Os Homens que Odeiam as Mulheres (2005) de Stieg Larsson
★★★☆☆
Sinopse:
O jornalista de economia Michael Blomkvist precisa de uma pausa. Acabou de ser julgado por difamação ao financeiro Hans-Erik Wennerstrüm e condenado a três meses de prisão. Decide afastar-se temporariamente das suas funções na revista Millenium.
Na mesma altura, é encarregado de uma missão invulgar. Henrik Vanger, em tempos um dos mais importantes industriais da Suécia, quer que Mikael Blomkvist escreva a história da família Vanger. Mas é óbvio que a história da família é apenas uma capa para a verdadeira história de Blomkvist: descobrir o que aconteceu à sobrinha-neta de Vanger, que desapareceu sem deixam resto há quase quarenta anos. Algo que Henrik Vanger nunca pôde esquecer.
Blomkvist aceita a missão com relutância e recorre à ajuda da jovem Lisbeth Salander. Uma rapariga complicada, com tatuagens e piercings, mas também uma hacker de exceção.
Juntos, Mikael Blomkvist e Lisbeth Salander mergulham no passado profundo da família Vanger e encontram uma história mais sombria e sangrenta do que jamais poderiam imaginar.
Fonte: Larsson, Stieg. Os Homens que Odeiam as Mulheres. Alfragide: Oceanos (2008)
Opinião:
Em Julho decidi começar a fotografar os livros das minhas estantes para partilhar no Instagram do Um Blogue Sobre Livros e, o primeiro a ser fotografado, foi Os Homens que Odeiam as Mulheres. Já não me lembrava da história, nem do desfecho, mas lembrava-me de ter gostado bastante dele quando o li pela primeira vez.
Pensei que seria uma boa ideia relê-lo e escrever a opinião aqui no blogue mas, ao longo da leitura, cheguei à conclusão que não estava a ficar tão embrenhada na leitura como da primeira vez, nem fiquei de ressaca literária quando terminei. Mas, a culpa não é do livro, é da leitora.
Os Homens que Odeiam as Mulheres é o primeiro livro da trilogia Millennium. Publicados após a morte do autor, tornaram-se numa máquina de fazer dinheiro, não só através vendas dos livros propriamente ditos, mas também dos direitos para adaptação ao cinema, e outros negócios que foram surgindo como as Millenium Walking Tours.
Gostemos ou não de Stieg Larsson, uma coisa é certa: foi ele o responsável por abrir caminho aos policiais suecos em Portugal, e as pessoas parecem ter gostado de tal forma que, muitos livros do género que foram publicados depois, faziam publicidade ao facto de ser « o novo Stieg Larsson » ou « ao nível de Stieg Larsson ». Muitas das vezes não passava de publicidade enganosa (como tive o infortúnio de descobrir) mas, ajudava a vender.
Män som hatar kvinnor (2010) | Michael Blomkvist e Lisbeth Salander |
Em Os Homens que Odeiam as Mulheres começamos por ter três histórias que nos ajudam a compreender o background das personagens, e que a determinado ponto acabarão por se cruzar com vista à resolução de um mistério.
Mikael Blomkvist, jornalista e um dos diretores da revista Millenium, acaba de ser considerado culpado de difamação ao financeiro Hans-Erik Wennerstrüm após ter publicado um artigo com graves acusações, mas sem quaisquer referências à fonte. O tribunal distrital decidiu condená-lo ao pagamento de uma multa e a três meses de prisão. Entretanto, Blomkvist recebe uma proposta de Henrik Vanger, « grande industrial e ex-patrão do que em tempos famoso Grupo Vanger »: descobrir o que aconteceu à sua sobrinha-neta, Harriet, desaparecida sem deixar rasto há quarenta anos.
Henrik Vanger, com mais de oitenta anos, reparou em Blomkvist devido a toda a publicidade em volta do julgamento e decidiu contratá-lo para escrever a biografia da família e solucionar o mistério deste desaparecimento, sendo a biografia apenas um pretexto para poder « meter o nariz na história familiar ». Vanger acredita que Harriet terá sido assassinada e o seu corpo transportado para fora da ilha pois, apesar de ter empregue todos os meios ao seu alcance, nunca conseguiu descobrir o seu paradeiro. Mais estranho ainda é o facto de todos os anos receber, pela data do seu aniversário, uma moldura com uma flor seca... tal como Harriet lhe costumava oferecer. Estará o assassino a gozar com ele?
