Seca (2018) de Neal Shusterman & Jarrod Shusterman
★★★★☆
Sinopse:
A seca já dura há muito tempo na Califórnia. E a vida da população tornou-se uma interminável lista de proibições: proibido regar a relva, proibido encher a piscina, proibido lavar o carro ou tomar duches longos. Até que as torneiras secam de vez.
E é assim que, de repente, o tranquilo bairro onde Alyssa Morrow vive se transforma numa zona de guerra, onde vizinhos e famílias, outrora solidários, se digladiam em busca de água. Quando os pais da jovem não regressam e a sua vida é ameaçada, Alyssa tem de tomar decisões importantes se quiser sobreviver. Um thriller fantástico que pode acontecer ainda no nosso tempo... e na nossa rua.
Fonte: Shusterman, Neal & Shusterman, Jarrod. Seca. Porto Salvo, Edições Saída de Emergência (2019).
Opinião:
Sou completamente viciada em distopias e portanto, quando saiu o livro Seca, pu-lo logo na minha wish list. Mas como a lista cresce a uma velocidade demasiado vertiginosa, aquilo que eu acabo por fazer é estar atenta a ver se os livros aparecem em promoção ou em segunda mão. Caso contrário teria de vender um pulmão para sustentar o vício... Bom, já o ditado diz que quem espera sempre alcança e depois de ter esperado quase um ano, surgiu uma excelente oportunidade quando a Carolina da Books & Stuff disse estar à procura de uma nova casa para a edição dela da Seca e.... lá veio ele parar à minha estante.
Os autores, Neal e Jarrod Shusterman, são pai e filho, e aquilo que nos trazem com este livro é um cenário realista e imersivo, que tem como pano de fundo uma intensa história de sobrevivência.
« Realista » não seria um termo que eu empregaria se tivesse lido o livro há uns anos atrás. Nessa altura, o mais certo seria dizer que era « exagerado ». Mas como a leitura acabou por acontecer ainda no rescaldo da pandemia de Covid-19, onde pude ver como é que o ser humano realmente se comporta, aquilo que antes eu diria ser exagero, agora considero ser de um realismo extraordinário pois os autores conseguiram captar a verdadeira natureza humana. E não é bonito de se ver.
Pessoalmente adorei as personagens e o formado Point of View (POV) como forma de narrar os acontecimentos. Mas ainda melhor do que isso, foi o modo como o ambiente do livro nos remete para aqueles cenários de apocalipses zombies, em que as lojas são pilhadas, onde as pessoas não hesitam em arrombar as casas os vizinhos e matá-los, onde o bem estar individual e o instinto de sobrevivência se parece sobrepor a qualquer racionalidade.
Como referi logo no início, o facto de ter lido este livro ainda no rescaldo da pandemia de Covid-19 levou a que eu tivesse uma perspetiva diferente. Se fosse antes, eu defenderia que as pessoas são intrinsecamente solidárias e racionais e que, numa situação de pandemia, iriam perceber que, se não forem gananciosas e auto centradas, há que chegue para todos. Mas a realidade revelou-se totalmente diferente. A maior parte comportou-se como verdadeiros animais. Quem conseguiu, encheu os frigoríficos com comida que dava para alimentar várias gerações (a maior parte da qual acabou por se estragar devido ao prazo de validade), encheu as despensas com papel higiénico (apesar da diarreia não ser um dos sintomas de Covid-19) e os congeladores de carne (o que também não é muito inteligente porque, em caso de apocalipse, provavelmente ficaríamos sem eletricidade). E agora eu pergunto: para quê?
A conclusão a que cheguei é a de que as pessoas são animais e, em situações de desespero - seja ele real ou sentido - o instinto de sobrevivência acaba por levar a melhor sobre a razão. E em Seca temos uma série de situações que nos relembram precisamente isso. É uma história de sobrevivência e desespero, mas também acerca do quão frágil é este nosso aparente equilíbrio. Estamos tão habituados à facilidade que é abrir a torneira e sair água que nem sequer conseguimos conceber que seja de outra forma... nem sequer conseguimos imaginar como seria a vida se um dia a torneira secasse...
Portanto, se estão numa de cenários pós apocalíticos angustiantes, Seca é um livro que vos vai deixar a pensar. Além disso, sendo ele relativamente pequeno (apenas 317 páginas), podem levá-lo convosco para se irem refrescando na água durante a leitura.
Sou completamente viciada em distopias e portanto, quando saiu o livro Seca, pu-lo logo na minha wish list. Mas como a lista cresce a uma velocidade demasiado vertiginosa, aquilo que eu acabo por fazer é estar atenta a ver se os livros aparecem em promoção ou em segunda mão. Caso contrário teria de vender um pulmão para sustentar o vício... Bom, já o ditado diz que quem espera sempre alcança e depois de ter esperado quase um ano, surgiu uma excelente oportunidade quando a Carolina da Books & Stuff disse estar à procura de uma nova casa para a edição dela da Seca e.... lá veio ele parar à minha estante.
Neal e Jarrod Shusterman |
Os autores, Neal e Jarrod Shusterman, são pai e filho, e aquilo que nos trazem com este livro é um cenário realista e imersivo, que tem como pano de fundo uma intensa história de sobrevivência.
Apesar de ter lido opiniões bastante positivas acerca do livro, quando o comecei estava preparada para uma desilusão porque tenho tido más experiências com o género young adults: as ideias começam por ser boas e com imenso potencial, mas depois a infantilidade das personagens acaba por estragar tudo, como aconteceu com A 5ª Vaga e As Filhas de Eva. Em Seca existem momentos em que a história parece que vai começar a resvalar, e percebe-se perfeitamente que é um livro dirigido a uma população mais jovem mas, apesar disso, achei que estava bem equilibrado e realista.
