The Sentinel (1974) de Jeffrey Konvitz
★★★★☆
Sinopse:
When Allison Parker first found the old brownstone appartment on New York's upper West Side, she could never have imagined what was planned for her. Nor could she have realized who her eccentric and terrifying neighbors really were. Least of all could she have guessed the part her devoted lover, Michael, would play in the nightamare ahead. All she knew was that something terrible was starting to happen.
Then the headaches started getting worse...
And her neighbors grew more threatening and grotesc...
And Michael became more dangerously involved...
And she began to realize what was happening...
There, on that quiet New York street, an epic battle was being waged, and she... was the prize!
Fonte: Konvitz, Jeffrey. The Sentinel. London, Wyndham Publications (1976)
Opinião:
Mais uma compra não planeada que resultou da minha primeira visita à Bookshop Bivar, em Arroios (Lisboa). Para quem não conhece, a livraria tem uma cave na qual existem duas salas, numa das quais estão livros com desconto e onde existem algumas prateleiras dedicadas a livros de terror. Acabei por trazer Murder in Amityville (1979), Meg (1997), The Poison Tree (1978), The Touch (1981) e The Sentinel (1974)
Comecei pelo Murder in Amityville que não foi propriamente um livro de sonho. Depois dele, e já que estava numa onda de possuídos e cenas do oculto, optei por pegar no The Sentinel (1974) porque achei interessante a semelhança com A Semente do Diabo (1967) e porque não há terror como os dos anos 70.
Achei o livro absolutamente sinistro, assustador, com boas doses de momentos de tensão e um final que tem tanto de surpreendente como de amargo. Os meus ingredientes favoritos!
A história começa quando Allison Parker, 26 anos, regressa a Nova Iorque depois do funeral do seu pai. Apesar de ser bem vinda em casa do namorado, Michael, Allison decide procurar uma casa para si própria e o anúncio com que se depara no jornal, parece ser exatamente aquilo que procura: um apartamento com três quartos, mobilado, num edifício parcialmente renovado situado no Upper West Side.
Durante algum tempo, Allison fica no dilema sobre se deverá ou não ir apresentar-se aos vizinhos, mas a situação acaba por se resolver quando Mr, Chazen, residente no 5B, bate à sua porta para se apresentar. Um velhote solitário e algo excêntrico, que gosta bastante de conversar e que rapidamente começa a desenvolver um carinho especial pela recém chegada. O sentimento parece ser mútuo, e Allison acaba convidada para a festa de aniversário do gato de Mr. Chazen, Jezabel, onde acaba por conhecer alguns dos outros extravagantes vizinhos.
The Sentinel (1977) |
Depois da festa, e de alguns encontros inesperados, Allison tem agora uma ideia mais concreta de quem são as pessoas com quem partilha o edifício.
« Mr. Chazen, in 5B. Those two young lesbians in the apartment below me. (...) And there's that strange Mr.Clark in apartment - I don't remeber wich. Those immense Klotkin sisters are nice, but you must admit a little strange. And last night I heard footsteps pacing back and forth in that supposedly empty apartment above me. And then clanging. Now, it's getting a little unnerving. And to be honest, I'm afraid of those two perverts in 2A. Every time I wak by their door my skin crawls.»
Para além destes, temos o misterioso padre Halliran que mora no 5A. Um homem velho, que nunca sai de casa e que, apesar de cego, passa os dias e as noites sentado à janela, como se estivesse atento à chegada de algo...
Uma rapariga que se muda para um apartamento novo. Vizinhos estranhos... Tudo isto nos faz lembrar do livro de Ira Levin, não acham? Recordam-se de como em A Semente do Diabo (1967) há aquela dúvida persistente sobre se os vizinhos de Rosemary fazem realmente parte de uma seita, ou se será ela quem estará com pensamentos paranóicos e persecutórios? Em The Sentinel (1974) passa-se exatamente o mesmo, com o leitor a pôr em causa a sanidade mental de Allison, sobretudo depois da agente imobiliária lhe dizer que, para além dela e do padre, mais ninguém mora no edifício... há pelo menos três anos.
Como explicar então a festa de aniversário do gato?
Como explicar a moldura com uma fotografia de Mr. Chazen que lhe foi entregue pelo próprio?
Como explicar os passos que ecoam no apartamento por cima do seu?
Inicialmente podermos até pensar que é uma espécie de partida de mau gosto dos vizinhos que, por algum motivo decidiram conspirar contra ela. Mas, o que pensar quando em visita a cada um dos apartamentos eles se apresentam completamente vazios e cobertos de pó?
Juntemos a isto as estranhas dores de cabeça de Allison, os desmaios, os tremores e o facto de ter sobrevivido a duas tentativas de suicídio: a primeira depois de ter apanhado o pai numa orgia com duas prostitutas, e a segunda após a misteriosa morte da esposa do seu atual companheiro.
The Sentinel (1977) |
A determinado ponto comecei a duvidar do que se estaria a passar e sem saber no que acreditar. Por um lado, existiam demasiadas evidências de que os vizinhos não existiam. Por outro lado, Allison parecia bastante segura de si... Estaria o namorado envolvido de alguma forma? Será que o padre que vive em reclusão é sequer real?