E é aqui que entra a nossa terceira história, a de Lisbeth Salander, uma hacker que trabalha para a empresa Milton Security, e que é considerada « sem qualquer margem para dúvida, a investigadora mais competente ». Quando fez treze anos, foi considerada « emocionalmente perturbada e perigosamente violenta », tendo acabado internada numa clínica pedopsiquiátrica e com um curador nomeado que seria responsável por zelar pelos seus interesses e bens até que atingisse a maioridade. Depois de ter saído da clínica pedopsiquiátrica, o seu cadastro continuou a aumentar e o tribunal decidiu que a única solução seria o internamento. No entanto, o até então curador opôs-se à decisão e acabou por ficar como tutor de Salander. Portanto, como vêem, não se pode dizer que ela fosse propriamente uma rapariga bem comportada. Ainda assim, continuava a ser a melhor investigadora da Milton Security e é isso que vai fazer com que o seu caminho se cruze com o se Blomkvist, quando é encarregue na missão de o investigar, a pedido do advogado de Vanger, com o objetivo de saber se o jornalista seria a pessoa certa a quem atribuir a missão do misterioso desaparecimento de Harriet.
The Girl With the Dragon Tattoo (2011) | Harriet |
Pessoalmente achei que a história estava bastante bem construída, sobretudo pela atenção que o autor dedicou a cada uma das personagens e que nos permite ter uma ideia acerca do seu passado ou, pelo menos, saber o que as colocou no ponto onde se encontram.
O mistério do desaparecimento de Harriet também está muito bem pensado. A maior parte dos suspeitos, ou está morto, ou era demasiado novo na altura em que isso aconteceu, e isso leva a que durante grande parte do livro, sintamos que não há nada a descobrir. Mas então começa a surgir uma pista aqui... outra ali... e então é que as coisas começam a ficar interessantes. Mas apesar das pistas, não achei que o desfecho final fosse óbvio. Pelo contrário. Só quando tudo se revela é que, olhando para trás, começamos a perceber certos detalhes e, ainda assim, não havia nada que nos fizesse suspeitar de outras revelações mais... macabras.
Män son hatar kvinnor (2010) | Lisbeth Salander |
Mas, então porquê apenas ★★★☆☆ ? Costumo dizer que atribuo três estrelas aos livros que considero normais. Àqueles que não me deixam a pensar neles durante vários dias, aqueles que « vou lendo » mas que não me levam a fazer noitadas nem a madrugar. Não são maus, mas também não são fantásticos. Foi isso que senti com Os Homens que Odeiam as Mulheres, principalmente porque houve uma série de detalhes que me irritaram e dos quais não em consegui abstrair, nomeadamente:
1. O visual de Lisbeth Salander repetido ad nauseam
Acho que todos os leitores perceberam, logo na primeira descrição dela, qual era a sua aparência: « a investigadora-estrela de Armanskij era uma jovem pálida e anorética de cabelos ultra curtos e que usava piercings no nariz e nas sobrancelhas. Tinha uma vespa com dois centímetros tatuada no pescoço, um cordão tatuado à volta do bíceps do lado esquerdo e outro à volta do tornozelo esquerdo. (...) pintava o cabelo de preto asa de corvo. Parecia acabada de sair de um fim de semana de orgia com um banco de motoqueiros da pesada ». É mesmo preciso repetir até à exaustão, que a moça veste isto e aquilo, que tem piercings aqui e acolá? Se repararem, são raras as vezes em que ela aparece e não há referência a um detalhe sobre o seu visual. Cansativo...
2. A quantidade de café que bebem
Como disse ao início, já não me lembrava da história. Curiosamente, recordava-me que a quantidade de café ingerido era absurda. A sério: Quanto café é que é possível uma personagem ingerir durante um livro de 539 páginas?! A resposta é: bastante. Ou estão fazer café, a beber café, a comprar café...
3. Mikael Blomkvist, o sedutor
Blomkvist deve ser um tipo extraordinariamente charmoso porque as mulheres caem todas a seus pés e, onde quer que vá, acaba sempre enrolado com alguma e depois: drama! Para terem uma ideia, o tipo é tão charmoso que até o assassino o deixa em pelota e dá a entender que, embora nunca tenha tido relações sexuais com outro homem, está tentado a fazê-lo.
Ainda assim, se gostam de um suspense, Os Homens que Odeiam as Mulheres é uma boa aposta. Tem algumas cenas sexualmente explícitas de submissão, assédio sexual, tortura de animais, violação e outros ingredientes que podem eventualmente ferir a susceptibilidade de alguns leitores. Pessoalmente, não achei nada de escandaloso ou desapropriado no contexto da história mas, se forem flocos de neve, fica o aviso.
A trilogia foi adaptada para o cinema pela companhia sueca Yellow Bird. Os americanos, como de costume, quiseram também dar ares da sua graça e fizeram apenas - graças aos deuses! - a adaptação do primeiro volume, com Daniel Craig num desempenho sofrível de Blomkvist (o tipo nunca conseguiu deixar de ser o James Bond), e uma tipa com ar de enjoada no papel de Lisbeth Salander. Pessoalmente, recomendo a versão sueca.
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