O Caçador (2016) de Lars Kepler

by - agosto 03, 2018


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★★☆☆☆
Sinopse: 
A noite tinha acabado de cair, quando Sofia entra numa mansão nos arredores de Estocolmo, onde o seu cliente - um homem muito abastado que nunca viu - a espera. Talvez seja por isso que Sofia avança furtivamente, como um animal selvagem. Enquanto atravessa o grande salão, tentando memorizar todos os detalhes, Sofia não imagina quem é o homem que a escolheu para aquela noite. Nem ele imagina que dentro em breve se encontrará frente a frente com um assassino implacável e meticuloso, que não deixa vestígios nem pistas.

Limitar o círculo de eventuais alvos torna-se um verdadeiro pesadelo para a Polícia, embora na mira se encontrem personalidades proeminentes do país. E, para tentar resolver o mistério, a Polícia terá de contar com a ajuda do ex-comissário Joona Linna, há dois anos a cumprir pena na prisão de alta segurança de Kumla. Infiltrado e trabalhando em estreita parceria com a agente especial Saga Bauer, Joona Linna tudo fará para travar « o caçador » antes que seja tarde de mais ou que o caçador os cace a eles...



Opinião: 
Ainda estou a tentar perceber o que se passou com esta leitura.
Terei perdido o gosto por policiais nórdicos ?
Terá a dupla Kepler perdido qualidade ?
Terá sido má ideia pegar neste livro logo depois de ter terminado as Forças do Mercado ?

A realidade é que, há cerca de dois anos atrás, quando li O Hipnotista, fiquei de tal forma presa ao livro e às personagens centrais, que acabei por ler toda a colecção da dupla Lars Kepler e, à excepção d'O Porto das Almas, gostei bastante de todos os livros e pensei que, finalmente, tinha encontrado os autores que iriam preencher o vazio deixado por Stieg Larsson. Achei os livros extremamente empolgantes, com uma excelente dose de suspense e com personagens bastante cativantes.


O Executor Lars KeplerO Hipnotista Lars KeplerA Vidente Lars Kepler

O Caçador Lars KeplerO Homem da Areia Lars KeplerStalker Lars Kepler

O Porto das Almas Lars Kepler

Por isso, quando em Abril vi que tinha sido publicado mais um livro, fiz o que qualquer entusiasta de colecções faria: fui a correr comprá-lo e regressei a casa feliz e contente por regressar ao universo Joona Linna.

Infelizmente o entusiasmo foi de pouca dura.
Sim, li o livro até ao fim mas a realidade é que o entusiasmo se desvaneceu mesmo antes de chegar a meio do livro. A única coisa que me fez continuar foi descobrir de que forma as pessoas iam ser assassinadas, visto que "o caçador" ia lançando umas ideias para o ar, que envolviam machados e intestinos de fora.

A fórmula que encontramos n'O Caçador é a mesma que encontramos em todos os livros da colecção Joona Linna (não considero aqui O Porto das Almas visto que é um livro à parte): há um crime que é preciso resolver e o comissário Joona Linna, que neste livro vamos encontrar a cumprir pena na prisão de Kumla por, no volume anterior, ter ajudado uma pessoa a evadir-se, parece ser a única pessoa capaz de encaixar as peças do puzzle, descobrir o assassino e evitar mais mortes.

Portanto, essencialmente, o Joona Linna é uma espécie de Horatio Caine da Suécia.

Horatio Caine
David Caruso no papel do agente Horatio Caine | CSI Miami (2002-2012)

Neste livro, o assassino é um indivíduo a quem os autores se referem como "o caçador de coelhos", e rapidamente percebemos que estamos perante alguém com um plano bem definido e com as aptidões necessárias para o concretizar: um spree killer que, como Joona Linna explicaria mais tarde, é um indivíduo "que não obedece a ninguém a não ser a si próprio", "carregado de uma raiva que, em certas ocasiões, explode e o obriga a matar aqueles a quem imputa grandes culpas", alguém que "anda à caça de dez coelhos e quer matá-los a todos".

A primeira morte deixa a Säpo, a Polícia de Segurança Sueca, no "nível máximo de alerta para a segurança do país" visto que receiam tratar-se, não de um acto isolado, mas de um "ataque dirigido ao próprio coração da democracia"De uma coisa todos parecem ter a certeza: é a segurança da nação que está em causa e é imperativo agir o mais rapidamente possível.

É assim que Joona Linna acaba por receber a visita do Primeiro Ministro sueco, que vê no ex-comissário "a nossa melhor alternativa" porque "parece que, para começar, se tratará de três homicídios... E o próximo deverá ter lugar já na próxima quarta-feira".

Claro que o ex-comissário podia tê-lo mandado dar uma volta, virar costas, voltar para a cela e deixar-se estar na prisão de Kumla a cumprir o resto da pena. Mas, como Joona Linna diria mais tarde "eu sou um polícia, é uma parte de mim", e portanto acaba por aceitar tomar parte da investigação, sendo-lhe assim concedidas 36 horas de licença, sem qualquer discussão.

O resto já se consegue imaginar, visto que a história tem muito pouco de surpreendente e, a meio do livro, já sabemos quem é o autor do crime e quais as suas motivações. Claro que só mesmo no final é que conseguiremos ver the big picture mas, há tantas pistas ao longo do livro, que mesmo isso acaba por não nos deixar particularmente boquiabertos.

