Vox (2018) de Christina Dalcher
★★★☆☆
Sinopse:
Estados Unidos da América. Um país orgulhoso de ser a pátria da liberdade e que faz disso bandeira. É por isso que tantas mulheres, como a Dr.ª Jean McClellan, nunca acreditaram que essas liberdades lhes pudessem ser retiradas. Nem as palavras dos políticos nem os avisos dos críticos as preparavam para isso. Pensavam: « Não. Isso aqui não pode acontecer. »
Estados Unidos da América. Um país orgulhoso de ser a pátria da liberdade e que faz disso bandeira. É por isso que tantas mulheres, como a Dr.ª Jean McClellan, nunca acreditaram que essas liberdades lhes pudessem ser retiradas. Nem as palavras dos políticos nem os avisos dos críticos as preparavam para isso. Pensavam: « Não. Isso aqui não pode acontecer. »
Mas aconteceu. Os americanos foram às urnas e escolheram um demagago. Um homem que, à frente do governo, decretou que as mulheres não podem dizer mais do que 100 palavras por dia. Até as crianças. Até a filha de Jean, Sonia. Cada palavra a mais é recompensada com um choque elétrico, cortesia de uma pulseira obrigatória. [Fonte: DALCHER, Christina. Vox. Amadora: Topseller, 2018].
Opinião: Sou fã de distopias. Aliás, basta lerem os títulos das reviews aqui no blogue para verem que, normalmente, não saio muito deste registo. Por isso, quando em 2018 começou a ser publicitado um livro acerca de uma sociedade onde as mulheres só tinham direito a 100 palavras por dia, foi logo direto para a minha wish list.
A oportunidade para comprar Vox surgiu durante uma visita ao pavilhão da Topseller durante a Feira do Livro 2019, e foi uma das quatro distopias que comprei a um preço simpático.
A ação passa-se no auto proclamado país da liberdade e das oportunidades: os Estados Unidos. Aqui, um governo eleito democraticamente pretende impor e expandir aquilo que designam de « Movimento Puro », defendendo um regresso « aos velhos tempos ».
Opinião: Sou fã de distopias. Aliás, basta lerem os títulos das reviews aqui no blogue para verem que, normalmente, não saio muito deste registo. Por isso, quando em 2018 começou a ser publicitado um livro acerca de uma sociedade onde as mulheres só tinham direito a 100 palavras por dia, foi logo direto para a minha wish list.
A oportunidade para comprar Vox surgiu durante uma visita ao pavilhão da Topseller durante a Feira do Livro 2019, e foi uma das quatro distopias que comprei a um preço simpático.
A ação passa-se no auto proclamado país da liberdade e das oportunidades: os Estados Unidos. Aqui, um governo eleito democraticamente pretende impor e expandir aquilo que designam de « Movimento Puro », defendendo um regresso « aos velhos tempos ».
« Já não sabemos quem são os homens e quem são as mulheres. Os nossos filhos crescem confusos. A cultura familiar foi destruída. Temos aumentos de trânsito, poluição, dos níveis de autismo, do consumo de drogas, do número de pais solteiros, da obesidade, da dívida de consumo, da população prisional feminina, dos tiroteios escolares, da disfunção erétil. Para referir apenas alguns dos aumentos. »
Para tal, implementam uma série de medidas através das quais pretendem manter a ordem, a disciplina, e assegurar que cada um cumpre o papel que lhe foi atribuído. O papel da mulher, esse, passa a ser única e exclusivamente o de « guardiã do lar nomeada por Deus », devendo por esse motivo « ignorar toda a ambição por algo mais elevado, pois nada poderá ser mais elevado para os mortais ».
À semelhança daquilo a que assistimos em A História de Uma Serva (e Vox foi o primeiro livro em que achei que o ambiente estava realmente semelhante), é assustador movermo-nos numa sociedade em que a mulher foi completamente destituída dos seus direitos, até mesmo de direitos tão essenciais como o de se expressar. Não interessa se é uma neurocirurgia talentosa, ou uma investigadora especialista em neuro linguística prestes a descobrir a cura para a afasia. Todas receberão a mesma pulseira que contabilizará o número de palavras que dizem, nunca podendo esse número ir para além de 100.