Logo no início do livro, ficamos a saber que os meios de comunicação social estão a anunciar uma nova etapa dos problemas relacionados com a « crise da água », à qual chamam de « Fechar da Torneira ». Segundo o governador, « a água de todos os condados e distritos municipais do Sul da Califórnia será temporariamente desviada para os serviços essenciais », ou seja, as comportas de todas as barragens foram fechadas e com elas, as torneiras de todos aqueles que delas dependiam para o fornecimento de água.
Agora imaginem-se nessa posição: apanhados completamente desprevenidos, sem mais água do que aquela que têm numa ou outra garrafa lá em casa. Sem água para beber, para tomar banho, para cozinhar, para o autoclismo, para dar aos animais, para alimentar as centrais hidroelétricas...
Lembram-se do que aconteceu quando foi decretado o estado de emergência por causa do surto de Covid 19? Hordas de pessoas a encherem os carrinhos de compras como se o apocalipse estivesse a chegar, sem quererem saber se havia para os outros. Pessoal a comprar álcool gel e máscaras em grandes quantidades para vender depois por valores absolutamente proibitivos. A legendária corrida ao papel higiénico. Em Seca vamos encontrar o mesmo cenário e a sua evolução. E isso é provavelmente o mais assustador da história.
A forma como os autores descrevem a evolução deste cenário distópico está extraordinariamente bem imaginado porque, ao invés de sermos atirados para o meio do caos e anarquia, somos primeiro apresentados a uma série de personagens e cenários perfeitamente normais e com os quais facilmente nos identificamos. Depois, aos poucos, vamos sendo conduzidos através de um mundo em mudança, onde a obtenção de água e a sobrevivência a todo o custo se torna no objetivo primordial.
O modo como somos conduzidos através desse mundo em mudança está muito bem conseguido e sem dúvida que proporciona um realismo que de outra forma não seria possível. No entanto, acredito que possa ser algo que não agrade a todos os leitores. Em vez de uma narrativa tradicional, Neal e Jarrod Shusterman optaram por contar a história através do ponto de vista de diferentes personagens. E se por um lado isso pode comprometer a big picture, por outro permite uma abordagem muito mais humana e realista uma vez que a todo o momento sabemos exatamente quais os dilemas, medos e dificuldades que estão a viver.
Mas apesar de existirem narrativas sob diferentes pontos de vista, e até uns relatos chamados « instantâneos » não diretamente relacionados com as nossas personagens principais, a história centra-se essencialmente em Alyssa, Garrett e Kelton. Alyssa, com 16 anos, é irmã mais velha de Garrett e irá assumir para si a responsabilidade de cuidar e proteger o irmão depois de os pais saírem para ir buscar água e nunca mais voltarem. A eles irá juntar-se Kelton, que mora na casa ao lado e cuja família sempre foi olhada de lado pelos outros moradores que os consideravam estranhos por parecer estarem sempre a preparar-se para o apocalipse.
Durante a sua busca pela sobrevivência, irão cruzar-se com outras personagens que também assumirão um papel importante, como é o caso de Jacqui, uma adolescente que arromba casas vazias de pessoas ricas para depois lá ficar a morar durante o tempo que lhe parecer razoável. Destaca-se pela sua independência e pelo facto de ser um quanto imprevisível e é uma das personagens que sofre uma maior transformação ao longo da história.
Mais tarde, irá também juntar-se a eles Henry, um miúdo oportunista e mentiroso, que decidiu tomar partido da falta de água para fazer negócios e enriquecer. Esta é sem dúvida a personagem de que menos gostei. Não por estar mal construída. Pelo contrário! Henry está feito para que não gostemos dele, o que não é difícil considerando a quantidade de problemas que ele cria por ser tão mentiroso.
Como referi logo no início, o facto de ter lido este livro ainda no rescaldo da pandemia de Covid-19 levou a que eu tivesse uma perspetiva diferente. Se fosse antes, eu defenderia que as pessoas são intrinsecamente solidárias e racionais e que, numa situação de pandemia, iriam perceber que, se não forem gananciosas e auto centradas, há que chegue para todos. Mas a realidade revelou-se totalmente diferente. A maior parte comportou-se como verdadeiros animais. Quem conseguiu, encheu os frigoríficos com comida que dava para alimentar várias gerações (a maior parte da qual acabou por se estragar devido ao prazo de validade), encheu as despensas com papel higiénico (apesar da diarreia não ser um dos sintomas de Covid-19) e os congeladores de carne (o que também não é muito inteligente porque, em caso de apocalipse, provavelmente ficaríamos sem eletricidade). E agora eu pergunto: para quê?
A conclusão a que cheguei é a de que as pessoas são animais e, em situações de desespero - seja ele real ou sentido - o instinto de sobrevivência acaba por levar a melhor sobre a razão. E em Seca temos uma série de situações que nos relembram precisamente isso. É uma história de sobrevivência e desespero, mas também acerca do quão frágil é este nosso aparente equilíbrio. Estamos tão habituados à facilidade que é abrir a torneira e sair água que nem sequer conseguimos conceber que seja de outra forma... nem sequer conseguimos imaginar como seria a vida se um dia a torneira secasse...
Portanto, se estão numa de cenários pós apocalíticos angustiantes, Seca é um livro que vos vai deixar a pensar. Além disso, sendo ele relativamente pequeno (apenas 317 páginas), podem levá-lo convosco para se irem refrescando na água durante a leitura.
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