto pode, para algumas pessoas, ser sinónimo de aborrecimento. Pessoalmente não achei, sobretudo porque foi uma boa forma de transmitir as dificuldades com que ele se deparava.
Outras pessoas, acham que o cientificamente correto tem muito que se lhe diga, e que há uma série de detalhes que não estão certos. Para quem não percebeu, O Marciano é um livro de ficção científica. Com ênfase na parte da ficção. Portanto, da mesma forma que ninguém crítica as explosões no espaço e lasers que fazem "pew pew", não vejo porque raio ficam tão ofendidos com aspectos do livro que não são cientificamente corretos. Adiante.
Seja como for, tendo a concordar que se o livro fosse só o Watney a descrever o dia a dia, talvez fosse um bocadinho aborrecido e previsível. Deprimente até, visto que o único desfecho possível era a morte do astronauta, e a única incógnita seria a forma e a velocidade com que tal aconteceria. Mas, como já devem ter imaginado, o livro não é só isso.
O Marciano foi um daqueles livros que me foi praticamente impossível de pousar porque, como estava sempre a acontecer alguma coisa, eu estava constantemente na expetativa de descobrir o que viria a seguir.
Por outro lado, e embora o autor não entre em grandes descrições acerca da personagem - algo que, pelo que li em algumas entrevistas, é propositado - foi impossível não sentir uma grande empatia pelo astronauta. Vou mais longe, e diria até que, a história está de tal forma bem construída que, a determinado ponto, nos sentimos o Mark Watney, e começamos a temer seriamente pela integridade física sempre que a história sofre algum tipo de revés.
Mas o melhor de tudo é a forma como Andy Weir nos consegue manter com os pés bem assentes na Terra - neste caso, em Marte - ao longo de todo o livro, o que nos faz estar sempre bem cientes de que, a qualquer momento, tudo pode começar a correr terrivelmente mal e que basta uma pequena coisa... uma pequena anomalia neste ou naquele sistema ... uma pequena fissura no Hab ... e podem esquecer toda a qualquer esperança de sobrevivência.
Para mim, esse foi o aspecto mais marcante do livro: nunca me ter conseguido abstrair do facto de Mark Watney estar preso em Marte. Pode parecer estranho eu apontar isto como uma coisa positiva quando, pelo título, é óbvio que ele está em Marte. É verdade. Mas reparem no seguinte, temos livros passados em naves espaciais, em barcos, submarinos ... mas em que a acção descrita poderia passar-se em qualquer outro local e, a determinado ponto, o local não parece ser assim tão decisivo. N'O Marciano isso não acontece e mesmo que tenhamos tendência a começar a esquecer, rapidamente nos deparamos com um obstáculo que nos trás de volta à realidade árida de Marte.
Perdido em Marte ... Caramba.
Nem sequer consigo imaginar como será...
Uma coisa é certa: o Bear Grylls ao pé do Mark Watney é um menino do coro.
Entretanto, se quiserem explorar um pouco mais sobre o autor e sobre o universo d'O Marciano, aqui ficam algumas sugestões.
The Martian (2015) | Trailler Oficial |
The Talking Room | Adam Savage entrevista Andy Weir |
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