Mas não é só nos direitos das mulheres que Vox se foca pois este novo governo, que pretende impor e alargar o Movimento Puro tem raízes e ideologias fortemente cristãs, sendo a bíblia o seu manifesto.
« Não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus ?
Não vos enganeis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, 10 nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o reino de Deus. » [1 Coríntios 6:9-10]
Pessoalmente, gostei bastante deste livro, e a prová-lo está o facto de o ter lido em três dias. Acho que a autora conseguiu captar e transmitir muito bem a sensação de impotência e enclausuramento que a personagem central sentia e, ao mesmo tempo, o seu sentimento de culpa por não ter feito nada quando ainda era possível fazer alguma coisa... por se ter limitado e encolher os ombros e a dizer que as coisas nunca chegariam tão longe. Essencialmente o mesmo que 68.6% da população portuguesa fez nas últimas eleições para o parlamento europeu.
A narrativa na primeira pessoa também confere um grande tom de autenticidade, sobretudo porque, tendo nós acesso privilegiado ao que vai na cabeça da personagem central, ficamos muitas vezes a saber que a resposta dela numa determinada situação, nem sempre é a resposta que ela gostaria de ter dado. Também neste aspecto acho que foi uma excelente forma de colocar o foco no seu conflito interno, salientando assim a dualidade submissão versus desobediência.
Até aqui, tudo bem. Posso até dizer-vos que a determinado ponto, eu estava já tão embrenhada na história que comecei a desconfiar de tudo e de todos, achando que qualquer um deles podia ter uma agenda própria, ou um motivo obscuro para tramar a personagem central. Reparem: toda a gente quer salvar a própria pele, e portanto não é incomum que, aqui e ali, surjam denúncias... Acabei por ficar um bocado paranóica.
E se o marido, Patrick, for um adepto fervoroso do Movimento Puro?
E se o colega investigador, Lorenzo, estiver apenas a reunir provas irrefutáveis que permitam condená-la em praça pública?
E se...?
E se ... ?
Mas (pronto, lá venho eu com o "mas") apesar de ser um bom livro, com conceitos e um ambiente muito interessantes, perde pela sua previsibilidade.
Prefiro finais que nos deixam com uma sensação agridoce...
Finais onde os valores da personagem central acabam por se subverter, levando a que o odiemos e, ao mesmo tempo, compreendamos, enquanto pensamos se, no seu lugar, nao faríamos exatamente o mesmo.
Finais em que fechamos o livro e ficamos a remoer naquilo durante alguns dias, incapazes de começar uma nova leitura porque aquela não nos sai da cabeça.
Infelizmente, não senti nada disto em Vox. Achei o final relativamente previsível e muito ao estilo "viveram felizes para sempre".
De qualquer modo, acredito que este livro tem tudo para ser bem recebido e fazer bastante sucesso. Aliás, basta lermos algumas opiniões para percebermos que o feedback tem sido bastante positivo, sobretudo pela mensagem que tenta passar. Pessoalmente, teria inserido uma traição manhosa ali pelo meio para criar um twist final que deixasse toda a gente com um nó no estômago.
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2 comments
Gosto sempre de ler as tuas opiniões! Realmente tinha lido muita coisa boa do livros mas percebo o que queres dizer. A premissa pode ser muito boa, mas se o desenvolvimento fica aquém, estraga tudo �� mesmo assim, fiquei com uma certa curiosidade de ler....��
ResponderEliminarOlá Raquel! É sempre um prazer ter-te aqui pelo blogue :) Pois... realmente "Vox" deixou-me um pouco desiludida. Se o livro fosse mau logo desde o início, talvez não me tivesse chateado tanto mas, quando vês que a história tem imenso potencial e depois não se desenvolve, torna-se realmente chato. Mas a verdade é que há mais críticas positivas do que negativas ... Portanto o mais certo, é eu ser demasiado esquisita :p
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