Sick Bastards (2014) de Matt Shaw

by - setembro 23, 2022

 


Sinopse: AVISO: ESTE É UM LIVRO DE EXTREME HORROR! Há gore. Há bad language. Há cenas de natureza sexual. Mas, escondida por baixo de tudo isto, está também uma história arrepiante. Por favor, não compre este livro se for uma pessoa que fica facilmente chocada, enojada ou ofendida. Nesse caso, este livro não é para si. 

Uma família fará tudo para sobreviver depois de um ataque nuclear ter deixado o seu mundo em ruínas. Ações que até a eles próprios irão surpreender.


Opinião [contém spoilers]: À medida que ia lendo este livro, havia uma coisa que não me saía da cabeça...


Os avisos na capa com letras garrafais a vermelho, os alertas na net de pessoas que diziam que isto era mesmo do mais extremo que havia, a teoria de que os livros do Matt Shaw com capa preta são mesmo hardcore... E eu ali a ler aquilo, página após página, e a pensar..."Isto não tem nada de extraordinário". Depois de ter lido o Woom, este Sick Bastards não me pareceu especialmente gore

Até acho que este tipo de "publicidade" dá a impressão que é um livro com violência gratuita, o que não podia estar mais longe da realidade.

Sick Bastards é uma espécie de Wayward Pines retorcido: uma família acorda numa casa, sem qualquer memória do que se passou ou de como chegaram até ali. Na verdade, eles nem sequer têm bem a certeza da relação entre eles mas, a existência de uma foto onde aparecem os quatro todos sorridentes, leva-os a acreditar que são o pai, a mãe, a filha e o filho. 

O único que parece ter uma vaga ideia do que se passou, é o pai.

Explica que surgiram tensões políticas entre alguns países que acabaram por ditar o início de uma guerra e, a determinado ponto, alguém lançou um ataque nuclear. Ele tentou salvá-los a todos fugindo de carro, mas foram apanhados pelo impacto da explosão e acabaram por encontrar abrigo naquela casa. Pelo menos é isto que ele pensa ter acontecido... mas a memória não é clara.

Talvez a perda de memória seja um dos efeitos secundários dessa bomba mas, ao mesmo tempo, parece estranho que esse seja um dos únicos efeitos... Num ataque deste género seria de esperar poeira e destruição mas, fora daquela casa, tudo parece normal e intocado.


Está então estabelecido um cenário pós apocalítico que, como sabem, é um dos meus favoritos. Segue-se aquilo que acontece em todos os cenários deste género: começa a escassear a comida. E aqui é que as coisas começam a ficar realmente interessantes. 

A grande vantagem de todos os alertas que estão na capa, é que os leitores foram avisados. De certa forma, acho que isto acaba por dar muito mais liberdade ao autor, que assim poderá dar realmente largas à imaginação. Sou fã assumida de livros pós apocalíticos e aquilo que noto é que, mesmo quando os cenários são relativamente caóticos, há sempre uma espécie linha que nunca é transposta, e o resultado acaba por ser sempre irrealista. Aqui não há linhas, e a história é centrada numa só família, e nas transformações que vão sofrendo à medida que o tempo passa.

O incesto é uma delas. E aviso já que é um incesto badalhoco. Claro, nada que não esteja já mais do que visto em filmes disponíveis por essa internet fora. Outra transformação a que assistimos, é o canibalismo. Se podiam tentar caçar? Talvez sim, mas aqui entra um outro fator: criaturas humanóides que atacam pessoas e tornam impossível sair de casa. 

« It was disturbing for the first time I heard the meat beg for its life. 
Almost completely ruined the banquet »


Portanto, estão presos em casa, sem comida e com medo de sair. O que decidem fazer? Matar e comer as pessoas (não necessariamente por esta ordem) que batam à porta a pedir ajuda. Achei um plano um bocado estúpido porque as pessoas podiam estar radioactivas. Mas principalmente porque isto não é um plano a longo prazo. Que raio planeiam fazer quando deixarem de aparecer pessoas? Além disso, sem frigorífico nem sal, nem sequer conseguem conservar a carne... Acabam por estar só a adiar o inevitável.

Até que um deles decide sair de casa para tentar encontrar ajuda, ou comida. Mas aquilo que vai encontrar é muito diferente daquilo que esperava...


Ele encontra... um muro! 
Sim, um muro! 
Digam lá se não faz lembrar o Wayward Pines


Long story short: aquilo é tudo uma experiência governamental para tentar perceber se, no caso de um desastre nuclear, vale a pena enviar equipas para o terreno para tentarem salvar os sobreviventes. A conclusão a que chegaram foi que não vale a pena porque, à exceção desta família, todas as outras morreram de fome, atacadas pelas criaturas humanóides (que também são uma outra experiência) ou mortas pelas mãos destes sobreviventes. Portanto, em caso de desastre nuclear, o melhor mesmo é lançar os bichos na zona, deixar que eles matem tudo, dar tempo a que as pessoas também se matem ou definhem, e depois sim, envia-se uma equipa com meia dúzia de militares para fazerem uma pequena limpeza e, voilá, está a harmonia restabelecida!

Por esta eu não estava nada à espera...

Ao contrário da minha expetativa inicial, que era a de um livro de conteúdo duvidoso e provavelmente sem grande qualidade, Sick Bastards revelou-se uma supresa incrível! Tanto o incesto como o canibalismo vão dar origem a fortes dilemas morais do Filho, que luta entre a vontade de sobreviver e a dúvida sobre se vale a pena sobreviver a todo o custo, visto que agora dificilmente podem chamar "vida" àquilo que têm. Em contraste, temos o Pai e a Mãe que parecem completamente inebriados com o sexo e a comida falante, e a Irmã que tanto está a rezar pela pessoa que acabaram de matar, como a seguir está no hall de entrada com a cabeça do Pai entre as pernas. 

Sick Bastards foi sem dúvida uma surpresa em todos os aspetos! Claro que o incesto e o canibalismo podem afastar algumas pessoas, mas para quem não se deixe intimidar, será uma boa jornada.

Boas Leituras!

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