O texto que se segue contém spoilers
Embora tenha tido algumas dúvidas iniciais acerca da sanidade mental de Allison, acho que nunca cheguei ao ponto de achar que ela tinha verdadeiramente enlouquecido. Mas também nunca achei que os vizinhos pertencessem à legião infernal que pretendia utilizar o edifício como passagem para o mundo terreno...
Durante grande parte da história achei que eram pessoas de carne e osso que viviam dentro das paredes do prédio e que estavam relacionados com algum culto. Também acreditei que o namorado de Allison estaria de alguma forma envolvido por estar constantemente a tentar descredibilizá-la e, diria até, ridicularizá-la. Mudei de opinião quando ele começou a parecer realmente empenhado em descobrir o que se estava a passar, chegando ao ponto de forçar a entrada na diocese para aceder aos documentos.
Na verdade, acaba por ser Michael quem vai desvendando o que se está a passar e que nos vai dando várias pistas: o anúncio da casa para arrendar que afinal nunca foi publicado em lado nenhum, a agente imobiliária e o senhorio que parecem ter desaparecido (se é que alguma vez chegaram sequer a existir), o texto em latim que Allison transcreve de um livro que estava em casa de Mr.Chazen e no qual Michael via um texto completamente diferente... os dossiers que roubou da diocese onde se pode ver que, ao longo dos anos, várias pessoas que cometeram tentativa de suicídio desapareceram para voltar depois a aparecer como padres ou freiras e que todos eles acabaram no último andar daquele edifício.
Mesmo neste ponto eu ainda não fazia ideia do que se estava a passar, nem porque raio é que precisavam de ter um padre ou uma freira fechados no último andar do edifício. Já suspeitava que os vizinhos de Allison fossem assombrações de outras pessoas que lá viveram, como acontece no Hotel Overlook em A Luz (1977) e que a função da "criatura de Deus" que estava no último andar fosse proteger os assombrados. Ainda assim, havia alguma coisa que não batia certo.
The Shining (1980) | "Come Play With Us" scene |
Nunca me passou pela cabeça que o indivíduo do último andar fosse um sentinela que descende de uma linhagem de outros sentinelas que remontam a tempos imemoriais, praticamente desde que Deus expulsou Satanás do paraíso. Parece que afinal, o "padre" nunca foi realmente um padre mas sim um homem que, tal como Allison, se tentou suicidar e a quem é dada a opção de se tornar guardião dos portões do Inferno e expiar o pecado, ou enlouquecer e depois ir arder nas labaredas do Inferno por se ter tentado suicidar.
The Sentinel (1977) |
A mesma "opção" é dada a Allison e é neste momento que fica claro o papel dos vizinhos: se ela se suicidar, deixa de haver quem substitua o sentinela anterior e o Inferno poderá marchar sobre a Terra.
Pessoalmente achei que havia aqui uma tremenda falha no planeamento por parte da Diocese... Então não têm uma sentinela de back-up? Imaginem que Allison se matava ou que dizia que não estava para passar não sei quantos anos sentada numa cadeira a proteger os portões do Inferno... Já que têm um edifício cheio de apartamentos vazios, não fazia mais sentido alugarem aquilo aos candidatos ao cargo? Não só rentabilizavam os apartamentos como ainda conseguiam escolher a pessoa mais adequada para o cargo.
Também não percebi a razão para Allison ter envelhecido e cegado subitamente quando aceitou o cargo de sentinela. Já o seu predecessor apresentava as mesmas caraterísticas mas sempre julguei que fosse por estar há imensos anos sentado na cadeira a vigiar os portões do inferno. Parece que afinal não. Pode até ter começado no cargo a semana passada! Portanto, já não bastava agora ter de estar não sei quantos anos fechada num apartamento sem mais nada para além de uma cadeira, ainda é transformada numa espécie de cadáver vivo...Tudo isto para expiar o pecado da tentativa de suicídio.
Por fim, um outro detalhe que fica sem explicação: como raio é que a igreja conseguiu "gravar" - usando aqui a expressão de Michael - informação na mente de Allison? Primeiro, fazendo-a ver e responder a um anúncio que nunca existiu. Depois, fazendo com que ela visse um texto que não correspondia ao que estava realmente impresso no livro. A parte do sentinela e dos portões do Inferno ainda aceito, mas achei que esta explicação foi muito metida aqui "à pressão".
Ainda assim, e apesar destas incongruências, foi um livro que gostei realmente de ler e quanto mais me aproximava do final, mais impaciente ficava para descobrir como terminava e cheguei a acordar durante a noite a acender a luz para ler mais umas páginas. Mas já sabem que eu adoro livros de terror!
Assim sendo, The Sentinel (1974) é um livro que recomendo sem reservas a todos aqueles que procuram um livro que junta o que de melhor há nos clássicos de terror dos anos 70. Se são fãs de livros como A Semente do Diabo (1967) ou O Exorcista (1971) vão certamente gostar deste!
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