WarGames (1983) de David Bischoff

by - abril 05, 2019

David BischoffDavid Bischoff
★★★☆☆

Sinopse: 
O jovem David Lightman entretém-se com o seu computador. 
Acaba de alterar a nota de biologia do liceu.
Perscruta agora o país à procura dos últimos jogos electrónicos.
Mas não sabe que está prestes a penetrar no sistema de defesa computadorizado americano.
Para David, será apenas mais um jogo ... 
[Fonte: BISCHOFF, David. WarGames. Mem Martins: Publicações Europa-América, 1983]


Opinião:
Sabem quando vão a uma livraria para comprar um título muito específico mas depois começam a olhar para as prateleiras ... e chegam à conclusão que afinal também vão precisar daquele outro que ali está ?

Pois. 
Foi assim que este WarGames me veio parar às mãos. 
Tinha passado pela livraria Europa-América para ver se tinham A Penúltima Verdade, de Philip K.Dick, e no meio dos livros de ficção científica estava lá este WarGames, o livro que inspirou o Armada de Ernest Cline. Ora, a vantagem de se comprar livros de bolso é que não são particularmente caros e portanto, mesmo que nos estiquemos um bocadinho, não é nada que tenha como consequência ter de andar a comer noodles o resto do mês. E pronto, lá veio mais um livro para enriquecer a colecção.

O livro é bom mas não era aquilo de que eu estava à espera.
E digo-o de forma bastante literal. Em primeiro lugar, porque por alguma razão, tinha ideia que a história era mais ao estilo O Jogo Final de Orson Scott Card, que está na minha lista de próximas leituras. Em segundo lugar, porque achava que tinha sido este livro a estar na origem do filme WarGames, mas parece que neste caso foi o contrário.


Orson Scott CardOrson Scott Card

Mas, apesar de não ter sido aquilo de que estava à espera, não posso dizer que WarGames tenha sido um mau livro. É fácil criarmos empatia com as personagens, a acção decorre a um bom ritmo e é inegável que ali para o final há uns momento de alguma tensão... ora, tudo isto somado, faz com que seja um daqueles livros difíceis de pousar, visto que estamos sempre à espera de descobrir o que virá a seguir.

A história passa-se nos Estados Unidos dos anos 90.
A Segunda Guerra Mundial já terminou há cerca de 50 anos, mas o Departamento de Defesa mantem-se a postos, considerando sempre a hipótese de um ataque surpresa por parte dos russos. De forma a assegurar e avaliar a capacidade de resposta, os militares levam a cabo várias simulações, mas rapidamente chegam à conclusão que « vinte e dois por cento dos seus comandantes de mísseis não dispararam quando isso lhes foi ordenado » (pg.27).

« O problema é que não se pode ter a certeza de quais serão as respostas humanas. (...) O que nos temos de fazer, meus senhores, é tirar esses homens do caminho. » (pg. 27)

 

A solução encontrada, passava então por automatizar essa resposta, utilizando para esse efeito um programa chamado WORP (War Operation Plan Response) que « pensa na terceira guerra mundial vinte e quatro horas por dia, e trezentos e sessenta e cinco dias por ano » (pg.29), e que tomou já « decisões chave sobre toda e qualquer opção concebível numa crise nuclear » (pg. 29), o que leva a que o Dr.McKittrick, responsável pelo sistema informático, o considere como « o melhor general que temos, a nossa melhor aposta » (pg.29).

Já estão a ver mais ou menos onde é que isto nos vai levar, certo ?
Um computador com capacidade para tomar decisões sozinho ... mísseis ...

E então que entra em cena David Lightman, um jovem de 17 anos, que frequenta o Liceu Humphrey em Seattle e que corresponde àquela ideia do geek dos anos 80. Um aluno medíocre mas com potencial para muito mais, não fosse dar-se o caso de ter alguns problemas de comportamento e uma total falta de interesse nas matérias leccionadas. Para David, a sua vida gira em torno dos computadores e dos jogos de arcada e será precisamente um jogo que o fará envolver-se numa história com uma dimensão muito mais abrangente do que ele poderia imaginar.

O gatilho foi a notícia publicada na revista Cool Computer: 


ESTE VERÃO A PROTOVISÃO DEU UM SALTO QUÂNTICO NOS JOGOS DE COMPUTADOR

Depois disto, o plano de Lightman era claro: « tudo o que tinha a fazer era entrar em contacto com o computador da Protovisão, servir-se do seu programa especial para iludir qualquer obstáculo, chamar aqueles jogos novos, e copiá-lo para uma ou duas diskettes » (pg.42).


Para um hacker como David, isto era um desafio. Afinal de contas, ele já estava habituado a aceder à base de dados do liceu para alterar notas e estava convencido que conseguiria também sacar o novo jogo antes de qualquer outra pessoa ter acesso a ele.

Mas, as coisas começam a descontrolar-se quando, sem saber, acede ao WORP (War Operation Plan Response) e começa a jogar a Guerra Termonuclear Global. Assim, enquanto que no seu quarto David decidia ser a equipa russa e lançar um ataque nuclear em grande escala aos Estados Unidos, o Centro de Operações Especiais recebia esses alertas como se de um ataque real se tratasse. E já sabemos que, numa situação destas, dificilmente alguém ficaria de braços cruzados à espera de ser atacado... 

Como vos disse, é um livro animado, com um bom ritmo mas... não sei se estarei a ficar velha ... achei-o demasiado juvenil e com muitos lugares comuns: o par improvável que se junta, o puto anti-social que afinal até se vem a descobrir ser um tipo muito inteligente, em contraste com a aparente estupidez de todas as outras pessoas, e claro, os obstáculos que ele enfrenta e supera! Um puto contra militares treinados em instalações de alta segurança, e adivinhem quem sai vencedor ?


O livro perde, sobretudo, por ser extremamente previsível mas, lá está, WarGames é de 1983 e acredito que na altura em que foi publicado tenha sido visto como inovador... Hoje em dia é que o conceito da inteligência artificial já está um bocadinho batido. Ainda assim, se não tiverem mais nada para ler, WarGames é uma opção visto que se lê bem e, à sua maneira, acaba por entreter.


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