Ainda assim, nem foi a previsibilidade da história que me desiludiu mais porque, de uma forma ou de outra, os autores sabem manter um certo clima de suspense, lançando pequenas pistas aqui e ali mas nunca revelando tudo de uma só vez. Aquilo que verdadeiramente me desiludiu e me arrancou uns quantos comentários de "Isto é completamente absurdo!" ou "Este deve ter super poderes!" foi, pasme-se, Joona Linna.

Tobias Zilliacus
Tobias Zilliacus no papel de Joona Linna | O Hipnotista (2012) 

No início desta publicação, comecei por dizer que talvez não tivesse sido uma ideia inteligente ter passado das Forças do Mercado, de Richard Morgan, para O Caçador, de Lars Kepler, e o motivo é simples: as personagens.

Richard Morgan é o autor dos anti-heróis, de personagens que se situam numa zona tão cinzenta que o leitor não sabe bem o que sentir em relação a elas, tal como sucede com Chris Faulkner, protagonista das Forças do Mercado, ou Takeshi Kovacs, personagem central de Carbono Alterado. São "heróis" de moralismo duvidoso, a quem nem sempre tudo corre bem e que podem não sair vitoriosos de umas quantas batalhas.

E depois temos Joona Linna, que até me espanta não usar umas cuecas vermelhas por cima das calças!
Ele é uma espécie de super-polícia, com uma resistência física extraordinária.
Parece ter sido treinado pelo Ra's al Ghul, pelo mestre Yoda e pelo professor Xavier. 
Consegue resolver enigmas que mais ninguém, em toda a força policial sueca, consegue.
Percebe imenso de armas e consegue dizer a que velocidade a bala é disparada, só de olhar para a arma.
Percebe de padrões de dispersão de sangue, perfis de criminosos ...
Basicamente, Joona Linna é um sabichão.
Mas ao contrário do que acontece com os sabichões da escola, aqui toda a gente parece gostar dele.

« Que exagero! » - dirão alguns. « Também não é assim tão exagerado! »

Para esses, preparei uma check-list.

1. Joona Linna é um Sherlock Holmes
« - Li que deixou de fumar há 8 anos, mas, a julgar pelo cheiro da roupa e pela lama nos sapatos, vejo que retomou o vício.
   - A lama nos sapatos ?
  - O senhor é um homem atencioso e, como o seu motorista não fuma, saiu do carro e foi para a beira da estrada.» 

2. Joona Linna é um especialista em interrogatórios
« Sabe que depois do trauma, um movimento demasiado rápido ou um ruído demasiado forte poderiam despertar a ansiedade e levá-la a por-se na defensiva.»

3. Joona Linna consegue, a correr, perseguir um carro
« Já não ouve o motor do Opel. O silêncio é total, ouvem-se apenas os passos de Joona sobre o asfalto e o roçar da roupa (...). Joona corre velozmente, sabe que é capaz de manter aquele ritmo durante mais de dez quilómetros.» 

4. Joona Linna consegue atirar uma pessoa ao mar, envolver-se numa luta corpo-a-corpo, e durante essa luta contar o tempo de que dispõe até que essa pessoa se afogue
« Joona corre em direcção a ela e dá-lhe um pontapé no peito, fazendo-a cair para trás. O encosto da cadeira atinge a beira do poço e depois precipita-se no mar. (...) Joona conta os segundos enquanto corre ao longo da borda estreita onde estão fixadas as dobradiças (...).»

E por aí fora... Nunca chegamos a temer por ele porque sabemos que nada lhe acontecerá e o livro está cheio de observações que reforçam precisamente essa ideia, como Joona sabe que se fulano tal lhe tentar bater aqui ele faz um golpe de krav maga e acerta-lhe acolá; Jonna sabe que se disparar a bala não sei de onde e considerar a velocidade do vento, a incidência do luz do sol e multiplicar isso pela velocidade a que a terra gira sobre si mesma, a trajectória seria igual a x.

Blá. Blá. Blá.

Mas o melhor do pior, foi a cena de melhoria de imagem ao bom estilo CSI. 
Acredito que muitos de vós já tenham visto um ou outro episódio da série CSI e se recordam daquelas populares cenas em que, através do melhoramento da imagem conseguem apanhar o assassino. 


Neste livro também há uma cena dessas. 
Depois disso, cheguei à conclusão que o livro não iria melhorar, pelo menos no que diz respeito às personagens e mantenho essa opinião.

Achei o livro bastante inferior aos anteriores e as personagens idílicas também não ajudaram nada. O único que fugia um pouco à norma da perfeição era "o caçador" mas, acabou por ser abordado de uma forma muito superficial.

Outro aspecto que notei, foi a existência de certos episódios que, a meu ver, parece que apenas têm o intuito de chocar o leitor. Não que eu ache que os livros devem ser sujeitos a censura e que o sexo deva ser banido nos livros. Nada disso. Acho apenas que as cenas, por mais explícitas que sejam, devem ser dotadas de alguma lógica e ter algum tipo de enquadramento e, neste livro, há pelo menos dois episódios que, na minha opinião, não têm uma coisa nem outra. Aliás, há uma personagem que surge apenas para protagonizar uma dessas cenas, depois volta a protagonizar um outro episódio desprovido de grande lógica, e reaparece no final com uma notícia que nada tem a ver com o contexto do livro.

Assim sendo, o que posso dizer é que, quem leu os livros anteriores, poderá não ficar tão entusiasmado com este. Seja como for, todos nós vivemos os livros de forma diferente e, já li críticas de pessoas que têm a mesma opinião do que eu e até perguntam, em tom de ironia, se o livro foi escrito pelos mesmos autores. Tal como também já li críticas que dizem que o livro é excelente e que está ao nível dos outros.

Pessoalmente, não me convenceu.









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